Especial Festival Varilux de Cinema Francês 2016
por Cristiane Costa, crítica de Cinema MaDame Lumière
Dizem que um filho homem não pode viver sem uma mãe, a diferença é que ele a substitui por uma esposa ou qualquer outra pessoa que possa cuidar dele. Por mais sexista que esta constatação seja, há um fundo de verdade na velha história que diz que há homens que não conseguem cortar o cordão umbilical com suas mães e apresentam um aparente complexo de Édipo ou, no mínimo, são mimados e egoístas demais para deixar suas mães viverem em paz e felizes.
Por outro lado, nem sempre a responsabilidade por esse marasmo é apenas do homem. Há inúmeras mães que tratam seus filhos como se fossem eternos bebês, são controladoras e insuportavelmente condescendentes com eles. É por isso que "Lolo, o filho da minha namorada", dirigido pela encantadora Julie Delpy é uma comédia hilariante e mostra o terror deste tipo de relação.
Para algumas pessoas, certamente, esta será uma comédia boba e descartável. De fato, ela é bem despretensiosa e o tema é aparentemente irrelevante, mas engana-se quem a julga antes de assisti-la. O que a torna uma diversão imperdível é a ridícula situação de Lolo (Vincent Lacoste), um jovem chato, mimado e metido à artista moderninho que boicota todos os relacionamentos de sua mãe Violette (Delpy), uma mulher na faixa dos 40 anos, produtora de moda e divorciada. Quando Violette viaja com sua amiga Ariane (Karin Viard) e conhece Jean- René (Dany Boon) , um técnico de informática da região de Biarritz, um aparente "caipira" que nunca viveu em Paris, ela se joga na relação. Como consequência, Lolo está convicto de que fará de tudo para destruir o namoro de sua mãe.
Com esta cara de louco, ninguém quer ser o padrastro de Lolo!
Vincent Lacoste está com uma cara bem blasé . Insuportavelmente chato em cena, ele atua como aqueles filhos que acham que o mundo está à sua disposição, que apenas interessa fazer a sua Arte nada sedutora e exibir nas galerias de Paris com gente igualmente chata e moderninha como ele. Ele é o tipo de filho que trata a mãe como um ativo fixo com uma etiqueta escrita "pertence ao Lolo". Em contrapartida, por ele aterrorizar um cara bacana e muito bem interpretado pelo engraçadíssimo Dany Boon, a dinâmica cômica deu muito certo. A direção de Delpy impõe um ritmo rápido e envolvente à ação e o roteiro é objetivo no desenvolvimento do argumento. A intenção aqui é mostrar o ciúmes e atitudes endiabradas de Lolo. Não haverá grandes atos de boicotagem, apenas contínuas armações de Lolo que age como uma criança mimada.
A natureza das ações de Lolo são tão abobalhadas, o que representa um acerto, pois apenas um menino que não cresceu seria capaz de pregar peças tão óbvias e ridículas como as que ele faz. Colocar armações muito pueris foi uma grande sacada do roteiro por adicionar a dimensão da imaturidade de Lolo. Ele é uma criança grande e chata! Mais uma vez, este é o tipo de comédia que parece ter sido feita para o público não pensar, apenas rir, então faça isso! Ela é bem eficiente e não finge ser algo que não é. É absolutamente uma exposição sádica de um jovem que não quer sair da barra da saia da mãe e deseja eliminar Jean-René de qualquer maneira, logo, cenas entre os três atores no mesmo plano serão raras, o que é um ponto compreensível em relação à atitude de Lolo e, também desfavorável no desenvolvimento das discussões interpessoais em novas configurações de família.
Se quisermos levar esta comédia mais a sério, cabendo a nós mais uma útil reflexão familiar depois de toda a palhaçada, ela deixa evidente que filhos que boicotam os relacionamentos afetivos dos pais existem aos montes. É sempre uma situação delicada para os parceiros já que, os próprios pais reforçam esta co-dependência ao defender seus os(as) filhos(as) demasiadamente e não se atentar às suas falhas, fingimentos e boicotes. Felizmente, o filme deixa este aspecto um pouco mais suave porque Violette está apaixonada. Como Julie Delpy é uma atriz agradável, com uma incrível presença que reforça a sua simpatia e naturalidade, o romance dela com Boon dá muito certo em cena e acaba harmonizando bem os aspectos românticos da relação. Ela é uma mãe protetora que, não apenas ama o filho, mas está apaixonada por Jean-René, que deseja seguir a sua vida, casar ou morar junto com o amado. Desta forma, quem efetivamente sobra na história é o Lolo que, aliás, precisa de terapia ou ir morar sozinho.
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