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Vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes 2011, O Garoto da Bicicleta é o novo filme dos irmãos Belgas Jean-Luc e Pierre Dard...

O Garoto da Bicicleta (Le Gamin au Vélo / The Kid with a Bike) - 2011




Vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes 2011, O Garoto da Bicicleta é o novo filme dos irmãos Belgas Jean-Luc e Pierre Dardenne, que assinam a direção e o roteiro e evocam uma temática recorrente em seus filmes: o humanismo. Conhecidos por longas premiados como A Promessa (1996) e A Criança (2005), dramas realistas e comoventes que provam o próprio individuo em situações adversas, os Dardenne retornam à cena cimematográfica com mais otimismo ao contar uma história que fala sobre a rejeição e o afeto a uma criança. Cyril Catoul, garoto abandonado pelo pai e criado em um orfanato, é interpretado pelo ator Thomas Doret, selecionado para um papel difícil, expressivamente um garoto solitário, violento e rejeitado, cuja triste história o fez perder a ternura da infância. Perdeu tanto a inocência que age como um precoce adulto, introspectivo e agressivo, lamentavelmente um garoto que sofre a dor da rejeição ainda que demonstre ser valente nos embates do cotidiano.






O roteiro e a direção se empenham em equilibrar a história de Cyril Catoul em sequências de rejeição e afeto, nas quais há uma expectativa de que ele próprio possa se salvar ao encontrar a bondosa cabeleireira Samantha (Cécile de France), ao mesmo tempo que o espectador testemunha a crua realidade dele ser um garoto abandonado, claramente ignorado pelo pai Guy Catoul (Jérémie Renier), além de ser um menino muito rebelde, facilmente vulnerável a se envolver em caminhos tortuosos de deliquência juvenil ao conhecer o jovem problema da vizinhança, Wes (Egon di Mateo) e começar a praticar delitos. Desta vez, o Cinema Humanista dos Dardenne atinge um patamar bem otimista através das atitudes da protagonista Samantha, uma mulher simples, carismática e amorosa, que demonstra um comportamento muito espontâneo ao ter o garoto dentro de sua casa. A própria escolha da atriz belga Cécile de France para este papel foi muito acertada, porque ela transmite beleza e serenidade como um anjo iluminado na tela, disposta até mesmo a lidar com as agressões do garoto, seja em palavras seja em atos físicos. Samantha é a mãe que Cyril nunca teve, a nova figura materna que abre os braços para o filho e tudo suporta. Efetivamente ela é a metáfora da bondade e da esperança e, portanto, é a única pessoa que é capaz de aceitá-lo como ele é.





A história tem seu inicio quando Cyril escapa do orfanato, é perseguido como um fugitivo pelos profissionais do local e encontra Samantha, a qual abraça dramaticamente como um pedido desesperado de ajuda. A partir daí, se dá a conexão de ambos. Mais um lance do destino, uma oportunidade rara ao encontrar uma pessoa humanizada. Ela tem uma empatia materna pelo garoto e surge a ideia de que ela o apadrinhe para que possa passar os finais de semana na cada dela, ajudá-lo a recuperar a bicicleta e a procurar Guy. Com uma ótima atuação de Cécile de France, Samantha é também a expressão da aceitação e da tolerância ao que a sociedade vira as costas e, portanto, ela é a esperança para este garoto e recupera o ato humanista dos filmes dos Dardenne. Por outro lado, o ator Jeremie Renier, que já trabalhou com os diretores, interpreta muito bem Guy, um personagem bem interessante sob o ponto de vista de uma lamentável figura paterna pois ele é frio e prático ao rejeitar o filho e, também, um pobre infeliz, que não conseguiu absolutamente nada na vida e quer mais é se livrar de Cyril, que seria como mais uma "pedra no sapato" de sua decadente postura como pai.





