A estreia de
André Ristum na direção de seu longa metragem
Meu País é marcada por variados pontos positivos: drama afetuoso de sensibilidade ímpar, um elenco bem selecionado e em sintonia, direção bem orquestrada com o roteiro, realista fotografia de bela textura e granulação, que inspira como imagens de um álbum de família e é assinada pelo "Alemão" (
Hélcio Nagamine) e produção assinada pelos experientes e influentes
Irmãos Gullane. A história é um lindo, poético e emocionante drama familiar baseado no reencontro de três irmãos separados pelas circunstâncias e escolhas da vida.
Após a morte do pai Armando (Paulo José), vitimado por um derrame fatal, Marcos (Rodrigo Santoro) retorna ao Brasil com a esposa (Anita Capriol) após morar há anos na Europa. Executivo com um comportamento distante das ideias de formação de uma nova família, Marcos é o típico modelo de homem bem sucedido na contemporaneidade: bonito, endinheirado, maduro, sofisticado, focado no trabalho e nos negócios e de cultura e experiência europeias. Seu irmão Tiago (Cauã Reymond) é o seu antagonismo, a 'ovelha negra da família', o ' garoto problema'. Permaneceu morando com o pai, que sustentou seus gastos. Adepto de baladas, drogas, álcool, mulheres, jogo, malhação, Tiago é o jovem mimado, imaturo, irresponsável e endividado que não está interessado em gerenciar nem o próprio patrimônio, somente a gastá-lo com seus excessos. Com a morte de Armando, uma revelação vem à tona: a existência de uma irmã, Manuela (Débora Falabella), que tem idade mental menor que a idade genética de 24 anos, e está internada em uma casa de repouso psiquiátrica. O desafio dos irmãos será formar e manter esta nova configuração familiar, aceitando uns aos outros e, com amor, trazer Manuela à convivência com eles.
Meu país é um filme tocante sobre a volta às origens do seio familiar, ao reencontro físico e afetivo de irmãos; logo a volta de Marcos não é somente ao Brasil, mas o retorno ao que é essencial e necessário para a continuidade deste lar: a família que eles tem que representar após a morte do pai, uma família que precisa simplesmente ser uma família, transformar a dor em afeto. Muito da beleza do filme está em seu realismo dramático, das discussões aos desabafos, passando pelos silêncios e olhares e também pelas diferenças. O antagonismo de personalidades e estilos de vida dos dois irmãos reforça isso, mas não é somente ele que dá o tom do drama pois cada personagem tem o sua problemática pessoal. Marcos é pressionado a voltar à Itália, primeiro pela empresa, depois pela esposa, além de viver o dilema de ter que cuidar da irmã que é rejeitada por Tiago e não tem mais ninguém que a ajude. Se ela ficar na clínica psiquiátrica, ela regredirá em sua condição mental. A esposa de Marcos tem um casamento amoroso, com um bom marido. É prestativa e dedicada, mas como nem tudo é perfeito, não há espaço para diálogos sobre a possibilidade de ter um filho, um projeto que é um sonho dela, mas não o dele. Tiago é um azarado jogador, cujo vício coloca sua própria vida em risco, interpretado de forma muito crível por Cauã. Manuela vem a unir esta família, a desconstruir para reconstruir suas vidas e, conta com a excelente interpretação de Débora Falabella.
O elenco tem sua força motriz em Rodrigo Santoro, que está excelente como o protagonista, o irmão mais velho, o irmão líder. Seu papel exige controle emocional com as novas situações que surgem após a morte de Armando, além de ser um dos que tem mais que abrir mão da própria vida, tendo que lidar com a pressão para voltar aos negócios, ver seu casamento em risco, gerenciar as dívidas familiares e ser a coluna de seus irmãos para que eles não se afundem de vez. Marcos é um personagem muito interessante e bem construído do ponto de vista de drama familiar porque ele é como um sucessor paterno, é o que mais tem maturidade e responsabilidade para assumir o controle dos negócios e da família e é o filho que estava mais distante da convivência com Armando, de alguma forma, ele alcança a sua redenção como filho que retorna ao lar. Ele saí de uma esfera mais individualista, em sintonia com o que o mundo moderno exige das pessoas, para uma esfera de olhar os outros irmãos, abdicando de si próprio em algumas situações; por isso, Meu país é um filme belíssimo para uma reflexão do individuo no ambiente familiar. É um longa que mostra uma encruzilhada dramática na vida dos irmãos que podem prosseguir sozinhos ou unidos e tem que lidar com as profundas e dolorosas emoções após a perda de um pai, tendo que recuperar este amor da infância ou recém descoberto pois são como estranhos com o mesmo sangue.
É impossível não se emocionar com esta comovente história, principalmente com tantos problemas de relacionamento, de falta de aceitação, amor e união que surgem nas desestruturadas famílias atuais. Meu país é um filme sobre afeto que faz valer sua divulgação: É uma emocionante jornada de reencontro, e com ela, um novo encontro com nós mesmos.
Avaliação MaDame Lumière
Título: Meu País
País/Ano: Brasil (2010)
Direção: André Ristum
Roteiro: Andre Ristum, Octavio Scopellitti, Marco Dutra
Elenco: Rodrigo Santoro, Cauã Raymond, Débora Falabella, Anita Capriol, Paulo José, Eduardo Semerjian, Nicola Siri, Luciano Chirolli, Stephanie de Jongh.
Esse filme irá passar no Festival de Cinema de Natal, mas eu irei perder, infelizmente. Tô sem qualquer tempo de ir ao cinema neste final de ano... :(
ResponderExcluirAntes de tecer qualquer comentário sobre o filme, tenho que tirar o chapéu para o visual do Blog, é simplesmente lindo, a harmonia entre as cores é fantástica, o que lhe dá uma ar ao mesmo tempo sofisticado e retrô...
ResponderExcluirQuanto ao filme, esta é a segunda resenha que leio dele, estou muito curioso para assistir principalmente pela temática que ele explora, é realmente bom comprovar mais uma vez que o cinema nacional não se restringe às fórmulas gastas, que já estão mais que saturadas... A pena é que a distribuição continua sendo o grande problema do nosso cinema, com isso sei que não será tão conseguir assisti-lo...
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http://sublimeirrealidade.blogspot.com/2011/12/minha-historia-de-leitura-qual-sua.html
Kamila,
ResponderExcluirSei que a correria não é facil, mas quando puder, assista a este filme. Tenho certeza que se emocionará.
abs
Olá J. Bruno,
ResponderExcluirObrigada pelo elogio. Para mim é um prazer oferecer um espaço blogueiro de cinema que agrade aos meus colegas leitores e cinéfilos, afinal somos uma grande família cinéfila. Amo muito o meu blog, é um cantinho super especial, que faço o que for possível para deixá-lo agradável e com a cara da MaDame, rs... adoro este efeito retrô, rs!
Sobre meu país, você está certíssimo! É um filme que vale a pena ser visto. Somente lamento que a distribuição foi pouca, como acontece no Brasil, realmente a distribuição tem que melhorar bastante para contribuir com o crescimento do nosso cinema e a visibilidade de trabalhos como este para outros públicos.
Abs,
MaDame