Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação.
Realizado pela TV Cultura, o documentário Lygia, uma escritora Brasileira é uma bela voz que ecoa para celebrar uma das mais autênticas literárias do país. Com direção de Helio Goldsztejn e roteiro de Eneas Carlos Pereira, o longa recentemente lançado nos cinemas Brasileiros contribui muito para jogar luz à trajetória de Lygia, uma mulher à frente do seu tempo, que construiu uma literatura pós modernista com forte presença de temas universais e do feminino, com destaque para "As meninas", romance ambientado na época da ditadura militar e em 1995 adaptado para o cinema sob a direção de Emiliano Ribeiro.
O documentário não traz uma proposta peculiar de narrativa e preservar um formato tradicional foi o melhor caminho na realização. Ele mantêm suas origens com influência dos recortes televisivos e faz o espectador mergulhar na intimidade da escritora como se ela fosse uma amiga próxima. O diretor e equipe da TV Cultura buscou nos arquivos do audiovisual algumas entrevistas como a do Roda Viva e relatos de diferentes ciclos de Lygia como a dedicação às letras, o casamento com o jurista Goffredo da Silva Telles, a perda precoce do filho cineasta (Goffredo Telles Neto), o feliz casamento com o grande crítico de Cinema Paulo Emílio Sales Gomes, além da presença da nova geração da família com a participação de suas netas Lucia Telles e Margarida Zanelato.
Para aproximar a história de Lygia às opiniões de escritoras e da crítica literária, o diretor inclui entrevistas com personalidades como Tati Bernardi, Jô Soares, Manuel da Costa Pinto, Marcelino Freire, entre outros, sendo que, os dois últimos conseguem dar um peso histórico, argumentativo e crítico sobre a importância da literatura da escritora. Outra boa escolha foi a participação de Isabella Lubrano, jornalista e blogueira especializada em literatura, que demonstra grande afeto e respeito pelo trabalho da escritora e é bem esclarecida sobre a obra. Sob o ponto de vista da influência de Lygia nas juventudes, os relatos de Lubrano trazem um frescor de que gente comum e jovem, conectada digitalmente, também aprecia literatura e a defende como parte de um cotidiano que não deve ser esquecida.
Por outro lado, a presença de Glamour Garcia não agregou tanto valor pois ela não conseguiu demonstrar muito repertório para falar de Lygia e estas cenas ficaram superficiais, infelizmente dando a impressão de que o diretor colocou uma transexual no longa apenas para dizer que colocou, seguindo um "politicamente correto" na agenda de diversidade de gênero. De maneira geral, algumas entrevistas são desnecessárias nos documentários e pouco estão em sintonia com o resto do longa, o que colabora para observar a diferença entre um bom documentário e um excepcional.
Paulistana e com 94 anos, Lygia Fagundes Telles é uma imagem viva da inspiração e força feminina na Literatura. Nasceu para ser uma imortal das Letras em um meio que teve maioria masculina. Uma fina rebelde com uma sofisticação apurada, um equilíbrio sensato e uma sabedoria vivaz nas palavras. Foi amiga de grandes nomes como Mario de Andrade e Oswald de Andrade, vanguardistas da modernidade literária, assim como de suas contemporâneas como Clarice Lispector e Hilda Hilst com seus estilos completamente diferentes . Seu documentário mostra o quão admirável ela é em vários sentidos, partindo de uma clara evidência de que ela escolheu os seus próprios caminhos, com os pés no chão, sabendo que viver de Literatura não seria plenamente possível e que o Brasil é um país difícil de viver. Mas, ainda assim, ela marcou sua presença na escrita com um estilo bastante autoral, realista e provocativo ao inserir temas como a morte, o amor, o sexo, o adultério, a repressão, o egoísmo, a loucura.
Alguns dizem que ela é pessimista e de palavras pesadas, entretanto, sua biografia é muito mais luminosa e diz sobre uma condição não paralisante diante do mundo. Aliás, este é o papel do escritor: ser ativo no mundo, explorá-lo, agir e reagir com suas palavras. Lygia ilumina coisas que estão debaixo da superfície e que nem todo o escritor consegue explorar, nem todos gostam de revelar, assim, ela pede ao leitor uma participação mais ativa no ato da leitura e de observar a nós mesmos. Esmiuçar a condição humana é virar o ser humano do avesso, por isso, com louvor, ela é conhecida como escritora do avesso.
A grande lição de vida que permanece ao ver "Lygia, uma escritora Brasileira" é a sua escolha pela Literatura, sua belíssima e inspiradora vocação. Sua trajetória é marcada pela generosidade, delicadeza e beleza de quem encontrou nas palavras refúgio e libertação. É interessante notar que, desde a faculdade de Direito da USP, Lygia buscou uma militância cuja experiência a ajudaria a amadurecer e a escrever os livros da década de 70 como "Antes do baile verde" e "Seminário dos ratos", revelando subtemas sociais como a moral das famílias urbanas, o papel dos militares e a ditadura, a analogia do fantástico com a política e os ratos. É uma escritora de contextos, em sintonia com o seu tempo que nunca desistiu de falar sobre o país e centralizar a humanidade.
