Por Cristiane Costa, Owner, Editora e Crítica de Cinema MaDame Lumière e Especialista em Comunicação Empresarial
Poucos diretores conseguem contar bem e com gentilezas histórias sobre a família, adicionando à direção e ao roteiro elementos que façam o público reconhecer que há ali espaço para a convivência, o perdão e o amor. Nessa seara, Hirokazu Koreeda é um mestre. Sua competência como narrador de belas histórias ressalta outras habilidades chave como ser um excelente diretor de atores e um realizador capaz de compreender o seio familiar, suas relações e conflitos e mimetizá-los na tela de uma maneira delicada e empática. Seus últimos filmes "Pais e Filhos", vencedor do prêmio do Jurí no Festival de Cannes 2013, e o mais recente "Nossa irmã mais nova", indicado à Palma de Ouro de 2015, colocam Koreeda como um dos melhores cineastas de dramas familiares.
O filme conta a história de três irmãs que, após a morte de seu pai, começam a viver juntas com uma meia-irmã mais jovem e dividir suas experiências e emoções. Sachi (Haruka Ayase), Yoshino (Masami Nagasawa) e Chika (Kako) conhecem Suzu (Suzu Asano) no enterro do pai . Inicialmente, o que deveria ser um choque maior entre irmãs, considerando que Suzu é filha da amante do falecido, torna-se uma oportunidade de aceitação e união. Nas mãos do sensível Koreeda, a história apresenta a influência de um aspecto autobiográfico dele: seu pai faleceu quando o diretor era criança, sendo assim, Suzu é uma adolescente que está sozinha e encontrar as irmãs é uma possibilidade de pertencimento à família, de ter outras referências femininas, de sentir-se aceita, amada e apoiada por elas.
Diferente de Pais e Filhos, mais dramático e que centraliza um conflito entre uma troca de filhos biológicos e suas consequências, Nossa irmã mais nova é contemplativo, suave e intimista. É o tipo de filme que demonstra como a família está longe de ser uma instituição perfeita, mas ela ainda é um importante alicerce. Com poucos diálogos, planos fotográficos de beleza ímpar e atuações delicadas e graciosas, as irmãs conquistam a empatia porque , cada uma tem um estilo, um micromundo, um ligeiro e despretensioso desenvolvimento do personagem. Dessa forma, ainda que o roteiro não seja desfocado do propósito de ressaltar a entrada de Suzu na convivência das irmãs, Koreeda opta por adicionar cenas simples do cotidiano para tornar a história o mais natural possível. Além do dia a dia das irmãs, esse belo longa-metragem tem uma natureza bastante conciliatória, de continuidade da família e superação após o luto. Também, com pequenas sutilezas em cena, o filme mostra que perdas e magoas permanecem, mas é possível superá-los ou não se importar muito com eles e que, enfim, os relacionamentos precisam ser cultivados.
Em sua execução, ele tem um ritmo mais lento, evidência que não chega a impactar muito negativamente a qualidade, entretanto, sua principal lacuna está em termos de roteirização. Poderia ser mais assertiva, menos prolongada, mais direcionada ao conflito. Com as diversas tomadas que cobrem diferentes situações com cada irmã, Koreeda estende a narrativa sem necessariamente colocar um relevante arco dramático ou acontecimentos nela que mudem os rumos das irmãs ou criem cenas de forte impacto de conflitos interpessoais. Por isso, ele é realmente um filme contemplativo, genuinamente focado nesta relação das irmãs que não vão ter grandes desafetos. Na contramão de Pais e Filhos, aqui, Koreeda não se arrisca a criar nenhum tipo de desconforto entre os personagens ante um conflito.
Mesmo com uma boa harmonia cênica entre as quatro irmãs, são as atrizes Haruka Ayase e Suzu Asano que representam características e pequenos conflitos mais relevantes e, também, são as melhores desenvolvidas em cena e com boas atuações. A primeira por ser a irmã mais velha, que atua como uma mãe para as irmãs e que abriu mão de outros projetos para conviver com a família. A outra, por ser a caçula e a concebida em uma relação de adultério. Existe um interesssante aspecto nelas e que faz a diferença: a culpa manifestada por suas experiências de vida. Uma irmã mais velha, que age como uma mãe, se sentirá culpada se deixar as irmãs e partir para cuidar da própria vida? Uma meia-irmã, filha de uma amante, deve sentir-se culpada por ser fruto de uma relação de traição? Nesse cenário, é natural colocar-se no lugar delas e sentir suas dúvidas, tristezas, hesitações. É também muito especial a forma como as quatro irmãs também despertam um sentimento de irmandade e como é um privilégio ter a chance de ter bons e amigos irmãos. É exatamente este tipo de proximidade das personagens com emoções que são sentidas no convívio com a família que fazem de "Nossa irmã mais nova" mais uma joia de Koreeda.
