Por Cristiane Costa, Editora e Crítica de Cinema MaDame Lumière e Especialista em Comunicação Empresarial
O Cinema Chinês é conhecido pela sua convergência entre a Literatura medieval com seus hábeis guerreiros em artes marciais, que unem a tradição da luta política no país, e uma história que engloba a fantasia, o melodrama e o romance. Esse gênero é conhecido como Wuxia ao qual pertencem uma gama de diretores como Zhang Yimou ("Herói" e "O clã das adagas voadoras"), Ang Lee ("O Tigre e o dragão") , John Woo ("A batalha dos três reinos"), entre outros.
O novo filme de Hsiao-Hsien Hou, A Assassina (Nie Ying Niang), vencedor do prêmio de melhor direção no Festival de Cannes 2015 faz parte dessa tradição épica de guerreiros que são conduzidos na história a um desafio bem recorrente: fazer um escolha entre uma questão social e/ou política e seu desejo individual. A diferença em comparação aos mencionados é que o diretor trabalhou como um exímio artesão da Cinematografia. Ao lado do excelente Ping Bin Lee (Diretor de fotografia de "Amor à flor da pele" de Kar-Wai Wong), ele realiza um filme contemplativo, com pouquíssima ação e de excelência estética, com uma evocativa e deslumbrante beleza na direção de Arte, no uso da luz e das cores em toda a cenografia.
Qi Shu também é modelo, conhecida por ser a face do perfume Flower by Kenzo. Sua beleza agrega valor à importância estética do filme.
A Assassina é ambientado na China do século 8. Nie Yinniang (Qi Shu) é tirada de sua família e treinada para ser uma assassina e lutar contra políticos corruptos. Após falhar em uma missão, ela retorna à sua terra natal e tem uma tarefa: matar o líder local Tian Ji'an (Chen Chang), agora casado com Lady Tian (Yun Zhou). Para aumentar o drama e a tensão da missão, Nie era noiva de Tian. Com uma história promissora como esta, a narrativa poderia entregar uma jornada de fortes emoções ao público, mas não é o que acontece. A narrativa é construída com raríssimos diálogos e um conflito que não evoluí para um envolvente clímax. O drama, de natureza mais histórica, permanece nas expressões físicas dos personagens e nos silêncios que nem mesmo são totalmente rompidos após o uso da espada. Portanto, essa obra é elevada a um estado de Arte que seduz pela estética e não como a história é contada plano a plano. Faltou um melhor arco dramático e um pouco mais de contexto histórico.
Embora haja uma tradição Wuxia que permeia todo o roteiro, o longa é um trabalho puramente artístico, uma narrativa anti-clímax em vários momentos, uma crescente sucessão de planos minuciosamente modelados como uma joia cinematográfica que permanece isolada na China medieval. É um tempo que está distante, uma fantasia épica que reforça os paradoxos dos personagens. Nie é uma guerreira e poderia ser bastante combativa, entretanto, até mesmo sua habilidade não convence, sua expressividade em cena é mais plástica e nada psicológica. Tian Ji'an é um líder passivo, sem personalidade e nenhum ativismo, dessa forma, basta ao público apreciar a estética e não se fixar muito em grandes feitos e aspirações melodramáticas ou românticas.
Se por um lado, o filme evidencia que o foco não foi elaborar um Wuxia convencional, a experiência com cada plano é um exercício de análise e encantamento estéticos. Não se pode negar: o diamante do diretor foi lapidado durante 25 anos desde a concepção da ideia. A cada avanço, é perceptível que há um perfeccionismo determinante para que Hsiao-Hsie Hou tenha caído nas graças do Festival de Cannes 2015. Seu filme preza mais pela gramática fílmica que valoriza o visual. Todos os objetos, da escolha da cor à iluminação, tem o primor técnico de um diretor que se preocupou , prioritariamente, em enfatizar o "arthouse film" pelo qual é tão conhecido e apreciado.
Com essa direção de Arte e a fotografia contemplativa de Ping Bin Lee, a execução alcança um status de experiência sensorial e ritualística, retomando essa tradição mágica da mise en scène bucólica da China Antiga. É como entrar em uma jornada pelo tempo e ficar perdido em um lugar que não sabemos bem se existe! Ao apreciar os exóticos figurinos asiáticos, os econômicos movimentos de luta, as sedutoras belezas de Qi Shu e Chen Chang e o incontrolável desejo de que algo de surpreendente aconteça entre os dois, Hsiao-Hsie Hou deixa a narrativa anti convencional e anti romântica, livre para a imaginação e nas entrelinhas da fantasia. Por conta disso, "A Assassina" poderá ser frustrante para alguns e marcante para outros.
Com essa direção de Arte e a fotografia contemplativa de Ping Bin Lee, a execução alcança um status de experiência sensorial e ritualística, retomando essa tradição mágica da mise en scène bucólica da China Antiga. É como entrar em uma jornada pelo tempo e ficar perdido em um lugar que não sabemos bem se existe! Ao apreciar os exóticos figurinos asiáticos, os econômicos movimentos de luta, as sedutoras belezas de Qi Shu e Chen Chang e o incontrolável desejo de que algo de surpreendente aconteça entre os dois, Hsiao-Hsie Hou deixa a narrativa anti convencional e anti romântica, livre para a imaginação e nas entrelinhas da fantasia. Por conta disso, "A Assassina" poderá ser frustrante para alguns e marcante para outros.
Uma recomendação é necessária: este é um filme que deve ser assistido em um estado de espírito mais contemplativo, menos voltado às expectativas de uma arrebatadora ação épica e de um romance encantador. Caso contrário, ele tem alto efeito sonífero já que quase nada realmente interessante acontece em cena.
Ficha técnica do Imdb A Assassina
Distribuição: Imovision
Data de estreia no Brasil: 05 de Maio de 2016
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