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Dreamgirls , o vencedor do Globo de Ouro de melhor filme - comédia musical em 2007, tem variadas virtudes que o tornam um musical...

Dreamgirls - Em busca de um sonho (Dreamgirls) - 2006





Dreamgirls, o vencedor do Globo de Ouro de melhor filme - comédia musical em 2007, tem variadas virtudes que o tornam um musical contagiante e envolvente, tendo ganhado 3 Globe Awards (melhor filme, melhor ator principal para Jamie Foxx e melhor atriz principal para Jennifer Hudson) e recebido 8 indicações para o Oscar, no qual levou as estatuetas de melhor atriz coadjuvante para Jennifer Hudson e melhor mixagem de som. Dentre essas virtudes, destacam-se que o musical tem um roteiro bem harmonizado entre belas e ritmadas canções do R&B da América dos anos 60 e 70, os conflitos pessoais e profissionais dos músicos e executivos, e o amadurecimento do show business Afro-americano da época; além de estrelar um elenco atrativo com Jamie Foxx, Eddy Murphy, Beyoncé Knowles, Jennifer Hudson, Danny Glover, entre outros. A história é baseada em musical da Broadway de Tom Eye e Henry Krieger, que se inspirou em fatos verídicos da trajetória do grupo musical feminino Diana Ross and The Supremes e na evolução do R&B na poderosa Motown Records, a legendária gravadora Americana que teve artistas icônicos como Jackson Five, The Temptations e Marvin Gaye.












Na Detroit da década de 60, berço do R&B e conhecido cenário da indústria automobilística Americana, a história começa com o sonho de 3 garotas afrodescendentes, Effie White (Jennifer Hudson), Deena Jones (Beyoncé Knowles) e Lorrell Robinson (Anika Noni Rose) que se apresentam em competições noturnas para ganhar visibilidade e uma oportunidade em suas carreiras musicais. Após receberem uma proposta do ambicioso vendedor de carros, Curtis Taylor Jr (Jamie Foxx), elas se tornam backing vocals do cantor James Thunder Early (Eddie Murphy) e iniciam uma jornada de busca pelo seus sonhos até formarem as Dreamettes. A criação desse grupo faz referências a Supremes e à tradição da Motown, que criou os grupos musicais femininos de grande sucesso na cena musical dos USA. Mais tarde, após uma nova empreitada mais "pop" de Curtis, agora como presidente de uma gravadora, e alguns desafetos e separações do grupo, as Dreamettes se tornam as Dreams.











O roteiro está bem estruturado, como narrativa linear, de forma a contar a evolução do grupo. Ele começa a cantar em redutos do R&B Detroit, tem como principal compositor o irmão de Effie, C.C White (Keith Robinson), lança uma boa música nas rádios e chega aos espaços mais elitizados dos brancos americanos. Nessa trajetória, Curtis se torna um homem ganancioso, cada vez mais endinheirado e com poder de presidente da gravadora para incluir e cortar músicas, podar e banir artistas, dominar sua esposa Deena e ser corruptível. Também não ficam de fora músicos em situação de pobreza e envolvimento com drogas, materializando que todo sonho pode se tornar um pesadelo. No geral, o roteiro dá conta dos bastidores de artistas e gravadoras. Mescla, com isso, a variável dos conflitos amorosos com as desavenças entre Curtis, Deena e Effie. Introduz alguma evolução musical entre as décadas, com a entrada do funk soul, R&B com pegada mais pop, baladinhas e as adaptações disco. Todas essas referências como as B.B King e Jackson Five ingressam no filme através dos concertos musicais no roteiro nada ingênuo do diretor Bill Condon. O cineasta e roteirista é capaz de conversar com o expectador usando a música como personagem, e finalizar a história de forma simples, porém verdadeiramente emocionante.









Dreamgirls tem um bom ritmo, ainda que abuse bastante de várias canções, uma atrás da outra, o que pode cansar os menos tolerantes. Na verdade, há muitas delas, porém o longa ainda mantém a narrativa com musicalidade e deve agradar mais quem curte esse tipo de som e aprecia ouvir canções em sintonia com as emoções dos personagens. Com uma edição fluída, um figurino estiloso e uma trilha sonora contagiante, envolvente e embutida de músicas que dialogam e expressam os sentimentos do elenco, o longa é emocionante e um excelente entretenimento, principalmente musical. Ele consegue manter uma boa conexão emocional através da música e isso é um grande valor na experiência cinematográfica. Para quem aprecia a R&B, ritmos românticos da época de ouro da Motown e magníficas vozes como a de Jennifer Hudson, esse musical é um must have.





O longa injeta um pouco mais de imaginação no expectador de como foi a evolução da gravadora. É possível estabelecer uma relação histórica com a adaptação: a saída de Florence Ballard do Supremes (nesse contexto, representada por Jennifer Hudson), o envolvimento amoroso entre Diana Ross (personificada através de Beyoncé) e Berry Gordy Jr (presidente da Motown, com atuação de Jamie Foxx) e a rixa vocal entre Diana e Florence. Essas referências a fatos verídicos acabam por deixar levemente mais claro que Florence, a grande voz da Supremes, foi banida do grupo por Berry e passou dificuldades financeiras, alcançando uma situação de desemprego e pobreza que afogaram seu talento e anteciparam seu declínio. Embora o filme tenha sido mais otimista com a referência à Florence, que teve um fim trágico na carreira, de uma forma bem clara, a produção da Dreamworks com a Paramount pinta uma imagem bem mais negativa do presidente da Motown. A narrativa declara que Curtis Taylor construiu um império musical, se importava mais com o benefício comercial de uma música do que com sua capacidade de falar emocionalmente com o público e prejudicou artistas como Eiffe White e James Thunder Taylor. Por outro lado, não se pode negar que, para elevar artistas como The Supremes e The Temptations, em uma sociedade preconceituosa como a Americana, e em época de lutas por direitos raciais sob a voz emergente da liderança de Martin Luther King, o executivo deve ter sido desafiado a ter pulso, mãos e coração de ferro, por suposto compreendido como frio e árduo com seus artistas. É sabido que ele não gostou da adaptação de Dreamgirls, o que faz todo o sentido, Jamie Foxx incorpora nuances comportamentais típicas de um executivo bem insensível.







Além da adorável trilha sonora, marcante com canções clássicas como And I am telling you I 'm not going e mais modernas como Listen , e belas músicas românticas como o dueto When I first saw you e I love you, I do, o diferencial do longa são as atuações de Jennifer Hudson e Jamie Foxx, bem apoiados por um elenco de coadjuvantes que tem uma boa sinergia. Jennifer, em especial, mereceu todos os seus prêmios e canta com a alma, elevando as músicas a uma qualidade excepcional. Ela também evoca a artista talentosa que, por ter uma personalidade forte e de não submissão, sofre as consequências da queda ou da falta de melhor oportunidade para exercer sua arte. Sua performance vocal quando pede ao amante que não a abandone é emblemática, assim como seu orgulho ferido por deixar para trás um sonho que não havia acabado. Com a personagem Effie, fica mais evidente que Dreamgirls é um filme que inspira o público a não deixar a mágoa e o abandono impedirem a felicidade. Ele é a prova viva de um musical moderno que ensina à audiência a não desistir dos sonhos.







Título original: Dreamgirls
País/Ano: EUA/ 2006
Diretor: Bill Condon
Roteirista: Bill Condon
Elenco: Jamie Foxx, Jennifer Hudson, Beyoncé Knowles, Danny Glover, Eddie Murphy etc.

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