Caras durões, muita porrada, tiros e explosões em um contexto que não faltam chantagens, conspirações, traições e redenções. Assim é Os Especialistas, tudo rima com ão de muita ação. Inspirado no best-seller de Ranulph Fiennes, The Feather Men, que conta a história da Clínica, um grupo de assassinos de aluguel contratados para matar soldados britânicos em Omã. Para eliminá-los, uma outra elite de matadores, os Homens-Pena, é contratada para caçar a Clínica, o que se desdobra em perseguições entre estes especialistas em extermínio a partir dos anos 70, por mais de uma década.
No longa com direção de Gary McKendry e roteiro de Matt Sherring, o elenco base é formado por um trio de atores duro da queda e com background cinematográfico de muita testosterona na veia, formado por Jason Stratham, Robert de Niro e Clive Owen, além de Dominic Purcell (de Prison Break) e Aden Young. Na adaptação para as telas, Jason é Danny, um assassino profissional que após mais uma operação, decide abandonar o ofício de agente das forças especiais, se refugia em uma casa de campo e se apaixona pela blondie Anne (Yvonne Strahovski). Como em Cinema, alegria de matador de alto nível e disposto à redenção dura pouco, ele é avisado que,Hunter (Robert de Niro), seu ex- parceiro e mentor, é capturado e preso por forças árabes. Danny é obrigado a voltar à ativa e aceitar a chantagem de um sheik do petróleo. Sua nova missão é matar 3 soldados britânicos do grupo de forças britânicas SAS (Special Air Service), considerada perigosa e bem treinada, que haviam assassinado os filhos do sheik. Como recompensa, a vida de Hunter será poupada.
Para um filme de ação, o argumento é bom e o elenco é melhor ainda, porém o roteiro de Sherring poderia ser melhor aperfeiçoado com maior tensão e profundidade na narrativa para explorar melhor os fatos verídicos e polêmicos do livro de Fiennes. Existem alguns momentos da película que dão a impressão de que falta alguma lacuna para dar mais coesão à história, mais eletricidade aos conflitos, além disso, o roteiro poderia ter explorado com mais consistência o próprio dilema de Danny, não se satisfazendo somente em incluir alguns planos de flashback no qual ele lembra do sorriso da namorada, do beijo roubado e de como gostaria de estar como um ermitão apaixonado em uma casinha de campo. É evidente que Danny vive o drama de ter o melhor amigo e mentor preso em Terras árabes, por isso volta a matar sem muita vontade própria mas com poderosa aptidão para enfrentar uma cena de luta de tirar o fôlego com Spike (Clive Owen), ex-integrante da SAS que começa a perseguí-lo como em um jogo de gato e rato; porém a importância da relação de Danny com Hunter não é recuperada em termos narrativos, ou seja, não se mostra um passado realmente relevante que enfatize: "Realmente somos muito amigos, vale a pena arriscar a vida por Hunter".
Não há dúvidas de que o longa é garantia de diversão com muita bala na ponta da arma e uma narrativa de suspense na qual não é possível confiar plenamente em ninguém. Statham é o grande espetáculo, pois é basicamente o protagonista que tem que levar o filme e manter o público interessado em suas habilidades de ação. Ele é bastante versátil para dar socos, chutes e tiros sem perder a precisão acrobática, e há uma cena na qual ele está preso em uma cadeira que é ótima, chegando a ser engraçada por ser muito forçada, por isso todo o filme de ação tem momentos cômicos e surreais, basta rir de que alguns sempre sobrevivem ao mais letal dos tiros e a mais astronômica das alturas. Com sucesso e bastante adaptado a este gênero cinematográfico, Statham interpreta o estiloso bad good boy que é marrudo por fora, mas está apaixonado por uma garota que mal pode saber o que ele faz. Ele segura a qualidade e ritmo, confirmando mais uma vez que nasceu para fazer só isso: um corpo bonito, um charme viril, uma cara de mau, senso e estilo fashion, e uma excelente performance para filmes do gênero como Mercenários e Carga Explosiva. Por outro lado, o problema do filme é desperdiçar o talento de Robert de Niro, um ator excepcional que teve uma experiência fantástica em Fogo contra Fogo, um dos melhores filmes de ação do Cinema. Não a toa que, quando Robert de Niro aparece em Os Especialistas, ele eleva consideravelmente o nível da produção com seu carisma, bom humor e elegância. De Niro flerta com a câmera com muita naturalidade e as sequências do mêtro e do desfecho no deserto demonstram que ele poderia agregar muito mais neste roteiro se não o tivessem colocado como refém em boa parte da projeção.
Embora este roteiro não aproveite a potencialidade dramática de contextos conspiratórios que envolvem forças armadas e o clássico conflito Oriente x Ocidente, o filme tem como um dos pontos de atração o explorar locações internacionais em um Thriller de ação, recorrendo a fórmulas como Identidade Bourne, o convite ao público é feito para ir à Londres, Paris e Omã, viajando pelos planos e desfrutando de belas e luminosas imagens da cidade do Amor, além de ter uma certa sofisticação na ação e na ambientação com movimentos de câmera aereos e também de eletrizantes ritmos, lutas bem coreografadas, mortes estrategicamente elaboradas e um protagonista que não é nem heroi e nem vilão. Alias, não julgar muito o heroismo ou a vilania de Danny é relevante na narrativa porque o filme não tenta encobrir o sangue frio do mercenário e nem mesmo julgá-lo como certo ou errado, pelo contrário, embora Danny queira mudar de vida, ele está pronto para matar, se for necessário com a mais gélida frieza e de forma muito prática. Há uma clara intenção de fazer o público torcer por Danny, afinal, ele é o amigo leal e o namorado disposto a voltar aos braços da amada, mas o espectador quer ação e quer mesmo é que ele exerça o seu oficio de matador profissional, exterminando quem se colocar diante dele e até morrendo, se for preciso, ainda que seja melhor que fique com a mocinha fragilizada, que está disposta a ficar com ele, mesmo sem saber nada de seu passado. Ainda que a narrativa não entregue todas as respostas conspiratórias, o público é levado a curtir mais a ação e isso é o que importa.
De maneira geral, mesmo que a moral coletiva renega os mercenarios, filmes com matadores que têm sentimentos nobres como os de Danny sempre são envolventes e demonstram que o público também é um pouco mercenário, afinal de contas, se a ficção for por uma boa causa, que venha muita adrenalina após o Action.
Avaliação MaDame Lumière
Filme: Os Especialistas (Killer Elite)
País/Ano: EUA (2011)
Direção: Gary McKendry
Roteiro: Matt Sherring
Elenco: Jason Statham, Robert de Niro, Clive Owen, Yvonne Strahovski, Dominic Purcell, Aden Young
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