Ela também demonstrou atitudes no decorrer da sua carreira que refletem seu incômodo com as injustiças sociais e seu enfrentamento, mas também sua força de viver experiências diferentes em sinergia com as Letras e as Artes como os trabalhos cinematográficos que realizou com o seu filho cineasta Goffredo Telles Neto no qual participou do Narrarte, além da adaptação de Capitu (1968) realizada com seu esposo Paulo Emilio, desta forma, Lygia se aproximou do mundo do Cinema, da escrita de roteiro e interpretação.
Agora ela ganha a tela como musa para inspirar e emocionar. Imperdível bela Lygia!
Com o crítico de cinema Paulo Emílio: parceria, companheirismo e paixão
Para aproximar a história de Lygia às opiniões de escritoras e da crítica literária, o diretor inclui entrevistas com personalidades como Tati Bernardi, Jô Soares, Manuel da Costa Pinto, Marcelino Freire, entre outros, sendo que, os dois últimos conseguem dar um peso histórico, argumentativo e crítico sobre a importância da literatura da escritora. Outra boa escolha foi a participação de Isabella Lubrano, jornalista e blogueira especializada em literatura, que demonstra grande afeto e respeito pelo trabalho da escritora e é bem esclarecida sobre a obra. Sob o ponto de vista da influência de Lygia nas juventudes, os relatos de Lubrano trazem um frescor de que gente comum e jovem, conectada digitalmente, também aprecia literatura e a defende como parte de um cotidiano que não deve ser esquecida.
Por outro lado, a presença de Glamour Garcia não agregou tanto valor pois ela não conseguiu demonstrar muito repertório para falar de Lygia e estas cenas ficaram superficiais, infelizmente dando a impressão de que o diretor colocou uma transexual no longa apenas para dizer que colocou, seguindo um "politicamente correto" na agenda de diversidade de gênero. De maneira geral, algumas entrevistas são desnecessárias nos documentários e pouco estão em sintonia com o resto do longa, o que colabora para observar a diferença entre um bom documentário e um excepcional.
Com Monteiro Lobato, Antônio Cândido e Jorge Amado: uma gigante entre gigantes
Paulistana e com 94 anos, Lygia Fagundes Telles é uma imagem viva da inspiração e força feminina na Literatura. Nasceu para ser uma imortal das Letras em um meio que teve maioria masculina. Uma fina rebelde com uma sofisticação apurada, um equilíbrio sensato e uma sabedoria vivaz nas palavras. Foi amiga de grandes nomes como Mario de Andrade e Oswald de Andrade, vanguardistas da modernidade literária, assim como de suas contemporâneas como Clarice Lispector e Hilda Hilst com seus estilos completamente diferentes . Seu documentário mostra o quão admirável ela é em vários sentidos, partindo de uma clara evidência de que ela escolheu os seus próprios caminhos, com os pés no chão, sabendo que viver de Literatura não seria plenamente possível e que o Brasil é um país difícil de viver. Mas, ainda assim, ela marcou sua presença na escrita com um estilo bastante autoral, realista e provocativo ao inserir temas como a morte, o amor, o sexo, o adultério, a repressão, o egoísmo, a loucura.
Membro da Academia Brasileira de Letras,
Lygia se destacou como uma das grandes mulheres da Literatura.
Indicada ao Nobel de Literatura em 2016
Com Hilda Hist e José Saramago:
Alguns dizem que ela é pessimista e de palavras pesadas, entretanto, sua biografia é muito mais luminosa e diz sobre uma condição não paralisante diante do mundo. Aliás, este é o papel do escritor: ser ativo no mundo, explorá-lo, agir e reagir com suas palavras. Lygia ilumina coisas que estão debaixo da superfície e que nem todo o escritor consegue explorar, nem todos gostam de revelar, assim, ela pede ao leitor uma participação mais ativa no ato da leitura e de observar a nós mesmos. Esmiuçar a condição humana é virar o ser humano do avesso, por isso, com louvor, ela é conhecida como escritora do avesso.
Uma verdadeira dama da Literatura Brasileira.
A grande lição de vida que permanece ao ver "Lygia, uma escritora Brasileira" é a sua escolha pela Literatura, sua belíssima e inspiradora vocação. Sua trajetória é marcada pela generosidade, delicadeza e beleza de quem encontrou nas palavras refúgio e libertação. É interessante notar que, desde a faculdade de Direito da USP, Lygia buscou uma militância cuja experiência a ajudaria a amadurecer e a escrever os livros da década de 70 como "Antes do baile verde" e "Seminário dos ratos", revelando subtemas sociais como a moral das famílias urbanas, o papel dos militares e a ditadura, a analogia do fantástico com a política e os ratos. É uma escritora de contextos, em sintonia com o seu tempo que nunca desistiu de falar sobre o país e centralizar a humanidade.
Ela também demonstrou atitudes no decorrer da sua carreira que refletem seu incômodo com as injustiças sociais e seu enfrentamento, mas também sua força de viver experiências diferentes em sinergia com as Letras e as Artes como os trabalhos cinematográficos que realizou com o seu filho cineasta Goffredo Telles Neto no qual participou do Narrarte, além da adaptação de Capitu (1968) realizada com seu esposo Paulo Emilio, desta forma, Lygia se aproximou do mundo do Cinema, da escrita de roteiro e interpretação.
Agora ela ganha a tela como musa para inspirar e emocionar. Imperdível bela Lygia!
Fotos, uma cortesia cortesia da Trombone.
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