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Repescagem Mostra Play - 04 a 07 de Novembro
Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
O longa-metragem Na Prisão Evin (At the End of Evin, 2021) dos diretores Iranianos Mehdi e Mohammed Torab-Beig apresenta a dramática história de Amen (voz de Mehri Kazemi), uma mulher transgênero que, diante do forte desejo de realizar a cirurgia de redesignação de gênero, conhece Naser (Mahdi Pakdel), homem rico e poderoso que está disposto a ajudá-la. O que ela não imaginava é que estava ingressando em uma jornada de violência e sacrifício que comprometeu sua liberdade.
Conduzido com uma perspectiva subjetiva na qual o espectador observa os demais personagens e espaços através a visão de Amen, o longa coloca o público na experiência da protagonista e materializa uma prisão simbólica. É uma trama perigosa na qual ela percebe como foi usada para atender os objetivos de Naser. Esta câmera pelos olhos de Amen representa a tensão vivida por ela que é deslocada para o público, sendo assim, as falas patriarcais e dissimuladas de Naser assim como as atitudes duvidosas dos demais personagens trazem um clima de perversidade e insegurança.
O dispositivo do ponto de vista de uma vítima absorve intensamente o drama da experiência, assim, transformando a narrativa em algo desolador, em contínuo suspense com um clima de horror moderno. É uma lente que se abre para observar as segundas intenções dos outros e como os discursos são construídos cinicamente por poderosos para se apropriar dos corpos, ausências e desejos alheios.
Na excelente interpretação de Mahdi Pakdel, o drama provoca mal estar e intensifica a pressão do poder oriundo de classe e gênero. Ele encarna bem o homem rico e odiável que consegue conduzir as ações para o bem próprio. Seu comportamento reforça as intenções gananciosas que inicialmente fizeram com que ele pedisse para Amen fingir ser sua filha para a avó cega. Amen aceitou utilizar essa máscara para obter a cirurgia, mas depois começa a perceber que Naser tem ambições bem mais perigosas do que apenas uma mansão como herança.
O dispositivo da subjetividade tende a cansar um pouco, como recurso cinematográfico, considerando que constrói uma narrativa claustrofóbica e exaustiva na forma como foi dirigido. Porém, é importante considerar que se trata de um filme-denúncia sob a perspectiva do horror sofrido por pessoas trans na sua condição social e econômica. A prisão de Amen começou bem antes, a partir da dependência do financiamento de um ganancioso milionário.
Fotos, uma cortesia Mostra SP para divulgação da crítica.
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