Ser um cinéfilo é sentir na pele o que é ser mortal, ou seja, vivenciar o que é bom e o que é ruim na mortalidade dos homens que amam Cinema. Um pouco de dor no coração ou de cabeça é natural quando aparecem na tela histórias desprovidas de conteúdo e que só querem conquistar por efeitos especiais ou algum traço que não dá conta da qualidade cinematográfica. Uma destas vivências é assistir a um filme épico abaixo da média, e que deveria aproveitar toda a riqueza da mitologia para contar uma bela história sobre homens e deuses em um roteiro mais estruturado e com uma direção diferenciada. Imortais, um dos últimos longas que estreia hoje e produzido por Mark Canton e Gianni Nunnari (de 300), é um destes filmes que como, Fúria de Titãs e Troia, trazem um heroi sarado e bonitão como mortal querido pelos deuses, com forças extra humanas, um inimigo perverso, uma mulher bela e virginal como par amoroso e muitas batalhas sangrentas pela frente. O resultado é praticamente o mesmo: história mal tratada na verossimilhança com a Mitologia e um heroi nada convincente e inspirador na atuação como líder.
O elenco principal apreende o primeiro interesse. Tem Henry Cavill, Freida Pinto e Mickey Rourke. Henry é o Brandon da série The Tudors e o Novo Super-Homem. Ele é Teseu, jovem plebeu cuja mãe tinha grande afeição pelos deuses e é morta covardemente por um tirânico Rei. O moço acaba sendo estimado por Zeus (Luke Evans) e Atenas (Isabel Lucas) e escolhido para defender o Arco de Épiro, uma poderosa arma forjada no Olimpo que o cruel Rei Hipérion (Mickey Rourke) deseja possuir. Hipérion declara guerra aos gregos e está disposto a libertar os Titãs para massacrar a humanidade, mas Teseu conta com a ajuda das visões do Oráculo Fraeda (Freida Pinto), a mocinha que de virgem passa para a cama do heroi, e também com a dos deuses e do exército de rebeldes. Pronto, acabou a história. O que resta? Apenas muitos efeitos especiais com abuso de câmera Slow Motion para quem adora ver sangue espirrando para todos os lados inimagináveis e lutas, caras e bocas se movendo lentamente. Também não espere muito do 3 D que só entra mais qualitativamente em ação quando o tipo de efeito visual e do plano realçam os benefícios da tecnologia.
O que importa em Imortais é que ele é um entretenimento meramente visual para fazer o espectador não pensar, somente contemplar as imagens sob a direção de Tarsem Singh (de A Cela), que é conhecido por seu rigor estético e por não dar a mínima para o roteiro. Embora conte com os produtores de 300, o filme tem uma trama fraca e desconexa, logo está distante da melhor qualidade de 300. O forte de Imortais está na direção de arte com uma cenografia e figurinos que recuperam a bela atmosfera da vila de Teseu, próximo ao mar Egeu, a obscura e grotesca figuração de bestas mitológicas, a plasticidade perversa e horrível de um Rei como Hipérion, a delicadeza de um Oráculo virginal, o dourado luminoso dos deuses, a força e virilidade de um bonito guerreiro. As cenas de batalhas não deixam a desejar e, embora haja um exagero de câmera lenta, dentre todos os atributos do longa, as lutas acabam por manter o interesse e valem a sessão. No geral, visualmente, é como ser arrebatado para um mundo distante e fantasioso durante a projeção. O pecado mortal é o longa ter tratado deuses como mortais. Isso é possível? Em Hollywood pode tudo, até mesmo ser inverossímil e subestimar a inteligência do espectador.
Prova-se com o longa que Henry Cavill é melhor como o duque Suffolk de The Tudors que como Teseu; pelo menos, ele é mais interessante no seriado. É evidente que o roteiro não ajudou os atores, mas ele precisa melhorar a atuação antes de encarnar o Super-Homem, e precisa de mais carisma. É impressionante a falta de inspiração que o discurso dele para o exército Heracliano tem. Imagine um plebeu que tem que liderar um exército contra um rei tirano que possui um arco que pode aniquilar soldados em segundos. Henry clama aos gritos, sem emoção alguma, para desespero do bom cinéfilo. Outra situação de um roteiro ineficaz é a transa dele com o Oráculo Faedra, algo prático e sem ter havido uma conexão prévia na narrativa que justificasse unir o casal. Colocaram uma "rapidinha mitológica" como a que vemos com Brad Pitt em Troia, simplesmente para preencher a história com um pouco de romance. Freida Pinto só empresta sua beleza exótica, com uma pele formosa que daria para realizar propaganda de creme facial. Para variar, ela está inexpressiva na atuação, infelizmente o roteiro dos inexperientes Parlapanides não colabora para aproveitar melhor o elenco. Por conta disso tudo, Mickey Rourke, competente e muito em linha com personagens de vilania ou decadentes em seus últimos filmes, torna Imortais mais convidativo, no mínimo, ele deve se divertir encarnando estes caras com rostos mal tratados, tatuados ou com cicatrizes, afinal, suas cirurgias plásticas mal sucedidas parecem tê-lo ajudado com estes papeis. Lamentavelmente, seu talento aqui é desperdiçado.
Imortais é mais uma diversão despretensiosa que comprova que estética sem desenvolvimento de enredo não alcança uma performance diferenciada em Cinema. Curta-o se não cair no sono dos mortais durante a sessão!
Avaliação MaDame Lumière
Título: Immortals
País/Ano: USA (2011)
Direção: Tarsem Singh
Roteiro: Charley Parlapanides e Vlas Parlapanides
Elenco: Henry Cavill, Freida Pinto, Mickey Rourke, etc.
O trailer já entrega que o filme não possui uma história. Isso já é perceptível. Eu quero ver mais pelo visual, porém, é algo que parece ser tão exagerado que consequentemente eu posso não gostar.
ResponderExcluirBjs Madame (:
Madame,
ResponderExcluirte desejo um feliz 2012 com muito luxo e cinema. Que a minha Marlene Dietrich seja para sempre imortal.
Beijos querida!
Bons filmes
Abração!
Rô curador.
Ainda estou cheio de dúvidas e receios com rlação a este filme, provavelmente eu não irei vê-lo pela enorme quantidade de outras obras mais interessantes que estão na minha lista de espera. Pelo que percebi ele ainda consegue subverter toda a mitologia na qual ele foi baseado, isso tende a me afastar ainda mais dele...
ResponderExcluirhttp://sublimeirrealidade.blogspot.com/2011/12/planeta-dos-macacos-origem.html
Mesmo achando 300 bacana, sou um contra-fã do slow-motion exagerado em ação, tendo a ideia de que ele interrompe a emoção das batalhas - algo comprovado no próprio 300 ou Missão Impossível 2. Sim, é estiloso, mas narrativamente falando é ruim. Logo de cara bati o olho em Imortais e sabia que seria isso, ainda que nutrisse esperanças em relação à qualidade do longa, tendo em vista que realmente gostei do trailer. Pra todo caso, se eu for ver, é quando chegar em DVD.
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