Por Renato Alves
Jornalista, historiador e escritor de quatro contos independentes.
De uma forma geral, o cinema brasileiro é
criticado por tramas fracas e o padrão de televisão existente nas obras. Porém,
discordo totalmente, apesar de respeitar. Particularmente entendo de que
precisamos perder essa construção, radical e fria, de que todas as produções
cinematográficas nacionais, para serem merecedoras de elogios, dos críticos, precisam
ser densas, reflexivas ou chatas. Sou a favor da mescla entre o sério e o bom
humor. A reflexão e a brincadeira.
No dia 17 de novembro fui ao “1º Espaço Educação,
Arte e Literatura”, em Praia Grande, lançar meu livro “Rainhas”. Entre as
diversas perguntas que me fizeram uma, de um jovem de aproximadamente 15 anos, me
marcou: “como valorizar a cultura e o cinema nacional com tantos produtos
estrangeiros chegando ao Brasil”?
Paulo Miklos, grande experiência na música e no cinema Brasileiro,
agora no elenco de "Califórnia"
Em minha resposta tentei ser direto e realista: Precisamos
conhecer mais a cultura brasileira. Não somente os produtos que a grande mídia nos
apresenta através de embalagens enlatadas e direcionadas. Valorizar a arte
nacional fará com que o país tenha orgulho de si mesmo. De forma natural.
Conhecer o Brasil é se apaixonar por si mesmo.
O curioso é que eu tinha feito praticamente essa
mesma pergunta ao Produtor Diler Trindade no extinto programa Sala de Cinema –
TV Sesc – anos atrás, e a resposta dele foi muito semelhante à minha.
O público precisa conhecer, de verdade, a
tradição brasileira. Do cinema, a literatura, a música, etc. Fico abismado de
como o povo brasileiro, em sua grande maioria, não veste suas raízes na alma.
Digo isso tudo porque fico abismado como o cinema nacional possui joias raras,
que retratam nossas raízes e valores e que não conseguem obter o sucesso
merecido. Produções sensíveis, densas, históricas e que precisavam ser
valorizadas e guardadas no coração do povo brasileiro. A cada bobagem
estrangeira que sai em todas as salas de cinema, perdemos espaço para bons
filmes e produtos nacionais. Quem assistiu “Narradores de Javé”, por exemplo?
Agora, vamos falar do filme
“Califórnia”, sob minha ótica:
Se a primeira impressão é a que fica, como diz o
ditado, parabéns para a estreia de Marina Person em seu primeiro filme de
ficção – antes a cineasta tinha dirigido o documentário Person (2007).
Juventude e nostalgia dos anos 80, dois pontos fortes do longa
Filme afetuoso e nostálgico que traz um retrato
do Brasil, na década de 80. E o mais apetitivo, a meu ver, é que faz esse
retrato sem levantar julgamento ou perguntas. A obra nos traz almas e
descobertas. Não é uma obra espetacular, digna de Oscar e inesquecível.
Entretanto, porque não podemos apenas assistir a um filme com o resgate da década
de 80, onde tudo é homenagem e nostalgia?
Raul Seixas cantou na sua música “Anos 80”: -“Hey!
Anos 80! Charrete que perdeu o condutor”. Ousaria dizer, através de liberdade poética,
que Marina Person, em termos cinematográficos, soube ser uma boa condutora. A
cineasta foi condutora através de uma trilha sonora saborosa (que me levou a
muitas viagens no tempo) e um roteiro charmoso e afiado, vencedor do Prêmio da
categoria no Mix Brasil 2015.
Caio Horowicz e Clara Gallo, destaques na nova geração de atores no Cinema Brasileiro
A diretora merece aplausos também pelo trabalho de
inspiração com o elenco, que tem conquistado prêmios de Melhor Ator Coadjuvante
– Caio Horowicz, no Festival do Rio 2015 e de Melhor Interpretação para Clara
Gallo, no festival Mix Brasil 2015. Paulo Miklos (que tem se mostrado um ótimo
ator desde “O Invasor”), dessa vez, faz o papel de pai sério, contraste absoluto
dentre suas músicas rebeldes no auge do grupo Titãs.
Elogios acalorados e sinceros também a bela direção de arte do filme, trabalho de Ana Mara Abreu. Cada boneco presente na tela é um espelho do interior de quem viveu o auge da década onde o mundo descobria a AIDS. No meu olhar só faltou algum boneco do Playmobil.
Caio Blat, crível e experiente a cada atuação, sensibilidade em cena
Entre as cenas que mais apreciei citaria a que o personagem de Caio Blat toma sorvete com a sobrinha e tenta, mas, não
consegue, dizer o que sente. Ele tenta gritar e expor a sobrinha a dor que
sente ao estar doente. Ele quer pedir socorro. Porém, sua fragilidade, como a
de todos os humanos, o impede. Retrato da dificuldade de diálogos entre toda
humanidade.
Não o percam! É uma viagem nostálgica e deliciosa.
Vamos abrir o espaço que o cinema nacional quer e precisa para ser mais descoberto. Urgente.
Distribuição: Vitrine Filmes
Lançamento nacional: 03/12/2015
Editora : Cristiane Costa aka MaDame Lumière
Fotos: uma cortesia - "Califórnia", o filme
Gostei do filme.
ResponderExcluirSonia Alves
Não era tão bom como me disseram ou quanto o Renato recomendou no texto.....mas, é melhor do que a média nacional.
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