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Uma seleção especial de filmes na semana mais cinéfila de São Paulo
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Por Cristiane Costa
Vencedor de melhor roteiro no Festival de Cannes 2015, Chronic de Michel Franco é um necessário soco no estômago e trata o fim da vida com naturalidade. Aproxima o espectador de pacientes com doenças crônicas e próximos à morte mas, ao mesmo tempo, trata os enfermos com respeito e dignidade através dos cuidados do atencioso enfermeiro David, interpretado com maestria por Tim Roth. É o ator que sustenta a qualidade do longa do começo ao fim e dá o tom dramático certo à sua profissão, sem apelar para sentimentalismos baratos.
Michel Franco e Tim Roth: excelente parceria em Chronic.
Foto: Vignette Magazine
David trabalha para uma agência de Nursing home care e presta serviços a pessoas que estão com doenças graves como AIDS, câncer etc. Tendo perdido o filho e ainda transtornado por esse drama pessoal, David catalisou sua perda de uma maneira positiva: é um enfermeiro extremamente dedicado aos seus pacientes. Muito mesmo. Sua lealdade chega ao ponto de romper as rígidas barreiras profissionais e ajudar o paciente na minimização da dor, fato que traz complicações ao seu trabalho em determinadas cenas. Devido à excelente atuação de Tim Roth, bem concentrado, calmo e consciente da importância de profissionais que lidam com a saúde e home care residencial, David é um personagem bem concebido e executado.
Ele também se torna melhor protagonista quando nota-se o descaso, deslocamento ou falta de maturidade da família para lidar com seus próprios doentes, afinal, esta é uma realidade recorrente. Quando alguém fica muito enfermo em nossas famílias ou entre amigos e conhecidos, é difícil saber ou aprender a reagir diante desses sofrimentos. São situações que só vivenciamos quando acontece de forma muito próxima a nós e depende muito de cada pessoa. Alguns encaram mais naturalmente, outros sofrem demasiado. E, ainda assim, conviver com pessoas com doenças graves e com grande risco de óbito exige uma boa dose de autoconhecimento e sensibilidade para se relacionar com a própria dor e a dor dos outros.
Michel Franco é um cineasta que gosta de trabalhar com filmes de temáticas densas e fortes e com bons protagonistas, então a experiência costuma ser realista e intensa. Diretor de "Depois de Lucía", um dos seus filmes mais conhecidos, e produtor de "Desde allá" de Lorenzo Vigas, ele tem uma boa qualidade como roteirista e diretor: seus filmes fazem a audiência sair do cinema, ou deprimidos e/ou reflexivos sobre a história. São filmes que não saem da mente facilmente e que devem ser assistidos quando o espectador estiver ciente de que o longa trará um desgaste emocional. Naturalmente, Chronic consome energia, mas também, ele é honesto e claro. A morte e a doença estão aí e podem surgir a qualquer momento. Familiares, amigos e pacientes em geral terão que encará-las.
Exemplo de belíssimo enquadramento com câmera estática.
Marca registrada da direção de Michel Franco.
Franco não faz grandes acrobacias com enquadramentos e movimentação de câmera, normalmente usa câmera estática e um certo distanciamento para que o público possa observar bem cada situação. Em Chronic, por exemplo, ele deixa a câmera estática em várias tomadas ou a posiciona atrás ou na frente do protagonista. Em uma das mais belas cenas com relação à linguagem cinematográfica, quando David vai ao encontro da filha, é perceptível ver como ele decupa bons planos. Em outro, quando está alimentando uma paciente muito fragilizada pela AIDS, a câmera é colocada do lado externo à casa e tem um maravilhoso efeito na tela (foto acima). Franco é um diretor bem contemporâneo, um misto de cinema Europeu com Latino Americano considerando que é Mexicano e seus longas costumam ter colaborações com a França.
Para quem já teve entes queridos que sofreram muito com uma doença terminal, Chronic é comovente e não chantageia emoções. Elas surgem naturalmente a medida que presenciamos o sofrimento alheio. Franco conduz a câmera para dentro das intimidades familiares e o resultado é muito bom. Coloca-nos com os pés firmes no chão. Não há como controlar o poder da vida de nos levar por caminhos dolorosos.
Ficha técnica do filme ImDB Chronic
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