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MaDame Teen: Coletânea de filmes dos anos 80 que marcaram minha (pré)adolescência Gatinhas e Gatões é um dos primeiros f...

MaDame Teen: Gatinhas e Gatões (Sixteen Candles) - 1984


MaDame Teen:
Coletânea de filmes dos anos 80
que marcaram minha (pré)adolescência





Gatinhas e Gatões é um dos primeiros filmes de John Hughes, antes do sucesso de outros longas com temática sobre o universo adolescente como os excelentes e nostálgicos Clube dos Cinco (1985), A garota de rosa shocking (1986), Curtindo a vida adoidado (1986) e Alguém muito especial (1987), alguns em parceria com Howard Deutch. A partir de 1984, Gatinhas e Gatões é  um filme 'abre alas' do diretor que passou a trabalhar com alguns talentos da época: Molly Ringwald, atriz diva e heroína adolescente, que normalmente faz o papel de garota comum que se apaixona pelo rapaz mais bonito e rico da escola e que, em Clube dos Cinco, fará o papel da menina de elite; Anthony Michael Hall, que faz o papel de geek virgem e que demonstraria um ótimo tino cômico como o nerd em outros longas do diretor como Clube dos Cinco e Mulher Nota Mil. O filme também abre espaço narrativo para contar sobre os dramas comuns de adolescentes como a primeira transa, o primeiro beijo , o amor juvenil,  o baile de formatura, o universo colegial, a virgindade e as diferenças sociais, temáticas que são recorrentes em boa parte dos roteiros de Hughes nos anos 80.



John Hughes: Nostalgia teen pura


Na história, Samantha (Molly) é uma adolescente de origem modesta, que mora com os pais, irmãos e avós e vivencia o cômico drama de fazer aniversário de 16 anos às vésperas do casamento da irmã mais velha. Ninguém se lembra de seu aniversário e ela vive essa pequena e engraçada tragédia particular de se sentir a última das adolescentes. Apaixonada pelo veterano, rico e belo aluno Jake Ryan (Michael Schoeffling) e perseguida pelo The Geek (Anthony), um nerd muito falador, Samantha é uma protagonista construída para evocar a simbologia da  garota que vivencia situações comuns ao universo da adolescente como: morar com uma família grande, incluindo os excêntricos avós e perder liberdade em seu próprio espaço, como por exemplo: ceder a cama a  um estrangeiro e dormir no sofá; a que tem um irmão menor, que a despreza e faz piadinhas sarcásticas; a que é ignorada pelos pais nos momentos mais importantes; a que tem uma irmã, mais bonita,  antipática, fútil e popular que está prestes a se casar; a que está apaixonada pelo homem mais bonito e rico do campus que  tem uma namorada loira, arrogante e interesseira, a que recebe flertes insistentes do nerd mais popular da escola; a que tem uma baixa autoestima que faz o contraponto com uma madura personalidade adolescente; a que vai ao baile com uma companhia com a qual não desejaria estar etc. Apesar de todos esses  padrões mais clichês usados por Hughes, o filme tem um registro bem linear e fluído no qual se acompanham as cenas que reforçam essas características, mas que também não menospreza a espontaneidade desse universo da heroína Samantha, afinal John Hughes é um cineasta habilidoso em crônicas juvenis.



Michael Schoeffling como Jake Ryan
O sonho adolescente: bonito, rico e apaixonado por garota pobre


