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Por  Cristiane Costa , Editora e Crítica de Cinema  MaDame Lumière  e Especialista em Comunicação Empresarial  Na filmografia sobr...

Crítíca: Um brinde à vida (2014), de Jean-Jacques Zilbermann



Por Cristiane Costa, Editora e Crítica de Cinema MaDame Lumière e Especialista em Comunicação Empresarial 


Na filmografia sobre Segunda Guerra Mundial, especificamente a que retrata as crueldades do Holocausto, muitos diretores optam por enfocar o drama pós Auschwitz de forma dramática, dolorosa, traumatizante. O diretor Francês Jean-Jacques Zilberman decidiu realizar uma homenagem à vida que emana da sobrevivência pós Nazismo e, inspirado pelas memórias de sua mãe e amigas, em "Um brinde à vida" (À la vie), ele realiza uma história solar e afetiva baseada no reencontro, amizade e segunda chance.





Protagonizado por uma das atrizes francesas mais requisitas em comédias dramáticas, Julie Depardieu, o filme também traz Suzanne Clément, conhecida por sua recorrente parceria com o cineasta Xavier Dolan em  "Laurence always", "Mommy" e "Eu matei minha mãe" e Johannna Ter Steege (de "The Vanishing"). Ambientado em uma praia de Berck, no Norte da França, em 1960, as amigas Helen (Depardieu), Rose (Clémment) e Lili (Ter Steege) foram prisioneiras em Auschwitz e, após anos de distanciamento, se reencontram para um final de semana juntas. 





Diferente de reencontros que ressaltam as mazelas ocorridas no passado e trazem dor e sofrimento, "Um brinde à vida" recupera pouquíssimas lembranças dos dramas de guerra das amigas. As tristes memórias são diluídas discretamente nas cenas. A intenção não é remover a cicatriz do Holocausto, mas transformar uma memória destrutiva em vivências construtivas como tomar um sorvete com as amigas, preparar uma refeição, flertar na praia, entre outros.  Permanecer em um campo de extermínio roubou-lhes parte significativa da juventude, portanto, é nítido perceber que o desenvolvimento dos personagens é delicado, contido nas emoções, levemente apontando para um  deslocamento natural que emula variados sentimentos que estão silenciados em suas almas abusadas pela guerra. 




Com esse trio de atrizes, experientes, elegantes e alto astral, o longa tem um humor ensolarado, alternando para a discrição das personagens que não vivenciam aventuras extraordinárias, apenas seguem o rumo de um reencontro de amigas que nem a guerra, nem a tortura, nem a morte foram capazes de separar.  O passado não pode ser modificado, mas o presente pode ser melhor vivido, essa é a dinâmica que importa aqui.  Julie Depardieu herdou do pai, Gerard Depardieu, o humor tímido e carismático e domina a cena, no mais, Suzanne Clémment, excelente atriz, ressalta seu estilo mais escancarado de falar, de sentir, de amar e de viver em cena.  Não à toa que é uma das atrizes fetiche do intenso Xavier Dolan.





Como é um filme baseado em memórias pessoais do diretor, a própria limitação do roteiro deve ser encarada como decisão mais emotiva e de caráter biográfico do que profissional.  Diante de um roteiro linear que optou por um recorte menor e convencional, sem climáticos momentos e nem arcos dramáticos bem construídos, a narrativa pena exatamente por não ter um clímax. Em sua virtude maior, ela é construída como uma homenagem e como uma memória afetiva de que, apesar de toda a crueldade de uma guerra, é possível recomeçar a vida, voltar a experimentar os prazeres da amizade, do amor, da aventura. Brindar à vida é também reconhecer a vida que existe nos outros.



Ficha técnica do Imdb Um brinde à vida
Distribuição Imovision
Data de estreia no Brasil: 12 de Maio de 2016

Um comentário:

  1. Assisti o filme ontem, 23/05/2017.Resultou: "Entes pulverizados, saídos do nada, de uma guerra incruenta, somando-se em agonias, em mundos idos e vindos, sensações profundas de quem (ou daqueles todos), catapultados para a imensidão insuportável de seus desalentos, solidões imensas, carinhos breves, raridades, ares escassos...(Hermes Espíndola Jr.)

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