Sou MaDame Lumière. Cinema é o meu Luxo.

20º Festival É tudo Verdade 2015 (It's all true) Acompanhe uma seleção de documentários no MaDame Lumière Docum...

É tudo Verdade 2015: O Conselho ( Al Majlis/ The Council) - 2014



Acompanhe uma seleção de documentários no MaDame Lumière



Documentário observa a convivência de alunos 
em uma escola primária Palestina



Por Cristiane Costa



Sob a direção de Yahya Alabdallah,  O Conselho (Al Majlis/The Council, 2014) é um documentário sobre o funcionamento de uma escola primária para refugiados palestinos na região de Sukhna, na Jordânia. O seu título (e argumento) vem do "Majlis" (Conselho, na cultura Islâmica) que é um conceito relacionado ao agrupamento e inter relacionamento de pessoas em atividades de interesse comum e coletivo, que é o que se passa na escola em foco: a UNRWA.

 

Inicialmente, o filme é incômodo por uma razão bem simples: o realismo da miséria da escola e do seu entorno, focalizando como questões básicas são negligenciadas como melhor alfabetização e saneamento básico. De câmera na mão ou com câmera posicionada nos bastidores da escola como uma testemunha ocular e invisível, o longa aborda os modelos de convívio como a  rigidez das normas, o tratamento cultural diferente entre meninos e meninas, abuso sexual, bullying, dificuldades de aprendizagem escolar, eventos escolares, entre outros.



O filme é bem construído com a ideia sistêmica do Majlis. Os alunos começam a formação de um conselho de estudantes para as eleições. Dois alunos, Abed e Omar, são os candidatos à presidência deste conselho. Eles são os protagonistas porém, no decorrer do documentário, o protagonismo é compartilhado e variados alunos participam, sempre abordando realidades do cotidiano escolar;  umas mais culturais como a organização de uma festa, outras mais engajadas no bem estar do entorno como o tratamento do lixo e, assim, o espectador é levado a observar essa realidade  dos alunos que, mesmo carentes, não lhes tira a participação diária de construir seus espaços colaborativos  de Educação e convívio político e social.




 Uma cultura Islâmica a ser observada, refletida e compreendida.



Ainda que seja um documentário bem realista, atual e baseado na espontaneidade dos alunos, algumas cenas têm um discurso preparado, principalmente porque algumas crianças têm dificuldades de ler e escrever e, depois, chegam a falar formalmente como se fossem adultos bastante letrados, engajados e politizados. Por mais que o retratado seja bem real, há uma reprodução de discursos pelos alunos, provavelmente foi intencional e usado como manobra crítica ou criação de uma narrativa documental que joga com a ficção e a realidade criando mecanismos para driblar a liberdade de expressão na Palestina. 


Como uma das perspectivas críticas possíveis, esse recurso bebe do discurso "politicamente correto" usado pelas autoridades e pelo povo e faz uma boa jogada com a falta de Educação dos alunos de escolas simplórias, que são abandonadas pelo governo e apresentam claras e básicas deficiências em seu funcionamento. Sem dúvidas, esse é um recurso interessante para um produto audiovisual como o documentário e um cenário Islâmico, mas também, ele soa estranho e engraçado em como algumas crianças se expressam; dessa forma, lança a incógnita na experiência com o filme: o que é fala realmente espontânea? Apesar das aparentes lacunas, O Conselho é bem vindo porque dá voz às crianças, seja ela real ou ficcional, é um grande passo em uma cultura Oriental que intimida a liberdade  das individualidades. É sabido que cineastas criam estratégias narrativas em seus  filmes para driblar censuras locais em países de culturas rígidas.


A simplicidade dos alunos é comovente e tem mais condições de estabelecer e manter o interesse do público. A variedade de crianças que trazem várias problemáticas é o diferencial dessa convivência escolar pois são ali , alunos comuns, uns mais extrovertidos, outros mais introvertidos, outros mais problemáticos, outros menos.  No geral,  o longa começa bem e, depois, perde a chance de trabalhar melhor a edição no seu desenvolvimento. É o tipo de montagem que corta para vários planos de forma muito rápida, amplia a visualização da convivência sem querer perder nada, mas peca na continuidade das cenas.  O resultado é uma edição caótica e com deficiências de linearidade e coesão narrativas, com um emaranhado de situações da vida escolar que poderiam ter sido melhor trabalhadas na montagem final para favorecer quem está do outro lado da Tela. Ainda assim, O Conselho é um bom e espontâneo documentário para analisar mais um microcosmo da instituição Educação no mundo e como se dá a formação de um Majlis estudantil, além de possibilitar refletir sobre o cotidiano escolar e suas debilidades.






Ficha técnica no ImDB Al Majlis / O Conselho

0 comentários:

Caro (a) leitor(a)

Obrigada pelo seu interesse em comentar no MaDame Lumiére. Sua participação é muito importante para trocarmos percepções e opiniões sobre a fascinante Sétima Arte.

Madame Lumière é um blog engajado e democrático, logo você é livre para elogiar ou criticar o filme assim como qualquer comentário dentro do assunto cinema e audiovisual.

No entanto, não serão aprovadas mensagens que insultem, difamem ou desrespeitem a autora do blog assim como qualquer ataque pessoal ofensivo a leitores do blog e suas opiniões. Também não serão aceitos comentários com propósitos propagandistas, obscenos, persecutórios, racistas, etc.

Caso não concorde com a opinião cinéfila de alguém, saiba como respondê-la educadamente, de forma a todos aprenderem juntos com esta magnífica arte. Opiniões distintas são bem vindas e enriquecem a discussão.

Saudações cinéfilas,

Cristiane Costa, MaDame Lumière