Através da ótima interpretação de Molly Ringwald para os personagens de John Hughes, Samantha é naturalmente uma boa garota e cria uma empática conexão. Embora pareça uma protagonista fraca, há uma força personificada nas heroínas de Hughes, que é a força da espontaneidade da jovem mulher, com todas suas virtudes e inseguranças. Molly é muito honesta com o público e isso a torna muito saudosa como atriz. John Hughes era muito bom em dirigir jovens atores como ela, e colocar para fora esse talento dos dramas de um adolescente, principalmente em tornar isso hilário sem esconder a relevância do drama. É possível se colocar no lugar de Samantha e imaginar o que se passa no dia de seu aniversário. O expectador torce para que ela tenha um final feliz pois ela é comum e emula exatamente vivências que qualquer um já tenha passado na adolescência como a rejeição, a solidão e a baixa autoestima. Ela se sente sozinha e está apaixonada.  Ela se sente insegura mas, nem por isso, se relaciona com o influente nerd que a paquera ou, desesperadamente, se joga nos braços de Jake. No dia que seria um dos mais importantes, como um divisor de águas para uma fase mais madura dessa juventude, ela deixa de ser importante até pela própria família. O que seria um trauma se transforma na principal  beleza do filme e, nisto reside o quanto deixar Samantha à margem em seu aniversário torna o filme mais encantador. Mais adiante, ela terá o aniversário que merece e apagará as velinhas como em um  romântico sonho adolescente. 



Destaque na atuação cômica de Anthony Michael Hall, ícone Nerd.


A jornada de Samantha é acompanhada de perto e com torcida, sem enfocá-la somente como a principal figura adolescente de importância. John Hughes usa outros personagens para demonstrar todo o repertório dos filmes jovens e estes são igualmente relevantes para o sucesso de Gatinhas e Gatões. The Geek, interpretado com louvores por Anthony Michael Hall que rouba a cena, é o nerd que nunca teve a primeira transa e precisa se reafirmar perante os amigos que o consideram um líder modelo e pegador. Ele nem tem um nome e aparece como a entidade GEEK, uma referência bem pop anos 80 de culto aos nerds. Acaba se dando bem através das suas peripécias, recebendo um prêmio que não é o de física, química ou outras disciplinas para mentes brilhantes, e que normalmente é dado aos garotos bonitos, atletas e endinheirados da escola. Dentre os amigos do Geek está Bryce, interpretado por Joan Cusack que, mal abre a boca, mas que já demonstra que o diretor descobria novos talentos, além de ser engraçado vê-lo como um nerd em pleno anos 80. Long Duk Dong (Gedde Watanabe) é o Chinaman em intercâmbio nos USA que  agrega muito humor à película indo totalmente ao desencontro do perfil discreto dos orientais, ele apronta horrores  com um elemento de maluquices e confusões que dão muito ritmo cômico ao longa. Jake Ryan é o típico garoto rico, íntegro e acessível, para o qual ter dinheiro e namorar a loira mais desejada da escola não lhe completa. Assim como o Blane, interpretado por Andrew McCarthy em A garota de Rosa Shocking, ele é o objeto de amor e desejo platônico da garota pobre e, como todo Santo de fillme ajuda, ele também gosta dela, o que arranca suspiros da plateia feminina que sonha com um Jake Ryan na vida.



Molly Ringwald: a pobre heroína adolescente. 



Ao unir as duas pontas de uma sociedade Americana dividida entre pobres e ricos, John Hughes torna eterno o drama afetivo do amor entre diferenças classes sociais, entre outros preconceitos existentes, no Cinema dos anos 80, mas também um amor romântico factível de ser vivenciado.  Nos filmes vindouros ele tornaria essa temática mais dramática nos roteiros, deixando mais evidente  em seus planos e toda a direção, com suas boas escolhas cenográficas, de vestuário e de diálogos o muro que separa jovens de diferentes estratos sociais que se apaixonam. Em Gatinhas e Gatões,  sob essa perspectiva, o roteiro não foi  construído de forma a transformar as cenas em mais dramáticas como as que vemos em Clube dos Cinco, a Garota de Rosa Shocking e Alguém muito especial, longas que exigem mais do jovem ator explorar e catalisar a sua condição social através de uma atuação mais convincente e dramática. No geral e para re(começar) uma visitação às produções de John  Hughes,  Gatinhas e Gatões é um nostálgico e excelente entretenimento para celebrar o legado do diretor que  saudades que deixou.





Ficha técnica no ImDB

Um comentário:

  1. Acho que os filmes do John Hughes acompanharam não só os que cresceram nos anos 80, como aqueles que cresceram na década de 90, que é meu caso. Sempre assistia essas obras e adorava! Ver ou ler alguma coisa sobre elas me dá um sentimento de nostalgia. :)

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