A Arte em variadas formas de expressão é uma maneira de aproximar as pessoas. Aquela puxada de assunto sobre um filme, uma música ou um livro, espontânea e descontraída, pode ser um grande passo inicial para uma amizade, para desenvolver uma empatia ou carinho muito especial por alguém, para descobrir mais de si e do outro. Minhas tardes com Margueritte ( La tête en friche) é um desses exemplos que conectam as pessoas. O longa de Jack Becker traz o experiente e excelente ator Gérard Depardieu e a encantadora Gisèle Casadesus em um encontro inesperado quando em vespertino momento de descanso, eles começam a conversar em uma praça.
Ele é Germain Chazes, um homem iletrado, provinciano e com um passado de rejeição na família e na escola; ela é Margueritte, uma senhora solitária que vive em um asilo de idosos e aprecia a Literatura de grandes escritores como Camus e Sepúlveda. As tardes de leitura e agradável companhia mudam a vida de Germain em uma comovente conexão com Margueritte através do poder das palavras. A Literatura os une e inspira Germain a se interessar pelos livros, mas também se apresenta como afinidade e meio de comunicação com a simpática senhora, a qual ele aprende a amar.
Esse filme é sobre amizade de duas pessoas que são solitárias e que têm níveis de educação diferentes. Cada uma à sua maneira tem o seu valor. Nisso está sua primordial beleza, em especial nos gestos, sem julgamentos ou preconceitos. Nesse contexto, a eficiência do roteiro é aproximá-las e explorar a emoção espontânea e transformadora que demonstra o amor que as pessoas sentem e nem sempre sabem como dizê-lo. Ele absorve o poderoso valor de que, por trás de uma pessoa de pouca educação formal, pode ter uma alma caridosa e muito mais educada que tantos outros que carregam um diploma. Isso fica mais claro à medida que a história evolui e usa outros elementos como a camaradagem dos amigos e a atitude de uma mãe. No geral, essa delicada maneira de expor o valor de Germain, que é o centro da história, torna o filme imperdível. Com a experiência cômica e dramática de Gérard Depardieu, a personagem é um homem comum e imperfeito e, apesar de todas as suas tristezas e inseguranças, ele é divertido, bondoso e sábio.
Um dos pontos altos do Cinema realizada pela França são suas comédias dramáticas que encontram graça até mais na mais triste cena, como aqui são mostrados bullying e descaso familiar com os idosos, temas atuais e que não chegam a ser muito explorados porque a intenção é usá-los com um foco mais amplo das vivências das protagonistas. A narrativa tem cortes para situações passadas de Germain no qual ele é humilhado para reforçar a sua dramática história de vida. Embora não seja o foco explorar esses temas e os coadjuvantes, a história promove uma reflexão ao trazer personagens que não seguem o "padrão" de beleza, juventude e família integrada que a sociedade de "aparências" tanto promove. Esses protagonistas desenvolvem o que é mais importante na vida do que meras relações por interesse: conexão autêntica entre pessoas e com o toque de afinidades que dá espaço para o desenvolvimento dos relacionamentos.
Com a presença iluminada de Gisèle Casadesus, uma verdadeira e gentil dama em cena, contemplá-la na tela é uma honra. Com sua energia solar ao contracenar com Depardieu, é perceptível que a Educação está além dos livros, está no comportamento, na maneira de lidar com os outros. A atitude dela com ele, ao apresentar o mundo literário é como lançar para o universo o bem que pode ser feito às pessoas e, de alguma forma, isso tem um bom retorno na vida. O filme deixa a alma leve com essa atmosfera adorável entre ambos, com textos literários que falam pela história e com a reviravolta do roteiro que demonstra a nobreza de espírito e de atitude de Germain. Tanto ele como Margueritte evocam a genuína amizade que nasce do inesperado e que não se preocupa com idade, nível cultural e educacional, aparências etc. O resultado é um desfecho emocionante que mais gestos do que palavras podem expressa-lo.
Ficha técnica do filme no ImDB Minhas tardes com Margueritte
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Cristiane Costa, MaDame Lumière