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Uma seleção especial de filmes na semana mais cinéfila de São Paulo
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Lançamento nos cinemas Brasileiros:
29 de outubro em São Paulo e Rio de Janeiro
05 de Novembro em outras praças. Filmaço!
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Por Cristiane Costa
Para quem aprecia o Cinema de Jacques Audiard, Deephan - o refúgio é imperdível e um dos grandes lançamentos do ano. Dedicado a tratar temas complexos que envolvem estrangeiros na França, Audiard ganhou a Palma de Ouro com a melhor direção no Festival de Cannes 2015 e trata de um tema bastante contemporâneo - a imigração de refugiados de guerra. Na busca por uma autenticidade na abordagem desse nevrálgico argumento, o cineasta trabalha com um elenco central formado por estrangeiros com nenhuma ou pouquíssima experiência como atores.
Antonythasan Jesuthasan (Dheepan), Kalieaswari Srinivasan (Yalini), Claudine Vinasithamby (Illayaal) interpretam refugiados do Sri Lanka que vão morar na França como ilegais. Ex-soldado, Deephan perdeu amigos e aqueles que amava, forma um falso casamento com Yalini e adota como filha a órfã Illayall. Todo essa engenhosa dissimulação para conseguir sair do país em guerra tem uma urgente necessidade: sobrevivência. Estão dispostos a encenar uma família de mentira, escolha que também é feita por diversos estrangeiros, mesmo os que não estavam em países em guerra, para conseguir viver em outro país.
Com mais uma parceria com o seu fiel roteirista Thomas Bidegain, que colaborou com O Profeta e Ferrugem e Osso, e com Noé Debré, Audiard estrutura uma narrativa bem interessante quando forma um casamento de conveniência entre pessoas que não se conhecem direito e não se amam, e principalmente, coloca o casal em um outro tipo de zona de guerra: a da vizinhança tomada pelas gangues, o tráfico de drogas e toda a violência de uma terra estrangeira em contínuo ou iminente estado de caos. O casal mora em um conjunto habitacional na periferia em um clima de insegurança e perigo. Deephan vai trabalhar como zelador e Yalini como empregada doméstica. Illayall tem dificuldades de se relacionar na escola e sofre o desprezo das colegas.
Como a maioria dos longas sobre o tema, eles têm dificuldades de adaptação, de dominar o idioma e se firmar no país. Também começam os conflitos entre Deephan e Yalini, assim como entre Yalini e Illayall. A tensão é constante e, uma das escolhas inteligentes do roteiro e direção foi priorizar os conflitos dentro dessa vizinhança e não pulverizar as cenas em muitas outras localidades, desta forma, o público pode analisar como são as relações nesse novo contexto de guerra.
Como a maioria dos longas sobre o tema, eles têm dificuldades de adaptação, de dominar o idioma e se firmar no país. Também começam os conflitos entre Deephan e Yalini, assim como entre Yalini e Illayall. A tensão é constante e, uma das escolhas inteligentes do roteiro e direção foi priorizar os conflitos dentro dessa vizinhança e não pulverizar as cenas em muitas outras localidades, desta forma, o público pode analisar como são as relações nesse novo contexto de guerra.
O roteiro é bom, porém não é o ponto forte. É a direção experiente e segura e as atuações convincentes dos personagens refugiados que tornam o longa uma experiência sensível, bem dramática. Jesuthasan é o que apresenta mais virtudes como ator, também porque é escritor, o que o ajuda a trabalhar com textos densos, mas Srinivasan e Vinasithamby apresentam as faces da mulher e da criança em uma cruel realidade. Elas são a representação da força, sensibilidade e tolerância da mulher em uma vizinhança tomada por homens violentos. Percebe-se isso na forma como Yalini trabalha na casa de Brahim (Vincent Rottiers, de "Renoir"), um líder de gangue em condicional, e cuida do tio dele. Ela não tem muita saída e precisa do dinheiro, mas também ela age com generosidade e educação.
No geral e, de forma muito positiva, a inexperiência ou pouco background desses atores facilita o seu processo de deslocamento social como refugiados. A todo instante é possível observar que seus personagens são frágeis e inseguros ou agem com picos de irritabilidade, impulsividade e fuga, comportamento que é bem natural considerando o choque social e cultural e as dificuldades para mudar de vida.
Na verdade, não há como não ter uma empatia com relação à essa família de aparências, por isso a ideia de formar um núcleo familiar que precisa ser tolerante uns com os outros enriquece o drama e foi essencial na construção da história. Imagine eles terem que conviver com estranhos em um país estranho para se firmar na vida em um país que sempre os considerará estrangeiros. Ser estrangeiro não está apenas na vivência em um país no qual são ilegais, mas eles também são estranhos dentro da própria casa. No contraponto do clima pesado, há cenas mais sensíveis e luminosas que tentam resgatar a identidade e a convivência em família como em uma tentativa de sobrevivência de suas essências pessoais. São nessas tomadas que Audiard deixa a história mais suave, esperançosa, afetiva; entretanto, desvencilhar-se do passado e olhar para o futuro tem inevitáveis estranhamento e dor.
Mas encontrar uma luz no final do túnel é preciso, assim, apesar de ser um filme denso, violento, Audiard foi otimista. No desenvolvimento final, ele impulsiona a narrativa com uma virada surpreendente e incendiária como um ato de coragem, heroísmo e apropriação de um novo caminho. A mensagem que fica é que a guerra não acabou. Lutar é necessário! Vencer é uma possibilidade. O melhor refúgio ainda está em cada um de nós.
Mas encontrar uma luz no final do túnel é preciso, assim, apesar de ser um filme denso, violento, Audiard foi otimista. No desenvolvimento final, ele impulsiona a narrativa com uma virada surpreendente e incendiária como um ato de coragem, heroísmo e apropriação de um novo caminho. A mensagem que fica é que a guerra não acabou. Lutar é necessário! Vencer é uma possibilidade. O melhor refúgio ainda está em cada um de nós.
Ficha técnica do filme ImDB Deephan - o refúgio
Distribuição : Califórnia filmes
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Cristiane Costa, MaDame Lumière