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Por  Cristiane Costa , Editora e crítica de Cinema  MaDame Lumière  e Especialista em Comunicação Empresarial  Um caminho natural...

A Juventude (Youth / La Giovinezza, 2015), de Paolo Sorrentino




Por Cristiane Costa, Editora e crítica de Cinema MaDame Lumière e Especialista em Comunicação Empresarial 



Um caminho natural a medida que envelhecemos é pensar no que fizemos na vida. Pensar nas relações familiares, nas paixões, no trabalho, no que foi realizado e no que poderia ter sido vivenciado é uma carga que pode ser pesada ou  leve, dependerá de como encaramos a passagem dos anos e o passado. Em "A Juventude", de Paolo Sorrentino, a ação transcorre com estas lembranças e  recupera os elementos da memória e do envelhecimento a partir de dois amigos  com mais de 80 anos que passam férias em um luxuoso hotel spa. 




Acompanhado de sua filha e assistente Lena (Rachel Weisz), Fred Ballinger (Michael Caine) é um compositor e maestro aposentado que não tem a mesma inspiração  e nem vontade de dedicar-se à música. Em suas conversas com seu amigo Mick Boyle (Harvey Keitel), um cineasta que continua dedicado à carreira, ambos relembram a juventude e a infância. Unidos pela amizade e por suas afinidades artísticas, enquanto Mick está em um processo de criação cinematográfica, Fred está com um humor melancólico, deprimido, intensificado por profundas recordações.






Nessa dinâmica de velhos amigos é apresentada uma reflexão sobre a própria vida e a intimista relação que temos com os tempos que passam mas não nos abandonam. As memórias estão ali afetando o presente de Fred e Mick, memórias que são belas, dolorosas, nostálgicas e que, mesmo que possam ferir ou acalmar o coração, ainda são parte integrante de uma história de vida que não pode ser esquecida na velhice. Entre tantas virtudes do filme, principalmente as sólidas atuações, a deslumbrante fotografia de Luca Bigazzi  e  magnífica canção original Simple song #3 (nominada ao Oscar 2016 e composta por David Lang),  " A juventude" se destaca como uma jornada de memórias  que injeta uma força maior para que nenhum homem desista de viver, ainda que tenha deixado de apostar em certos projetos ou se arrependido de ter tomado outros rumos. 





A riqueza narrativa dessa obra é exatamente essa sensível capacidade de expor aspectos que naturalmente incomodam nossos pensamentos quando envelhecemos. Poderia ter feito meu trabalho melhor? Poderia ter amado mais? Poderia ter sido um melhor marido, um melhor pai, um melhor amigo? Poderia ter escolhido outro projeto?  São perguntas comuns que guardam em si uma neurose que muitas vezes é inevitável e é parte da nossa natureza humana. O diferencial é como Paolo Sorrentino executa esses comportamentos e situações, como por exemplo, como perdemos a vitalidade física e o status e, ainda assim, não podemos perder a capacidade de valorizar os nossos dons, amigos, amores. Não podemos deixar de valorizar a nossa biografia. Em um dos mais belos planos do longa, é possível ver que a juventude está na alma, no que podemos construir de positivo enquanto indivíduos que têm a capacidade de amar os outros e de superar a nós mesmos.




Mais uma vez, seguindo seu estilo em "A grande beleza" e apoiado pelo mesmo diretor de fotografia,  Bigazzi, Sorrentino  recorre à construção de uma narrativa que mescla o realismo e a poesia visual, mergulhando o público em uma  experiência cinematográfica pós Fellini, com cortes para pensamentos, sonhos, memórias em uma execução evocativamente poética. Ao contar com dois protagonistas de peso, Caine e Keitel em momentos comoventes, o elenco coadjuvante com Jane Fonda, Paul Dano e Rachel Weisz  apoia bem a história e possibilita criar elos dos velhos amigos com outras experiências familiares e profissionais. 


É um filme belíssimo ao transferir para a tela  uma combinação de humor e drama que é inerente ao próprio ato de viver e de envelhecer. Assim é a vida, um caminhar constante entre risos e lágrimas, entre acertos e erros, entre a nostalgia do vivido e a hesitação do que ainda podemos viver no tempo que nos resta. Se há duas certezas em uma longa existência, uma é a morte e a outra é o envelhecimento, então que a vitalidade não seja uma incerteza em nossas experiências.





Ficha técnica no Imdb A Juventude
Distribuição: Fênix Filmes



3 comentários:

  1. A história do filme é maravilhosa, adorei o trabalho de Michael Caine. Muitos poucos filmes juntam a tantos talentos como o filme Despedida em Grande estilo fez. Parece fantástico que em um filme se pode ver uma história divertida com grande elenco compartindo seus diferentes estilos de atuação ancho que este é muito divertido do Michael Caine filmes, ri muito, sempre tem excelente história. Pessoalmente eu irei ver por causo do tudo o elenco e uma boa história

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    1. Olá Scarlet,
      O Michael Caine é um ator maravilhoso. Ele tem uma simpatia única até mesmo em dramas.
      Abraços

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  2. A Juventude é um dos melhores filmes que assisti. Os atores e a direção perfeitos, musicas maravilhosas. Cenas, fotografia, lugares encantadores, alguns que tive a oportunidade de conhecer. Sua crônica foi muito feliz, um encanto o que você escreveu ao sentir o filme. Parabéns!!!

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