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Documentário sobre um dos polêmicos assassinatos ocorridos na Finlândia
Por Cristiane Costa
Chamada de Emergência (Ulvilan Murhammysteeri, 2014) é um documentário Finlandês, dirigido por Pekka Lehto e baseado em um polêmico crime ocorrido na cidade de Ulvila, no oeste da Finlândia. Na história real, Anneli Auer é acusada de assassinar o marido em casa e ter se livrado da arma do crime. Mesmo sendo a pessoa que ligou para a polícia e afirmou que a casa foi invadida pelo assassino, contando com a declaração da filha mais velha como testemunha, Anneli Auer foi condenada e absolvida várias vezes em um caso de idas e voltas, muito mistério e contradições.
O diretor convida o público a observar as investigações através do histórico documental de arquivos, depoimentos da polícia, réu e sua filha, criando ainda mais uma confusa teia de mistério para o espectador. Isso ocorre porque ele opta por não tomar partido de exatamente nada, logo sua direção é baseada em uma visão imparcial, de um mero observador, o que traz como vantagem jogar as cartas na mesa e esmiuçar como algumas declarações investigativas colocam à prova a veracidade de qualquer processo investigativo, principalmente em uma cidade pequena da Finlândia, que normalmente tem pessoas com mentalidades arraigadas e provincianas. Por mais que a investigação tenha detalhes absurdos e reviravoltas surpreendentes, a escolha do diretor, por realizar um documentário dos bastidores de um crime polêmico e não resolvido, evidencia que esse se trata de um caso bizarro que desafia a própria polícia e o sistema judicial.
Anneli Auer : Anjo ou demônio?,
a réu de um dos casos mais bizarros da história criminal da Finlândia.
Chamada de emergência não se trata de um documentário com potencial de conquistar o público com força documental pois tem um misto de programa de investigação criminal com documentário. A montagem é mais convencional e não inova na edição. O próprio registro deixa a desejar e não apresenta variadas evidências de arquivos e imagens de época. O diretor chegou a um ponto tão claro de imparcialidade que ele não inclui declarações de pessoas como amigos, parentes e outras do convívio de Annelie Auer e o ex-marido morto, o que, de certa forma, empobrece a análise sobre quem é a réu, como era a relação do casal e da família e como o mistério poderia ser resolvido.
A vítima: o documentário não apresenta informações
sobre a relação do casal. Ponto desfavorável para o filme.
Por outro lado, como virtude, ele é incômodo à medida que as declarações de ser inocente ou culpada ganham uma dimensão muito mais pessoal do que para o bem coletivo de encontrar o assassino, como por exemplo, é possível analisar que a própria réu coloca em dúvida sua inocência pois é uma mulher de personalidade fria, racional. A promotoria age com uma postura de condenação a qualquer custo e não impõe argumentos convincentes e sólidos. A investigação tem um histórico de vários investigadores e muitos pontos de vista que colocam em risco a coerência dos fatos, além disso o caso inclui outras acusações como práticas de satanismo e abuso sexual, portanto o documentário chega a um ponto de bizarrices sem apresentar provas consistentes.
Sob uma perspectiva bem crítica sobre investigações criminais, Chamada de emergência é mais um caso que dificulta o veredito final e se perde em suas próprias provas. Nesse sentido, o documentário tem seu pequeno grau de eficácia porque ele faz o público refletir sobre o desafio de desvendar um crime misterioso, de como é difícil lidar com o ser humano e sua capacidade inerente de dizer verdades e mentiras e de facilitar ou complicar situações, mas também o documentário expõe as vulnerabilidades que se criam no processo investigativo, normalmente cheio de incoerências e dúvidas e, portanto nada objetivo. Infelizmente, investigações como essa são comuns no sistema judicial, que pode condenar culpados e inocentes.
Ficha técnica do fime no ImDB Emergency Call
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