Sou MaDame Lumière. Cinema é o meu Luxo.

Indicado a melhor filme estrangeiro no Oscar 2016 Por  Cristiane Costa , Owner, Editora e Crítica de Cinema  MaDame Lumière  e Esp...

GUERRA - A WAR (Krigen, 2015), de Tobias Lindholm






Indicado a melhor filme estrangeiro no Oscar 2016



Por Cristiane Costa, Owner, Editora e Crítica de Cinema MaDame Lumière e Especialista em Comunicação Empresarial 




A dinâmica inicial de "A War" (Krigen), o representante da Dinamarca na categoria de melhor filme estrangeiro do Oscar 2016, não apresenta nenhuma surpresa em comparação a outros dramas de guerra que têm soldados estrangeiros em territórios islâmicos. Entrecortado por planos com militares em campo aberto sobrecarregado por minas, movimentação de câmera na mão e em estilo documental e tomadas internas que introduzem ao público quem lidera a operação, seu perfil de comando e equipe, o longa-metragem de Tobias Lindholm antecipa duas características básicas desta história: o peso e as consequências de decisões arbitrárias no campo de batalha e o julgamento de crimes de guerra . 





Pilou Asbæk : de "Borgen" para as telonas dos Oscarizáveis 
e depois para Game of Thrones. 



Ambientado no Afeganistão, a história enfoca o chefe de uma companhia militar Dinamarquesa, Claus Michael Pedersen (Pilou Asbæk, de "Borgen") que está em campo há meses. Pai de 3 filhos e casado com Maria (Tuva Novotny), sua ausência é claramente sentida no contexto doméstico à medida que a esposa tem que se virar sozinha para cuidar dos filhos pequenos, além das lacunas emocionais que separam filhos e pais militares. Além do mais, considerando as nuances comportamentais em jogo, o roteiro explora a desumanização do soldado já que, desde o início, Pedersen é racionalmente empenhado no seu papel de líder e dá pouco espaço a vulnerabilidades emocionais, tanto as suas como a de seus subordinados. 







A partir de uma situação letal que envolve inimigos do Talibã em uma ofensiva contra a companhia, Pedersen toma uma decisão sob pressão para proteger os seus homens. Como consequência, será dispensado do comando e retorna à casa. O que seria uma grande alegria familiar, transforma-se em um angustiante problema que poderá separá-lo de sua esposa e filhos. Ele é acusado de  um crime de guerra e passará por um julgamento. Neste ponto, a história torna-se mais complexa e atrativa por motivos bem realistas quando analisamos o peso de ser soldado: O que é um crime de guerra quando um comandante deve proteger os seus soldados e é treinado para matar e não demonstrar muitas emoções? O que é uma decisão equivocada em campo de batalha quando a linha entre a vida e a morte está no fogo cruzado?  E  qual é a responsabilidade do Estado quando envia seus cidadãos esta linha de fogo sabendo que estes podem matar inocentes?







Além destas contudentes questões, o retorno de Pedersen à casa possibilita humanizá-lo e vê-lo na ativa como pai, amado pela esposa e pelos filhos, estimado por alguns leais soldados e amigos. A dimensão do drama doméstico coopera para humanizar a história e também justificar porque Pedersen não é um homem tão frio assim e porque é importante que ele esteja em casa exercendo o seu papel de líder da família. Desta forma, o roteiro tenta construir uma narrativa que apresenta não apenas o soldado, mas o pai e o cidadão e são exatamente estas dimensões que transformam a história em um bom objeto de reflexão, muito mais sensível e humanizado.


Como o cinema Dinamarquês desenvolve histórias que impactam em questões morais com frescor e objetividade, "A War" tem um bom resultado ainda que tenha qualidade inferior em comparação à maioria de seus concorrentes no Oscar. A direção não tem uma marca e estilos precisos, entretanto, não compromete o trabalho dos atores que acabam sendo fundamentais para expor as cenas mais importantes. O roteiro é frágil na parte do drama de tribunal porque as evidências do crime são simples e claras, consequentemente os argumentos de promotoria e advogado poderiam ter sido melhor explorados se o caso fosse um pouco mais estruturado e complexo. 






Se ele não é um filme tão excepcional, porque está concorrendo em uma categoria de pesos pesados no Oscar? Seu valor é ser um drama universal de guerra. A academia também gosta deste tipo de produção! Todos os soldados, em maior ou menor grau, já passaram por uma situação como esta, seja como filho, pai, esposo, amigo, ou no mínimo já viram colegas nesta situação ou se imaginaram como réus. Decisões entre a vida e a morte em um campo de batalha no qual, a qualquer momento, seu corpo pode ser destruído por uma bomba ou um tiro certeiro de fuzil colocam uma pressão psicológica muito intensa em qualquer ser humano à serviço de uma nação. Assim, o filme não dará todas as respostas que o público espera e não será milimetricamente bem desenvolvido, mas nos faz pensar sobre o peso das escolhas e da responsabilidade de um soldado que tem que desempenhar o seu papel como cidadão, aliás um papel ingrato, pois a guerra é uma questão política, de interesses financeiros e endossada pelo poder de poucos, portanto, o soldado é um executor e, como consequência, um homem condenado a fortes traumas de guerra. Existe pior condenação do que esta?





Ficha técnica no Imdb - Guerra  (A War / Krigen)



0 comentários:

Caro (a) leitor(a)

Obrigada pelo seu interesse em comentar no MaDame Lumiére. Sua participação é muito importante para trocarmos percepções e opiniões sobre a fascinante Sétima Arte.

Madame Lumière é um blog engajado e democrático, logo você é livre para elogiar ou criticar o filme assim como qualquer comentário dentro do assunto cinema e audiovisual.

No entanto, não serão aprovadas mensagens que insultem, difamem ou desrespeitem a autora do blog assim como qualquer ataque pessoal ofensivo a leitores do blog e suas opiniões. Também não serão aceitos comentários com propósitos propagandistas, obscenos, persecutórios, racistas, etc.

Caso não concorde com a opinião cinéfila de alguém, saiba como respondê-la educadamente, de forma a todos aprenderem juntos com esta magnífica arte. Opiniões distintas são bem vindas e enriquecem a discussão.

Saudações cinéfilas,

Cristiane Costa, MaDame Lumière