Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
Continuamente o drama da imigração tem sido abordado nas produções Europeias sob diferentes perspectivas, tanto de gênero como raça, identidade e nacionalidade, fato que contribui para a denúncia das atrocidades vivenciadas por milhares de pessoas diante de uma intolerância sistemática e traz à superfície distintos absurdos historicamente construídos que, em grande parte, são desconhecidos da ampla audiência.
A parceria entre Miha Mazzini e Dusan Joksimovic em Apagada (Erased | Izbrisana, 2018) realiza um eficiente recorte sobre a prática de "apagamento" de cidadãos de outras repúblicas da ex-Iugoslávia na Eslovênia. Com o protagonismo da atriz Judita Frankovic no papel de Ana, uma mãe que dá à luz no hospital, descobre que está apagada do sistema e é obrigada a se separar da filha recém-nascida, a história retrata a sua dolorosa luta como uma estrangeira em um país que foi seu lar por anos.
A narrativa é construída com objetividade e economia em termos de roteiro, considerando que Ana é uma personagem que está sozinha e tem poucos recursos para lutar pela recuperação da filha. Uma vez, sendo uma "apagada", ela é como um zero à esquerda para a sociedade. Tamanha frieza dá uma dimensão de que os conflitos étnicos e separatistas da antiga Iugoslávia deixaram fraturas sociais profundas.
Os personagens coadjuvantes, como o pai e o ex-amante, ajudam na jornada como uma luz no final do túnel, de forma a criar possibilidades para Ana, porém ainda são personas de uma Eslovênia fragmentada e suportada por uma máquina burocrática Kafkiana, pela influência do governo autoritário e por uma mídia pouco expressiva. Eles pouco podem fazer para ajudá-la, assim, estas ações limitadas dos coadjuvantes reforçam o quanto o apagamento deixa os cidadãos locais e estrangeiros com as mãos atadas.
Embora o filme foi realizado de uma forma datada como uma denúncia histórica, política e social e com fotografia e atuações próximas aos suspenses de guerra, ainda se trata de uma história intimista sobre maternidade e imigração. Com isso, o diferencial de Apagada é a atuação de Judita Frankovic, crível e direta. A sensibilidade materna catalisada de forma não sentimentalista na sua atuação transforma esta jornada em algo muito mais poderoso e verossímil.
Se Ana esmorecer sua força apenas em lágrimas e desespero, é como dar o prêmio aos intolerantes. Ela sempre será uma mãe, apagada ou não, e esta força é tremenda.
Fotos, uma cortesia do filme para crítica.



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