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Após ganhar o prêmio de melhor Diretor no Festival de Cannes em 2010 por Tournée, Mathieu Amalric retorna à direção com o seu segundo longa...

Mostra 2011: A Ilusão Cômica (L'Illusion Comique) - 2010



Após ganhar o prêmio de melhor Diretor no Festival de Cannes em 2010 por Tournée, Mathieu Amalric retorna à direção com o seu segundo longa, A Ilusão Cômica, baseada na homônima obra clássica (1635) de Pierre Corneille, que conta a história de um pai, (Prindamante, o ator Alain Lenglet) que procura seu filho desaparecido (Clindor) com o qual tem uma relação distante. Para encontrá-lo, contrata um mágico (Alcandro), que com sua bola de cristal acompanha a tragicômica vida do jovem. A aventura metalinguística de Amalric em unir o teatro e o Cinema cria um resultado bem interessante, que causa um inevitável estranhamento do espectador com a narrativa milimetricamente rimada em Alexandrinos em pleno cenário de uma Paris contemporêa, assim como provoca substancialmente o ilusionismo cinematográfico, levando o público a pensar se aquilo que se vê está realmente acontecendo. Para lançar luz à magia narrativa feita por Amalric, o mago Alcandro, intepretado por Hervé Pierre, um porteiro metido à detetive que usa as câmeras de uma sala de segurança como bola de cristal, lança a seguinte frase: "Acredite somente no que você vê".





Financiado pela Comédie Française em uma iniciativa que adapta peças da comédia do repertório teatral Francês para o audiovisual, primeiramente, a obra foi feita para a TV, por isso mantém uma identidade com esta plataforma como uma série televisiva. Visualmente, seja pela agilidade do registro, seja pelo suporte da TV, é fácil imaginar a película na TV5 Monde, contudo, o que se sobressaí nesta produção é que ela ainda é um bom e surpreendente filme dadas as condições rígidas de se manter a fidelidade ao texto de Corneille e o estranhamento de se acompanhar um filme cujo texto é teatral, com atores pronunciando rimas em clima solene como se estivessem no período Renascentista.




Ainda que a narrativa pareça confusa, de difícil assimilação como um jogo de espelhos movido por tramas de paixão, ciúmes, traição e assassinato, Amalric demonstra que tem controle sob a direção e muito talento por conseguir rodá-lo em 12 dias, prazo imposto pelo programa. Realizou um filme dinâmico, com ritmo que mantém a curiosidade do público como uma brincadeira de um ilusionista com a plateia, como um convite ao voyeurismo realizado pelas câmeras de segurança. Por outro lado, o filme ainda se prende muito ao texto de Corneille como se fosse um teatro em 35 mm, o que limitou explorar melhor outros recursos narrativos e linguísticos na adaptação e até mesmo o trabalho com os atores que tinham que decorar um texto original e proclamá-lo independente de suas demais reações intepretativas ao fazer Cinema. Felizmente, o elenco que faz parte do triângulo amoroso principal é jovem, bonito e tem intimidade com o texto teatral, o que desperta interesse em apreciá-los não só pelo romance e sedução da obra como pela disciplinada atuação pautada em uma experiência prévia com o teatro. Uma parte são atores provenientes da Sociedade de Comédia Francesa, e os protagonistas deste trio convencem: Loïc Corbery é Clindor, o filho procurado pelo pai, Suliane Brahim é Isabelle, sua amada rica, Lyse (Julie Sicard), a amante rejeitada.




Muito mais do que uma obra na qual o pai tenta se aproximar do filho e saber o que se passa com ele com a ajuda de um mágico, A Ilusão Cômica é um filme que faz refletir sobre como o Cinema cria uma ilusão que facilmente o expectador aceita, compra a ideia, mesmo que o que se vê lhe seja claramente uma ilusão, um espetáculo mágico, uma estranha imitação. A todo o momento de projeção, o que se vê é mais um teatro cinematográfico, do que um Cinema que usa o teatro como inspiração e o espectador tem como desafio unir estas duas Artes, entre o registro imagético contemporâneo de Amalric e um texto de séculos atrás. Verdadeiramente, a sensação é a de que aquilo é um anacrônico faz de conta Cornelliano pelos corredores do Hotel do Louvre que está ali para um entretenimento voyeurista ou, no mínimo, que os atores enlouqueceram e decidiram recitar religiosamente Corneille. Isto não torna a obra de Amalric menor, pelo contrário, o filme tem uma dose cômica pelo próprio estranhamento do texto com o registro, tem frescor com uma pegada moderna e elegante e um final surpreendente que só reforça a ilusão criada na mente do público. O longa confirma que Amalric é um inventivo diretor, aberto a novas ideias que aproximam as fronteiras entre as distintas linguagens.

Avaliação MaDame na Mostra

4 estrelas

2 comentários:

  1. Gosto do trabalho do Mathieu Amalric como ator, mas ainda não tive a chance de assistir a um filme dele como diretor. Acho que esse aí é uma boa oportunidade para começar a fazer isso! Adorei o texto.

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  2. ah madame, não vi nem o primeiro filme dele como diretor. mas fiquei muito animado em conferir este. parece ser realmente excelente.

    beijos.

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