“Todos temos de nos
unir uns pelos outros” (Meryl Streep)
Por Cristiane Costa, Owner, Editora e Crítica de Cinema MaDame Lumière e Especialista em Comunicação Empresarial
12 de Dezembro de 2015 é uma data de
conquista para eleitoras e candidatas às eleições em um dos países mais
tradicionais do mundo: A Arábia Saudita. Pela primeira vez na história do país,
as mulheres conquistaram o direito ao voto e aos cargos elegidos por ele. Uma
tímida conquista em comparação às realizações de anos de luta das mulheres pelo
protagonismo em diversas áreas do conhecimento e da sociedade em geral, entretanto, um
grande passo para ter direitos essenciais ao exercício da cidadania e uma evolução na igualdade do gênero em uma pátria que
pouco lhes dá voz.
Se a Arábia Saudita apenas cedeu o
direito ao voto às mulheres em pleno século XXI, na Inglaterra, entre o final
do século XIX e início do XX, “As Sufragistas”, um grupo de mulheres se colocou diante da autoridade presunçosa e machista da época e
lutou pelo direito ao voto. Resistindo à opressão e a humilhação, principalmente, as vindas de homens poderosos como políticos e juízes, da polícia, de empregadores e, até mesmo, de seus maridos, As Sufragistas se
rebelavam de forma passiva contra um amplo sistema misógino que tinha como
objetivo calar a voz da liberdade feminina.
Inspirado por esse movimento, a
roteirista Abi Morgan (de “A Dama de Ferro”) e a diretora Sarah Gavron (ganhadora
do BAFTA) encabeçam a liderança do drama “As Sufragistas” (Suffragette),
estrelado por um elenco grandiosamente feminino e formado por atrizes
fantásticas como Carey Mulligan, Helena Bonham Carter e Anne-Marie Duff, além de
uma participação especial de Meryl Streep e de experientes atores como Brendan
Gleeson e Ben Whishaw. Na história, Maud Watts (Mulligan) trabalha em uma lavanderia
em péssimas condições de trabalho desde a infância. Após testemunhar uma jovem
colega como vítima de assédio pelo chefe e reconhecer uma colega como
manifestante das Sufragistas, Maud decide unir-se à causa e tem uma reviravolta
em sua vida, afetando diretamente seu casamento com Sonny Watts (Whishaw) e a convivência
com o seu filho pequeno. Muito além da causa coletiva, o longa-metragem toca em questões
como a liberdade de escolha e as renúncias que mulheres têm feito em suas
trajetórias pessoais para ter dignidade e novas conquistas.
“As Sufragistas” é uma produção que
chegou em uma boa hora. Não apenas pelo momento de eleições na Arábia Saudita,
um país que tem calado muitas mulheres com uma política extremista que não
separa o Estado da Religião , mas também porque é um filme inspirador para a
igualdade de gênero e o empoderamento feminino dos últimos anos. Concebido por
uma dupla de mulheres vencedores no audiovisual, a narrativa concilia três
perspectivas necessárias: a luta pelo voto, o direito à escolha e ao ativismo,
a opressão e a resistência do sistema, respectivamente, as naturezas coletiva,
individual e social do drama, desta forma, embora o longa não tenha um roteiro e direção
excepcionais, a natureza da proposta
pode ser comparada ao que Ava DuVernay fez em “Selma”. Ambas as diretoras recortaram um
momento e um movimento histórico e trabalharam com os elementos contextuais em cena,
mesclando os dramas individuais da protagonista (Maud) e demais colegas com o grande antagonista em
jogo, o próprio sistema impregnado de preconceitos e de resistência que mina os
direitos dos indivíduos e reforça a desigualdade social.
O grande peso da atuação é de Carey
Mulligan e sua Maud que, abre mão de sua vida ordinária e submissa, para lutar pela
transformação social. É uma grande atriz, de incrível sutileza para encarnar
personagens corajosas e que, em alguma fase da vida, decidem mudar, como foi o
caso de sua personagem em “Uma educação”, de Lone Scherfig. Neste tocante drama feminino, ela faz o papel de mãe, esposa,
trabalhadora e ativista. Em cada uma das cenas que mais exigiram uma intensa
carga dramatúrgica, principalmente as com o filho e com o marido, ela demonstrou
mais uma vez ser uma das melhores atrizes de sua geração.
"As sufragistas têm aquela habilidade de abstrair as suas
próprias necessidades e dedicar sua vida às necessidades das gerações
posteriores” (Carey Mulligan)
Por outro lado, a rápida aparição de
Meryl Streep, emocionante e inspiradora, além da participação de Helena Bonham
Carter poderiam ter sido mais exploradas pelo roteiro, que ainda se mostrou
conservador. Existe uma forte preocupação da diretora em trabalhar as emoções
individuais de Maud e, no plano coletivo, mostrar o embate físico das mulheres
quando confrontadas pela Polícia. Nestes planos, a diretora realiza um bom trabalho
que lembra as decisões tomadas por Ava DuVernay em "Selma" para mostrar os bastidores de
uma reinvindicação com agressão policial. No entanto, com relação ao
desenvolvimento da história, o filme tinha potencial para explorar melhor as estratégias das Sufragistas e os seus bastidores. Em alguns momentos, fica claro que o movimento era passional e amador e não havia uma organização estratégica para a ação, o que acabou por empobrecer a manifestação de uma melhor inteligência ativista. Se a líder, no papel de Meryl Streep, tivesse aparecido mais em cena, o longa ganharia na valorização da causa. Provavelmente, ou
faltou material histórico ou foi uma opção da dupla Gavron – Morgan. Ainda
assim, o drama tem cenas de intenso valor emocional e, certamente, muitas
mulheres terão empatia não apenas com a causa, mas sentirão na pele como é
desafiador ser uma mulher e, ao mesmo tempo, como é libertário e maravilhoso.
As Sufragistas vem a acrescentar uma
pérola aos lançamentos cinematográficos do final de ano e está previsto para estreia no Brasil em 24 de Dezembro. É como um presente inspiracional
e motivacional para as mulheres, inclusive as jovens, que podem assistir a como
a luta das mulheres atravessa séculos e geografias e permanece em contínua
expansão e desafios. O longa também é um ótimo material de reflexão para os
homens e, de como as instituições, em grande parte, masculinas, também são
responsáveis por dificultar o acesso das mulheres a melhores direitos e
benefícios e, portanto, os homens têm grande responsabilidade em facilitar o processo de
empoderamiento feminino. A luta continua, então, avante, mulheres e homens! Sejamos cada vez mais irmãos pela luta da igualdade de gênero!
Ficha técnica do filme ImDB As Sufragistas
Distribuição: Universal Pictures
Lançamento nacional: 24/12/2015
Editora: Cristiane Costa aka MaDame Lumière
Fotos: uma cortesia Universal Pictures
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