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"Você tem que pagar por tudo nesse mundo, de uma forma ou de outra. Não há nada livre, exceto a graça de Deus". ...

Maratona Oscar 2011: Bravura Indômita (True Grit) - 2010




"Você tem que pagar por tudo nesse mundo, de uma forma ou de outra. Não há nada livre, exceto a graça de Deus".

Ao assinarem o roteiro e a direção do contemporâneo remake de Bravura Indômita, faroeste protagonizado por John Wayne em 1969,
os irmãos Coen não fizeram somente mais um filme objetivo, fluído e divertido, mas realizaram uma excelente homenagem a esse clássico e ao gênero western, entregando ao público um filme oxigenado com o frescor e bom humor que somente Joel e Ethan Coen poderiam trazer à sétima Arte. Nessa bela refilmagem, os cineastas se mantém fiéis à literária obra prima de Charles Portis, realizam mais uma sublime parceria com o diretor de fotografia Roger Deakins (de Onde os fracos não têm vez) e contam com um atrativo elenco: Jeff Bridges, Matt Damon, Josh Broslin e a novata emergente Hailee Steinfield, revelação do Oscar ao ser indicada à melhor atriz coadjuvante com apenas 15 anos de idade.

O viés da história é um material ideal que serve como um playground para os irmãos Coen. Tem violência, drama, humor negro, punição, justiça e vingança e uma poesia rústica que, nos olhares dos diretores e de uma esplêndida fotografia, fazem de Bravura Indômita uma moderna reinterpretação do clássico dirigido por Henry Hathaway. A história gira em torno de Mattie Ross (Steinfield), uma garota de 14 anos que perdeu seu pai, assassinado por Tom Chaney (Josh Broslin) que meteu-lhe uma bala na cabeça, roubou alguns dólares e um cavalo. Sendo uma menina de personalidade decidida e madura, Mattie quer justiça e está disposta a vingar a morte do seu pai. Contrata Rooster Cogburn (Jeff Bridges), um xerife alcóolatra e decadente conhecido por ter 'True Grit' correndo nas veias. No começo, ele não quer trabalhar para a garota e, muito menos, deixá-la acompanhá-lo na jornada de vingança por terras perigosas, logo mais, aceita a bagatela de 2 moedas de ouro como recompensa pela missão, e partem para punir Chaney, com a ajuda do falastrão e corajoso Texas Ranger La Boeuf (Matt Damon).


Bravura Indômita teve um resultado surpreendente nas bilheterias considerando que é um western, um gênero para o qual muita gente torce o nariz e vira a cara. Dirigir um faroeste em um contexto atual de blockbusters facilmente descartáveis já é um ato de bravura indômita dos Coen mas também é uma atitude de quem sabe trabalhar com esse tipo de argumento e tem mais autonomia para escolher os seus projetos. Mais coragem é realizar o remake de uma lenda como John Wayne, que venceu o Oscar de melhor ator por essa performance. John Wayne é John Wayne, no entanto Jeff Bridges também é Jeff Bridges e não fez John Wayne se retorcer no túmulo de vergonha; está de novo na competição pelo Oscar de melhor ator principal, após ganhar no ano passado o prêmio por Coração Louco.





A película é um excepcional trabalho estético, um exercício de fazer Cinema a partir de imagens fílmicas que dispensam as palavras. A sequência na qual Cogburn carrega Mattie no colo é um exemplo fascinante do poder da imagem. Instantaneamente, a direção dos Coen e a primorosa fotografia de Deakins salvam o remake muito mais do que as atuações que, diga-se de passagem, são boas mas não são espetaculares. A técnica não deixa a emoção em segundo plano, no entanto é a técnica que prevalece, muito consciente. A verdadeira beleza de True Grit é adentrar o espelho que é a estética fotográfica na tela. É bem provável que o filme não teria o mesmo efeito se Deakins não estivesse no comando da direção de fotografia e não tivesse tanta proximidade aos Coen. Observamos suas texturas e cores, somos transferidos para aquele mundo distante, rústico e aventureiro, de homens bêbados e sujos e garotas solitárias e destemidas, compartilhamos da mesma jornada, torcemos pela justiça de uma orfã de pai, simpatizamos por um beberrão de um olho só, nos emocionamos com a indomável superação de Cogburn, cavalgando pela soturna atmosfera que parece não ter fim. A fita desperta emoções a partir dos antagonismos: ele é um misto de realismo e surrealismo, de não ficção e ficção, de vingança pelo preço de duas moedas de ouro e de brincadeira de velho oeste. Só há uma emoção que transita entre os dois pólos: que a punição venha a qualquer custo
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Avaliação MaDame Lumière




Chances para o Oscar:Merece ganhar o Oscar de Melhor Fotografia para Roger Deakins,categoria que tem mais mérito e oportunidade de ganhar.
Título original: True Grit
Origem: USA
Gênero: Faroeste, Western
Duração: 110 min
Diretor: Joel and Ethan Coen
Roteirista(s): Joel and Ethan Coen
Elenco: Jeff Bridges, Matt Damon, Josh Broslin, Hailee Steinfield

2 comentários:

  1. Um excepcional trabalho estético. Muito bem colocado. Concordo tb que a técnica se sobressaia às atuações.
    Enfim, um retrato sóbrio e bem ajustado do que é o filme tu colocaste aqui!
    bjs

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  2. Um bom filme.
    Ah! Adicionei o seu blog no meu.
    Abraço e prazer!

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