Comovente é a palavra que traduz o primeiro longa-metragem de Dheeraj Akolkar, Liv & Ingmar, que fala sobre a história de amor de dois ícones do Cinema Mundial, a atriz Liv Ullmann e o cineasta Ingmar Bergman que conviveram por 42 anos em uma relação de amor, amizade e trabalho, de altos e baixos e muita emoção. Relatado sob o ponto de vista de Liv Ullmann, que expressa em tom amoroso e saudoso e, também, doloroso e bem humorado, o longa tem uma evocativa montagem e bela cinematografia, que mescla fotografias do casal, vídeos da família, cenas de grandes filmes do diretor como Vergonha, Persona, Cenas de um casamento, momentos de backstage, cenas da autobiografia de Liv em Hollywood pós-separação e relatos emocionantes de cartas de amor de Ingmar para Liv. A direção tem o sensível trabalho de criar imagens poéticas como o pôr de sol no mar azul, a estrada que leva à praia, a câmera que percorre a casa, a atriz em uma sala de cinema que assiste sua própria história, o cineasta que dirige sua esposa e olha atento à musa de sua vida.
O filme é uma jornada verdadeira à história de Liv e Ingmar. É tocante. Muito da sensibilidade dele não está somente nas sublimes imagens dessa história, mas nas palavras de Liv Ullmann, que conversa delicadamente e com leve senso de humor com a câmera, expondo sua intimidade de forma gentil e respeitosa até mesmo nos momentos mais caóticos e obscuros ao lado do cineasta que era um homem grandioso mas também um ermitão egoísta e ciumento. Unidos em suas fragilidades, a atriz conta que eles foram dolorosamente ligados. De fato, eles foram conectados além da tela e do casamento; eles foram um dos casais mais marcantes da História do Cinema, uma parceria de muitos anos e emoções que conviveu com a Sétima Arte. Com uma linha narrativa que divide o relato de Liv em amor, solidão, raiva, dor, saudades, amizade etc, o público viaja por uma história de amor marcada por sentimentos tão espontâneos e paradoxais que brotaram dessa relação afetiva de amor e de muita dor. Aos poucos, Liv mostra que Ingmar a reconheceu e a amou e que, acima de tudo, eles foram muito amigos. Ela era insegura e gostava de seguí-lo. Ela acreditava que se era reconhecida por ele, ela merecia ser amada. Por outro lado e, por um considerável tempo de convívio, ele a transformou em uma mulher que era dele e para ele. Liv teve que viver a vida isolada de Ingmar. Ela foi solitária e sentiu raiva, cercada entre as paredes de uma longíqua casa, convivendo com a solidão, a violência física e psicológica e todos os demônios do brilhante cineasta.
Ao acompanhar a sensibilidade de cada palavra de Liv, entender o contexto de cada fase do casal e ao ver cenas de filmes, nos quais constam casais em crise como Vergonha e Cenas de um Casamento, é perceptível que Ingmar transferiu para a tela a sua relação com Liv: um relacionamento passional e, muitas vezes, violento com a palavra e com as atitudes. Em um dos relatos de Liv, ela lembra da cena em que ela e Max von Sydow estavam no barco em Vergonha. Enquanto Ingmar estava bem agasalhado, o diretor deixou ela e Max por horas e muitos graus abaixo de zero no barco. Da forma de quem ri de um momento sofrido, ela relata algo como :" Ingmar queria que eu passasse por aquilo, pobre Max, não tinha nada a ver com o problema mas sofreu junto comigo." Muitos dos reflexos da relação do casal foram emulados nos longas do diretor e contaram com a atriz como sua musa inspiradora. No geral, uma das belezas do documentário é perceber que Ingmar sempre foi quem se mostrou ser: um homem introspectivo que tinha a solidão como companheira e que criou obras primas em seu isolamento. Liv não esconde o lado obscuro de Ingmar e, muito menos, que vivenciou variados sentimentos pelo cineasta, inclusive uma raiva silenciada e muitas saudades. Com tanta intimidade revelada, Liv & Ingmar emociona. Nos altos e baixos da relação é que está toda a honestidade do documentário. Eles estavam dolorosamente conectados como são as verdadeiras histórias de amor.
Periga ser um dos grandes filmes sobre as dissidÊncias do amor em todos os tempos né madame?
ResponderExcluirAdorei o seu texto. É um filme pelo qual estou muito curioso. Tenho lido coisas maravilhosas a respeito da produção e, francamente, revistar a relação de Bergman e Liv Ullmann tem um apelo cinematográfico descomunal. Além da veia poética de uma relação amorosa à sombra de uma relação profissional de um tino criativo que não dá espaço para a cumplicidade. ´
Depois do seu texto, me encontro ainda mais ávido por esse filme.
Bjs
Wow! Documentário obrigatório para quem aprecia bom cinema. Desconhecia a produção e como infelizmente não a fita vai ralar até encontrar distribuição, o jeito vai ser aguardar cair uma boa qualidade na internet. Espero que esteja errado e o filme encontre um distribuidor.
ResponderExcluirÓtimo texto, MaDame.
Bjs
Adoro filmes sobre histórias de amor. Ainda mais quando elas são verdadeiras e aconteceram de verdade. :)
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