Por Cristiane Costa, Owner, Editora e crítica de Cinema MaDame Lumière e Especialista em Comunicação Empresarial
Cinema é uma Arte do imaginário e a liberdade de se relacionar com uma história da forma que bem nos pareça é um dos grandes prazeres de assistir a um bom filme. Diante dele, podemos ser desafiados a enxergar além do que está no plano, podemos ver e sentir como o relacionamento humano é, ao mesmo tempo, tão palpável e tão distante, e como dúvidas, silêncios e palavras abandonadas no esquecimento podem soar bem mais barulhentas.
Nesse aspecto, Mais forte que bombas (Louder than bombs) de Joachim Trier nos possibilita essa liberdade de observar uma família emocionalmente frágil. Recém lançado no Brasil, é um drama minimalista e intimista que não perde o viés vigoroso de narrar a história de uma família que está em processo de recuperação após um luto e os impactos dessa perda. Com um recorte que também prioriza seus problemas disfuncionais, especialmente os de comunicação entre um pai e seus filhos, o longa foi um dos destaques no Festival de Cannes de 2015.
Isabelle Freed (Isabelle Huppert) é uma renomada fotográfa que, pela natureza de sua profissão, passou boa parte do tempo longe do marido Gene (Gabriel Byrne) e de seus filhos Jonah (Jesse Eisenberg) e Conrad (Devin Druid). Após a morte dela em um acidente de carro, essa família vivencia as dificuldades de sua ausência. Jonah é pai de primeira viagem e mora em outra cidade. Conrad é um jovem tímido no despertar da adolescência e mergulhado em seu mundo de video games, isolamento social e primeiro amor. Gene tenta seguir a vida afetiva, entretanto, seu maior desafio é como se relacionar com os filhos.
Com roteiro assinado por Joachim Trier e Eskil Vogt, já é possível compreender por que o filme tem uma construção narrativa que não tem uma linearidade padronizada e que abre um maior caminho de interpretação ao espectador, estabelecendo um vínculo mais próximo ao convívio desta família e as dificuldades que eles têm de lidar com esta morte. Trier e Vogt têm origem no excelente Cinema Escandinavo e, especialmente Vogt, elaborou o roteiro e dirigiu "Blind", que tem uma história baseada em fluxo de pensamentos aleatórios que se fundem na edição e intensificam o conflito . Aqui, o mesmo ocorre. O filme retoma momentos com Laura, como flashes de sua presença, deixando sempre ao público o benefício de imaginar quem era esta mulher, como era a relação dela com o marido e com os filhos, como ela morreu, ela estava cansada da profissão, sofria de algum transtorno mental etc.
No contraponto, o universo masculino com esses 3 personagens mostra o sexo viril como também frágil. A história mostra sua intimidade: os amores , a desconfiança, a insegurança, os segredos, etc. Nesses momentos, é inevitável pensar como a ausência de uma mãe é dolorosa, principalmente quando Conrad demonstra ser um garoto criativo e amável que está passando uma fase de transformações que não pode compartilhar com uma mãe. Por outro lado, o roteiro desenvolve as nuances dessa mulher que, mesmo morta, está tão presente na história. Assim, essa figura materna, feminina e tão globalmente desbravadora, capaz de extrair muita sensibilidade com uma fotografia em campos de guerra, também era uma mulher destruída por suas vivências ou, no mínimo, cansada, deprimida.
Mais forte que bombas é um imperdível e maduro drama familiar. É atrativo à medida que nos deixa estas lacunas para reflexão, a cada plano, podemos pensar nos vivos e nos mortos, nas relações que cultivamos e nas que abandonamos, em como acertamos e falhamos e, como algumas dores emocionais permanecem como um luto intransponível que somente o companheirismo , a empatia e o amor podem suavizá-las.
Ficha técnica do filme Imdb Mais forte que bombas
Estreia no Brasil: 07 de Abril - em cartaz
Distribuição : Vitrine filmes
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