O argumento é interessante pois, para um chefe de Estado, discursar e influenciar é preciso. Não há como ele se esconder por trás de um problema que afeta diretamente a forma como se comunica e é respeitado por um país, portanto, faz sentido ter ganhado o Oscar de melhor roteiro original dado à David Seidler, assim como é digno de reconhecimento o Oscar de melhor ator a Colin Firth que, no ano anterior, realizou uma fascinante atuação em Direito de Amar (A Single Man) como um professor mergulhado na solidão após a perda do amado. Colin acabou perdendo o Oscar para Jeff Bridges, de Coração Louco. Mesmo que merecida, a premiação de Colin foi como um "tapa na cara" ou um "pedido de desculpas" da Academia. Dessa vez, eles tiveram que engolir Firth com gagueira, discurso e a elegância britânica que lhe é tão natural.
Não há como negar que O Discurso do Rei tem tudo a ver com o trocadilho do "Rei que ri por último". Ele chegou de mansinho, praticamente gaguejando sem causar muito alvoroço. Não conquistou a crítica como A Rede Social e nem tantos fãs como A Origem, ainda que seja uma produção qualificada. Enquanto o público apostava em diretores como Darren Aronofsky (e seu Cisne Negro), David Fincher e seu filme "Facebook" e Christopher Nolan com Inception, Tom Hooper e o seu "The King's Speech", era praticamente um desconhecido. De repente, surgiram várias indicações de O Discurso do Rei em premiações que mais pareciam coroações. A Rede Social, queridinho da crítica americana, foi ficando para trás como se fosse um plebeu na côrte do Rei. E não é que Tom Hooper foi o Rei do Oscar? Ganhou o prêmio de melhor diretor para a surpresa geral da comunidade cinéfila que poderia ter gaguejado: Ma-mas co-como a-a-asssim? To- Tom Ho-ho-hoper ? Tarde demais para tamanha indignação! Ele já está rindo essa hora.
Confesso que a direção dele não é desmerecida, mas é tradicional e combina perfeitamente com a Academia. Obviamente, ela tem uma impecabilidade na gramática fílmica, no entanto, não traz nenhuma surpresa além da contemplação visual, beleza e força do roteiro. É uma direção que tem um tênue frescor, de bom gosto, mas continua convencional, academista. Ele desloca muito pouco a câmera, trabalha com os planos e enquadramentos de forma cuidadosa como um filme de época costuma ser, além de ser bem apoiado pela ótima fotografia e direção de arte. Por ser uma direção mais tradicional em um filme sobre a monarquia, Tom Hooper foi a surpresa mais esperada e, ao mesmo tempo, inesperada da noite, fazendo côro à ambiguidade de sua premiação. Ele merece o prêmio pelos olhos da Academia e dos lobistas , mas desmerece pelos olhos dos formadores de opinião que sabem que essa direção dele não é superior aos seus concorrentes. De certo, havia possibilidades dele vencer porque a Academia não está preparada para reconhecer diretores visionários, que pensam fora da caixa e que costumam incomodar bastante com os filmes que realizam, basta pensar que David Fincher já dirigiu Clube da Luta, Darren Aronofsky realizou Requiém para um sonho, e o mais injustiçado da noite, Christopher Nolan fez a obra prima Batman - O Cavaleiro das Trevas. Aliás, Nolan nem teve a chance de concorrer com Hooper. Infelizmente, ele nem chegou a ser indicado para o Oscar de melhor Diretor.
Com isso, além da risonha zebra Tom Hooper, a festa do Oscar teve outras duas zebrinhas: James Franco e Anne Hathaway, novos mestres de cerimônia que não souberam dar à premiação o vigor e o entretenimento necessários ao evento mais aguardado do ano. Anne estava um pouco mais à vontade, mas nem isso resolveu, James Franco estava paralisado como se tivesse caído no Grande Canyon. Nem se ele ganhasse o Oscar como melhor ator em 127 horas, ele sairia daquela inércia. Por outro lado, algumas justiças foram feitas como a premiação de Natalie Portman como melhor atriz por Cisne Negro, o roteiro adaptado de A Rede Social e os prêmios técnicos de A Origem como o de som e efeitos visuais. Ainda assim, é importante repetir sem gaguejar: a festa do Oscar contina previsível, um fiasco de audiência e nada apaixonante, seguindo dessa forma os canônes da Academia, ou melhor, o absolutismo da monarquia Academy Awards colocando o excepcional Cinema como se fosse um mero súdito.
Concordo plenamente com a última frase de seu texto. Hooper tem uma direção certinha e tal, mas não engoli ainda a vitória dele, ainda mais que tinha na disputa gente como Aronofsky, Fincher e Coens. Já os prêmios para Natalie e Colin foram merecidos.
ResponderExcluirBeijos, querida! ;)
É... a frustração foi grande, mas no geral não chegou a ser um Oscar injusto. Foi decepcionante pela ótima seleção apresentada e pela opção formalizada. Agora a cerimônia, essa sim, foi a mais chata em anos. Uhu fora James Franco e Anne Hathaway né?
ResponderExcluirPS: Mas continuem bons e carismáticos atores longe do palco do Kodak...
bjs
Não dá, sinceramente, para reclamar da vitória de "O Discurso do Rei". O filme era o favorito... Agora, podemos reclamar da vitória de Tom Hooper e do James Franco como apresentador (a Anne Hathaway que segurou a onda). E fiquei feliz com as vitórias de Natalie Portman e de "A Origem".
ResponderExcluirOi Darling. Seu texto está excelente, bela créitica!
ResponderExcluirPois é... O Discurso Do Rei levou a melhor. Como filme ele omite alguns momentos mais interessantes fora do palácio de vidro do Rei Gago. Acho que faltou um pouco mostrar Churchill. Rs!
Enfim, como direção não vi nada de muito ousado, de um cara que não tem o passado de visionários como Fincher e Aronofsky, como você cita no text. O filme só ganhou status graças ao Colin Firth que emociona. Só ele realmente mereceu a estatueta!
Um ano de obras brilhantes como Inception, Black Swan, True Grit, 127 Hours e o meu favorito: The Social Network. AFFFF o Rei levar a fama de Melhor Filme do ano!
Enfim. Oscar pode ser o resultado de uma publicidade errada.
"Isso é tututudo pessoal"!?
Bjs.
RODRIGO
Quando anunciaram que Tom Hooper era o vencedor de Melhor Direção do ano. Fiquei com cara de tacho, tentando encontrar respostas para esta vitória.... Afinal, tinhamos Aronofsky, Nolan e um Fincher [que pra mim, não foi grande coisa assim atrás de 'TKS']. Mas já era de se esperar isso de uma Academia, aonde nem Nolan havia sido indicado... Agora, Aronofsky merecia taaanto!
ResponderExcluirJames Franco? Foi um verdadeiro boneco de cera em cena.
[]s