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20º Festival É tudo Verdade 2015 (It's all true) Acompanhe uma seleção de documentários no MaDame Lumière  Por Cristi...

É tudo Verdade 2015: PEKKA - Inside the mind of a school Shooter ( 2014)


Acompanhe uma seleção de documentários no MaDame Lumière 





Por Cristiane Costa


Em um primeiro olhar idealista, as pessoas pensam que  cidades europeias, principalmente as tranquilas e com boa qualidade de vida, estão salvas das tragédias, porém isso é uma ilusão. Todos estão expostos à violência, muitas vezes inexplicáveis ou até mesmo anunciadas como é o caso da história de PEKKA - inside the mind of a school shooter, documentário Holandês dirigido por Alexander Oey, experiente documentarista com mais de 20 filmes em seu background. Nele, Oey aborda a tragédia ocorrida em uma pequena cidade próxima à Helsinque (Finlândia) em 2007, na qual o jovem Pekka Eric - Auvinen, de 18 anos, matou 8 pessoas em uma escola em Jokela e depois, se suicidou. 


Assim como crimes cometidos por jovens adolescentes em escolas como os filmados em Elefante (2003), de Gus Van Sant, e Tiros em Columbine (2002), de Michael Moore, PEKKA é um longa que lida com um material investigativo que tenta montar uma "big picture" do caso, com foco em entender quem era o jovem atormentado e solitário e  quais eram suas condições sociais, familiares e mentais na época. Não há julgamentos do diretor, porém há diferentes pontos de vistas,  algumas evidências recorrentes em casos como esse como bullying, solidão e isolamento social e outros comportamentos extremistas e/ou violentos que moldam o jovem como a compra e treino com arma de fogo, afinidade por ideologias  e tendências suicidas . 


O longa é bem acertado na pesquisa e não transforma o documentário em um programa de investigação policial e nem com apelo midiático. Pelo contrário, os depoimentos são com pessoas comuns, mais próximas, ou familiares. Ele tem o cuidado de incluir membros diversos da comunidade como professores, ex-alunos e os pais de PEKKA, além de relatos de uma amiga virtual, dos comerciantes onde o jovem comprou a arma do crime e depoimentos de outras fontes como os da igreja e da comunidade científica, portanto, há um senso de seriedade no material de pesquisa e respeito pela memória de PEKKA e, também, por seus pais. Para completar, o diretor mantém um clima de suspense, bem trabalhada nos cortes de edição. Não é um documentário que tem o intuito de trazer polêmica ao tema, sua intenção é meramente se aproximar de diferentes elementos sobre PEKKA, que possam desenvolver as condições da tragédia.




Pekka Eric- Auvinen , o atirador da escola de Jokela.
Como compreender o que se passa na mente de jovens como ele?


No geral, o que vale no filme é observar que, acima de tudo, haverá sempre um  sentimento de incompreensão de todos diante de uma tragédia como a de Jokela. Ninguém saberá qual foi a motivação principal de PEKKA e o que se passava em sua mente turbulenta, nem mesmo o público. Mesmo com pais mais tradicionais, ele foi bem criado, tinha um lar estruturado, vivia em uma cidade calma e reconhecida como boa para educar crianças, logo à primeira vista, o documentário já  demonstra que atiradores de escola podem sair de qualquer tipo de lar. 



Se por um lado, o espectador é colocado como um observador a tirar suas próprias conclusões ou não, por outro lado, o longa evidencia uma certeza: PEKKA já apresentava problemas mentais sérios, comportamentos duvidosos que envolve o tema "shooters" e seu interesse por grupos sobre os atiradores de Columbine. Todos esses problemas foram negligenciados ou PEKKA não dava espaço para que outros pudessem ajudá-lo. É óbvio que sua síndrome do pânico, seu (provável) autismo, sua solidão, seu jeito introspectivo não o torna um assassino, mas ele era um jovem que, de alguma forma, gritava por socorro e não sabia como se expressar.  Ainda que ninguém imaginasse o que ele seria capaz de fazer, ele deu pistas de que não estava bem. Sofria também de bullying, o que demonstra que a escola pode ser um lugar perverso quando jovens são atormentados e destruídos por ser diferentes dos demais. 


Segundo Alexander Oey, as pessoas foram resistentes a falar sobre o caso para o documentário. Felizmente, através de um membro da comunidade de Jokela, Alviina Alametsa, o diretor conseguiu espaço para realizar o longa. Normalmente, diante de tragédias, o ser humano tende a entrar em negação ou esquecimento exatamente para não enfrentar dores, mágoas, arrependimentos e, em especial, memórias de situações trágicas que não podem ser consertadas. Diante de um documentário que trata de juventude e tragédia escolar, cabe ao público refletir sobre esses variados depoimentos sobre PEKKA e não ficar em silêncio, ou seja, trazer o tema para o próprio entorno em que vive, formar massa e reflexão crítica e, dentro de seu papel social e familiar, estar atento a como os jovens se sentem, como agem e reagem aos desafios da adolescência e da maturidade.







Ficha técnica do filme ImDB PEKKA 



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