O estabelecimento fechou suas portas após um período extenso de negociação com o atual proprietário do imóvel que tem outros interesses comerciais e financeiros na região. Além disso, após a parceria com o banco HSBC, o Cine Belas Artes não obteve um novo patrocínio que proveria investimentos no Cinema, com isso e, dada a concorrência das grandes cadeias de Cinemas em movimentados Shopping Centers e da pirataria desmedida, ficou difícil para uma Cinema com background de Arte manter-se ativo. Assim como o Gemini que fechou suas atividades em Setembro de 2010, agora foi a vez de dizer adeus à Doce Vida do Cinema Paulistano, com a exibição do filme La Dolce Vita, de Frederico Fellini , selecionado para a última projeção, a da despedida.
É com um pesar intenso que o público vê as portas do Cinema se fecharem, e principalmente eu, como paulistana e cinéfila da gema, frequentadora do local. Parece utópico acreditar que isso aconteceu. Parece um pesadelo pensar na perda emocional e cinematográfica que tal acontecimento significa, porém não quero entristecer-me, quero somente pensar que um dia o Cine Belas Artes vai voltar, nem que seja em outro lugar, afinal, ele tem luz própria, desperta o sentimento amoroso coletivo no coração de milhares de Paulistanos. Convém sabiamente levar em conta também que, esse fechamento é um movimento penoso que já vêm acontecendo nos Cinemas de Rua que, antigamente, eram recintos de luxo, principalmente os localizados no Centro da Cidade e, com o passar do tempo, ou encerraram suas atividades ou se tornaram locais de Cine Privé. Enquanto isso sobrevivem as populares redes como Cinemark e Espaço Unibanco de Cinema, respectivamente, com parcerias com bancos conceituados como Bradesco e Itaú que injetam dinheiro e um branding nessas salas.
No mais, com a condição de muitas familías que têm baixa renda ou mal sobrevivem com o orçamento apertado, dificilmente uma família tem dinheiro para pagar vários ingressos de Cinema a alguns ou a todos os seus integrantes (sem contar outros gastos como a pipoca, o refrigerante ou qualquer lanchinho e guloseima); ou seja, o ingresso do Cinema ainda é acessível em comparação a outros programas culturais mas, ao mesmo tempo, ele se tornou caro e, portanto, perde a chance de ser mais democratizado para o consumo massivo. As famílias mais populares acabam optando por comprar um DVD em vendedores ambulantes ou esperar o lançamento do DVD nas locadoras tal que toda a família assista ao filme. Também com a facilidade e ampla opção de downloads na internet, muitos usuários de Cinema deixam de comparecer às salas de exibição. Finalmente, com esse cenário econômico-social e com a falta de patrocínio, um Cinema não tem como sobreviver, principalmente em uma região cara como a da Consolação, próximo às expressivas Avenida Paulista e Avenida Rebouças e também à àrea nobre dos Jardins e Higienopólis, na qual há alta concentração e circulação de pessoas, por isso não é de se surpreender que o proprietário do local pode oferecer o imóvel dele a qualquer preço, não dando a mínima para o valor emocional e histórico dos Cine Belas Artes.
Nas minhas últimas visitas ao Cine Belas Artes, houve a presença de três cineastas fantásticos na telinha: um cômico - cético (Woody Allen, Como Conhecer o Homem dos seus Sonhos), um curador mestre de Cinema (Martin Scorsese, Uma Carta para Elia) e um homem do Tempo (Abbas Kiarostami, Cópia Fiel). Ter assistido a esses filmes por lá faz tudo ficar mais claro agora. Eles estavam predestinados a ser os fillmes da minha despedida do Cine Belas Artes, torná-lo agora o meu amor, a minha história, a minha lembrança. Com Woody Allen, o amor pode não dar certo em algumas vivências, mas prevalece a ilusão de que encontraremos um novo amor. Com Martin Scorsese, eu coleciono cada momento que tive no Belas Artes e registro na minha história, na minha enciclopédia pessoal de Cinema. Com Kiarrostami, eu guardo esse Cinema em minha vida, através dos tempos, através das Artes. Ainda que sinto-me triste como uma canção de Chopin, manterei o Cine Belas Artes na minha memória, porque ele foi e sempre será a Doce Vida do Cinema Paulistano, ele sempre será inesquecível como um clássico filme de Fellini.
É uma tristeza ao ver um espaço que dedica ao cinema fechar as suas portas. A nostalgia que lembramos de sessões maravilhosas afloram em nossas mentes e quando vemos os the end na telona, batemos o medo de não saber aonde ver e melancolia por saber que poucas salas de cinema conseguiram proporcionar a experiência a torpe quanto foi O Cine Belas Artes ...
ResponderExcluirPS: Nunca fui (FAIL) mas sei como é ver um cinema que adoramos fechar ...
Abraços!
Oi,
ResponderExcluirHá um sentimento melancólico com o fechamento do Belas Artes. É uma tristeza pensar que essa ficha tem que cair, nem que não seja agora, tão assim de imediato. Até agora custo a acreditar porque é um lugar pelo qual eu passo praticamente todos os dias, mas custo bem mais a acreditar perante essa fragilidade que existe atualmente no mercado de comercialização e exibição de filmes, já que fecharam o Gemini no ano passado e o que vemos são investimentos em salas de Cinemas dentro de Shopping Centers, fato que não é ruim porque o Cinema tem que sobreviver e se democratizar mas, ao mesmo tempo, ele precisa de lugares como o Belas Artes que tem uma história no Cinema do Brasil.
Abraços!
Fui uma única vez no Cine Belas Artes em minha ida a SP em dezembro passado, mas valeu. Vi Abutres... É triste mesmo ver um cinema de arte fechando as portas.
ResponderExcluirBelíssima homenagem!
ResponderExcluirAinda estou triste, porque o Belas Artes era um lugar que respirava Cinema. O último filme que vi lá era "Cisne Negro", um lugar perfeito para um filme idem. Vai fazer falta. :(
Beijos!