Drama é na mais óbvia signficação da palavra um drama show alternativo; é um drama de jovens que se jogam em situações diversas que testam suas emoções, seus comportamentos. Ainda que sejam jovens bonitos, carentes e solitários, cada um à sua maneira, a idéia legítima deles não é buscar tanto uma identidade pessoal, mas buscar o sucesso, a superação na atuação teatral, o confete ao fim do ensaio. Agem instintivamente e motivados por um professor que não lhes dá trégua. Nisso reside o perigo aos seus psicológicos porque não há uma regra em suas ações nesse laboratório social do teatro, não há uma coerência técnica, a intenção é ser cruel consigo próprio e com o outro por isso há um jogo sádico-masoquista nessa película. Se é para ser o melhor ator ou a melhor atriz, estão dispostos a tudo, até a machucar, zombar e denegrir a imagem do outro, voltar e sofrer com o passado, colocar em risco suas carreiras futuras, sua saúde psíquica. Nesse sentido, as atuações são convicentes e não comprometem. Mateo (Eusébio Arenas) é um jovem sedutor, intempestivo, insano, traumatizado pelo desaparecimento da mãe. É atuante na ação protagonista porque é o centro da trama, tem uma postura pueril e de enfrentamento e provocação frente às instituições, afeta e/ou desequilibra o psicológico dos demais, Maria (Isidora Urrejola), sua apaixonada e submissa namorada e Ángel (Diego Ruiz), seu amigo gay que o deseja sexualmente.
O roteiro foi elaborado para ser uma viagem louca dos jovens, motivados pela droga Artraudiana injetada na veia, assim como o mais importante é a mescla de um olhar ficcional e outro não-ficcional no desenvolvimento da narrativa, que aproveita o contexto Chileno de ditadura e uma sociedade formal e castradora para pincelar crítica social e religiosa. Normalmente o sexo é amplamente usado como instrumento de prazer e liberdade, mas a grande ironia em Drama é que ele tenta ser libertino sem sê-lo por completo. A liberdade dos prazeres é mais exercida como discurso do que projetado em imagens tanto que o cartaz não é um ménage a trois, só uma sugestão no imaginário de quem o contempla. Além disso, o que é intrigante e factível para investigação e reflexão é que há planos nos quais a audiência não tem certeza se é realidade ou ficção, se é verdade ou dissimulação, afinal no teatro atores são atores assim como o homem é um ator social no palco do cotidiano.
Drama não é espetacular como Sétima Arte, porém considerando a cinematografia do Cinema Latino Americano, ele não faz o Cinema Chileno passar vergonha, principalmente para um estreante já que Lira usa boas técnicas de flashbacks, cortes, fotografia, montagem e, aproveita o seu background teatral para dar à película uma atmosfera mais pautada na dramaturgia. Drama também prevê algumas reflexões sobre a busca incenssante pelo sucesso a qualquer custo, o submundo que é a destrutiva mente humana e a imaturidade e a miópia existencial dos jovens carreiristas. Tanto Mateo quanto María e Ángel têm suficientes predicativos para vivenciarem positivamente novas experiências libertadoras, mas infelizmente tomam caminhos obsessivos, que nada agregam além do trauma, do desespero, da rejeição, da solidão, da dor e da morte.
Título original: Drama
Origem: Chile
Gênero: Drama
Duração: 80 min
Diretor: Matias Lira
Roteirista(s): Sebastián Arrau, Eliseo Altunaga, Matias Lira
Elenco: Isidora Urrejola, Eusebio Arenas e Diego Ruíz
Não conhecia este filme Madame, a história dele nem me chamou muito a atenção já que já vi outros filmes com a mesma temática e melhor aproveitada. Mas,olha, fiquei apaixonado pea arte dos posters! hehehe
ResponderExcluir[]s
Seu texto foi o suficiente pra me deixar curiosa para conferir!
ResponderExcluirMe parece um filme interessante. Não conhecia... É uma proposta que permeia o cinema independente americano, e setores do europeu, há algum tempo. Apenas Cuarón perpassou a temática na América Latina... Vale mesmo a conferida!
ResponderExcluirbjs
Oi Alan,
ResponderExcluirÉ um filme meio louquinho, como a maioria dos independentes. Às vezes o acho um pouco forçado em algumas viagens do personagem do Mateo, mas ok, entendo a questão Artraudiana.
bj
Oi Kamila,
ResponderExcluirConfira sim. Aposto que você vai achar uma viagem louca desses jovens, rs!
bj,
Oi Reinaldo,
ResponderExcluirÉ verdade! Eu também não conhecia esse filme, confesso que fui mais inclinada a assistí-lo por ser do Chile e pela curiosidade dos posteres com o trio de atores, mas é tudo bem diferente com Lira, essa noção de ser ficção e não ficção, ambos mesclados. Acho que você pode vir a gostar do filme se considerar esses aspectos do Teatro da Crueldade, da busca dos jovens por essa intensidade vivencial, pelo extrapolar no cotidiano para levar a matéria ao teatro.
bjs