Poucos diretores conseguem contar bem e com gentilezas histórias sobre a família, adicionando à direção e ao roteiro elementos que façam o público reconhecer que há ali espaço para a convivência, o perdão e o amor. Nessa seara, Hirokazu Koreeda é um mestre. Sua competência como narrador de belas histórias ressalta outras habilidades chave como ser um excelente diretor de atores e um realizador capaz de compreender o seio familiar, suas relações e conflitos e mimetizá-los na tela de uma maneira delicada e empática. Seus últimos filmes "Pais e Filhos", vencedor do prêmio do Jurí no Festival de Cannes 2013, e o mais recente "Nossa irmã mais nova", indicado à Palma de Ouro de 2015, colocam Koreeda como um dos melhores cineastas de dramas familiares.
O filme conta a história de três irmãs que, após a morte de seu pai, começam a viver juntas com uma meia-irmã mais jovem e dividir suas experiências e emoções. Sachi (Haruka Ayase), Yoshino (Masami Nagasawa) e Chika (Kako) conhecem Suzu (Suzu Asano) no enterro do pai . Inicialmente, o que deveria ser um choque maior entre irmãs, considerando que Suzu é filha da amante do falecido, torna-se uma oportunidade de aceitação e união. Nas mãos do sensível Koreeda, a história apresenta a influência de um aspecto autobiográfico dele: seu pai faleceu quando o diretor era criança, sendo assim, Suzu é uma adolescente que está sozinha e encontrar as irmãs é uma possibilidade de pertencimento à família, de ter outras referências femininas, de sentir-se aceita, amada e apoiada por elas.
Diferente de Pais e Filhos, mais dramático e que centraliza um conflito entre uma troca de filhos biológicos e suas consequências, Nossa irmã mais nova é contemplativo, suave e intimista. É o tipo de filme que demonstra como a família está longe de ser uma instituição perfeita, mas ela ainda é um importante alicerce. Com poucos diálogos, planos fotográficos de beleza ímpar e atuações delicadas e graciosas, as irmãs conquistam a empatia porque , cada uma tem um estilo, um micromundo, um ligeiro e despretensioso desenvolvimento do personagem. Dessa forma, ainda que o roteiro não seja desfocado do propósito de ressaltar a entrada de Suzu na convivência das irmãs, Koreeda opta por adicionar cenas simples do cotidiano para tornar a história o mais natural possível. Além do dia a dia das irmãs, esse belo longa-metragem tem uma natureza bastante conciliatória, de continuidade da família e superação após o luto. Também, com pequenas sutilezas em cena, o filme mostra que perdas e magoas permanecem, mas é possível superá-los ou não se importar muito com eles e que, enfim, os relacionamentos precisam ser cultivados.
Em sua execução, ele tem um ritmo mais lento, evidência que não chega a impactar muito negativamente a qualidade, entretanto, sua principal lacuna está em termos de roteirização. Poderia ser mais assertiva, menos prolongada, mais direcionada ao conflito. Com as diversas tomadas que cobrem diferentes situações com cada irmã, Koreeda estende a narrativa sem necessariamente colocar um relevante arco dramático ou acontecimentos nela que mudem os rumos das irmãs ou criem cenas de forte impacto de conflitos interpessoais. Por isso, ele é realmente um filme contemplativo, genuinamente focado nesta relação das irmãs que não vão ter grandes desafetos. Na contramão de Pais e Filhos, aqui, Koreeda não se arrisca a criar nenhum tipo de desconforto entre os personagens ante um conflito.
Mesmo com uma boa harmonia cênica entre as quatro irmãs, são as atrizes Haruka Ayase e Suzu Asano que representam características e pequenos conflitos mais relevantes e, também, são as melhores desenvolvidas em cena e com boas atuações. A primeira por ser a irmã mais velha, que atua como uma mãe para as irmãs e que abriu mão de outros projetos para conviver com a família. A outra, por ser a caçula e a concebida em uma relação de adultério. Existe um interesssante aspecto nelas e que faz a diferença: a culpa manifestada por suas experiências de vida. Uma irmã mais velha, que age como uma mãe, se sentirá culpada se deixar as irmãs e partir para cuidar da própria vida? Uma meia-irmã, filha de uma amante, deve sentir-se culpada por ser fruto de uma relação de traição? Nesse cenário, é natural colocar-se no lugar delas e sentir suas dúvidas, tristezas, hesitações. É também muito especial a forma como as quatro irmãs também despertam um sentimento de irmandade e como é um privilégio ter a chance de ter bons e amigos irmãos. É exatamente este tipo de proximidade das personagens com emoções que são sentidas no convívio com a família que fazem de "Nossa irmã mais nova" mais uma joia de Koreeda.
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