O diferencial de O Garoto da Bicicleta é observar os personagens e se deixar levar pelo que eles despertam no público. Certamente, sentimentos contraditórios podem surgir durante a projeção e esta experiência cinematográfica é muito alinhada com a dolorosa e contundente realidade de crianças e jovens rejeitados. Existem sequências que causam mal estar pelo simples fato de ver o quanto é doloroso ver um garoto abandonado, metido em brigas, sem referências paternas, entregue a um esvaziamento em sua vida já que não estuda, não tem amigos de verdade, não tem uma convivência social produtiva. Resta-lhe ser O Garoto da Bicicleta, andando pra cima e pra baixo com sua bike, que é a única coisa de valor afetivo que lhe sobrou e que é uma bela definição para Cyril: Ele e sua bicicleta, seu único patrimônio nesta vida, sua única brincadeira, sua única identidade. Este realismo é o grande ganho do Cinema Europeu, capaz de registrar imagens cotidianas de uma violência física e psicológica, na qual o afeto se perde mas ainda há uma luz no final do tunel.



A começar por Samantha, que mal conhece Cyril e sua história e já se lança em um tipo de adoção informal. Ela também adota uma atitude mais de bondade do que de racionalidade ao lidar com o revoltado garoto, mesmo que corra o risco de ser ferida por ele a qualquer momento ou ter sua vida pessoal impactada. Além disso, ele continua um garoto indisciplinado que deveria realizar um tratamento psicológico ou ter outros tipos de cuidados que recuperem sua identidade e sanidade. Cyril é o que mais desperta sentimentos antagônicos por ser vítima de uma família ausente, de um sistema que não cuida de seus filhos e, ao mesmo tempo, ser um jovem agressivo que está se enveredando por um caminho deliquente que coloca em risco a vida de outras pessoas. Já Guy é o pai que não deveria ter sido pai e de fato não o é, mas é o personagem que faz o público refletir se não teria a mesma escolha se tivesse um filho problemático e quisesse liberdade para trabalhar e tocar a própria vida sem nenhuma responsabilidade. O filme não emite julgamentos, mas causa um mal estar natural que faz o espectador pensar como reagiria em um contexto dramático como este.






Todos estes personagens trazem a reflexão sobre como agir em uma situação com esta ou deveriam provocar isso. Eles despertam raiva e piedade, pessimismo e esperança; logo pode-se dizer que o novo filme dos Dardenne pode não ser o melhor da cinematografia e nem ter entusiasmado ao extremo, mas em sua singeleza, há a profundidade dos dramas do homem. Ele é mais um exemplo da humanidade que está dentro de cada um. Ser humano não é ser perfeito e sim exercer defeitos e virtudes, por mais monstruosas e boas que, respectivamente, elas sejam, por isso Cyril, Samantha e Guy são personagens bem elaboradas de um drama que divide reações na plateia e são tão humanas como o Cinema deve mostrar.


Avaliação MaDame Lumière



Título: O Garoto da Bicicleta
País/Ano: França, Bélgica, Itália (2011)
Direção: Jean-Pierre Dardenne, Luc Dardenne
Roteiro: Jean-Piere Dardenne, Luc Dardenne
Elenco: Thomas Doret, Cécile de France, Jérémie Renier, Fabrizio Rongione, Egon di Mateo

4 comentários:

  1. Conheço pouco da filmografia dos irmãos Dardenne, mas sei suficiente pra compreender que os filmes deles devem sempre ser vistos porque são garantias de bom cinema! :)

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  2. Duvido que esse filme chegue aqui na minha cidade, mesmo nas locadoras!! Uma pena, pq tenho muita vontade de assistir ainda!

    Beijos Madame...
    Adorei seu twitt =D

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  3. Bem, eu acho belíssimo o filme, mas não devia ter levado todos os prêmios que levou. Pra todo caso, dá mesma essa angustia em vários momentos, mas o desfecho é o melhor e mais poético, onde ele sai, simplesmente. Acho que faltou citar a sinceridade da mão com o garoto, ela não mima nem nada. E há um problema no inicio, que o garoto é bastante antipático, mas depois é resolvido. Enfim, parabéns pelo texto!

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