MaDame Cult indica clássico do terror dos anos 80 !
Baseado em obra e roteiro de Stephen King e direção de Mary Lambert, Cemitério Maldito (Pet Sematary, 1989) é um clássico do horror que transita entre as fronteiras da vida e da morte, do começo e do fim, de rituais antigos e atos presentes, da fé e perdão e da culpa. Entre esses extremos, a não aceitação da morte e a culpa pesam dolorosamente na vida da família do doutor Louis Creed (Dale Midkiff), sua esposa Rachel (Denise Crosby) e seus filhos Ellie (Blaze Berdahl) e Gage (Miko Hughes). Trata-se de um filme de terror que aborda o luto e a espiritualidade.
A família Creed vive um novo momento em suas vidas: mudam de casa para um local calmo em Ludlow no Maine. Louis é professor e tem uma conexão especial com a pequena Ellie com a qual conversa bastante e faz ligeiras promessas, como por exemplo, cuidar do gato Church. Como toda mudança aparentemente positiva, a família está bem feliz. Ao chegar de carro, nem mesmo uma perigosa estrada em frente à sua residência, parece atormentá-los. Os créditos iniciais mostram uma outra morada, o "Pet Sematary", onde os animais de estimação da região são enterrados, a maioria por ter sido atropelados na estrada. Próximo ao local, há um outro cemitério, o maldito, cujos ancestrais índios diziam que a terra ressuscita os mortos de uma maneira brutal e assustadora.
A partir de um pet, os males e estranhos acontecimentos começam a surgir, assim como a fraqueza de Louis Creed. A morte do gato Church leva o doutor a cometer uma ação mais emocional a fim de manter sua promessa com a filha. Mesmo com os conselhos do velho e soturno vizinho Jud Crandall (Fred Gwynne), Louis Creed entra em um círculo infernal de ações e reações a cada morte que surge no ambiente familiar. É um personagem que tem dificuldades para lidar com o luto. Esta premissa da narrativa faz a diferença e sustenta consideravelmente o interesse e o valor da obra como clássico cinematográfico do gênero.
Pode-se dizer que "Cemitério Maldito" tem vários elementos interessantes da obra de Stephen King, partindo da negação da própria morte (luto), dos fenômenos sobrenaturais que levam um ser humano ao limite e a ocorrência de ações insanas e perturbadoras. Além disso, esta contínua atmosfera de que há um mal iminente a qualquer instante domina o ambiente e os personagens.
Todas estas questões funcionam bem no filme quando analisadas as reações estranhas de Louis Creed, que é o protagonista. Por mais inseguro e fraco que seja em algumas situações, Louis é um personagem bastante vulnerável na forma de ser e esta característica é necessária para as tragédias que ocorrem no roteiro. Ele é incapaz de dizer não e aceitar a morte, talvez por culpa, talvez por fracasso de uma paternidade protetora que falhou em um dado momento, logo todos os desdobramentos levam a outros sofrimentos. O plano final, por mais repugnante que seja, dá uma dimensão exata da representação de luto da obra através do protagonista.
É um filme que mostra que invadir a terra dos mortos não é uma boa ideia. Eles surgem de uma forma ou de outra e são atuantes em cena. Além dos conselhos e histórias contadas por Jud, há o jovem Pascow (Brad Greenquist), um personagem específico que tenta alertar Louis e Rachel. Trata-se de um espírito, como um fantasma, que aparece em várias cenas e também nos sonhos de Ellie. Outro aspecto importante é a figura da falecida irmã de Rachel, que apresentava deformações na coluna e tinha uma face aterrorizante. Ela surge nas memórias e paranoia de Rachel como um elemento de culpa, um gatilho para o luto, o medo e a dor. Sendo assim, a culpa se faz presente e é significativa na narrativa, sempre acompanhada do luto.
Com a direção de uma mulher, algo ainda raro no Cinema de horror, esse clássico se mantém como um bom entretenimento e merece crédito exatamente por ter sido realizado por uma mulher em uma época que isso não era tão comum para o gênero. É um filme médio, não a ponto de assustar tanto já que traz elementos que envelheceram muito mal e chegam a ser engraçados, como o gato cujos olhos parecem dois buracos brancos e brilhantes e a criança Gage, no início muito fofa, depois se transforma em um tipo de Boneco Assassino, filme lançado no ano anterior (1988). A direção de arte segue uma lógica dos anos 80 e filmes de terror B, lembrando uma fluidez narrativa mais artificial na movimentação dos objetos e personagens, principalmente quando o menino Cage entra em ação. O que realmente faz a diferença é a atmosfera de um mal presente e crescente.
Diferente do seu remake realizado por Kevin Kölsch e Dennis Widmyer em uma coprodução Americana e Canadense (2019), o primeiro "Cemitério Maldito" é superior na direção, mantendo mais tensão no ambiente nos movimentos de aproximação e distanciamento de câmera, os cuidados com a decupagem do gênero, os exageros repulsivos da maquiagem gore e os close-ups nos personagens e planos detalhe. O remake protagonizado por Jason Clarke não fez tanto jus à obra e alterou totalmente a dinâmica do que acontece com cada filho do casal. Logo, ainda que o primeiro filme não tenha envelhecido tão bem como outros cult movies como " A noite dos mortos vivos" (1968), a obra continua sendo um bom clássico.
A família Creed vive um novo momento em suas vidas: mudam de casa para um local calmo em Ludlow no Maine. Louis é professor e tem uma conexão especial com a pequena Ellie com a qual conversa bastante e faz ligeiras promessas, como por exemplo, cuidar do gato Church. Como toda mudança aparentemente positiva, a família está bem feliz. Ao chegar de carro, nem mesmo uma perigosa estrada em frente à sua residência, parece atormentá-los. Os créditos iniciais mostram uma outra morada, o "Pet Sematary", onde os animais de estimação da região são enterrados, a maioria por ter sido atropelados na estrada. Próximo ao local, há um outro cemitério, o maldito, cujos ancestrais índios diziam que a terra ressuscita os mortos de uma maneira brutal e assustadora.
A partir de um pet, os males e estranhos acontecimentos começam a surgir, assim como a fraqueza de Louis Creed. A morte do gato Church leva o doutor a cometer uma ação mais emocional a fim de manter sua promessa com a filha. Mesmo com os conselhos do velho e soturno vizinho Jud Crandall (Fred Gwynne), Louis Creed entra em um círculo infernal de ações e reações a cada morte que surge no ambiente familiar. É um personagem que tem dificuldades para lidar com o luto. Esta premissa da narrativa faz a diferença e sustenta consideravelmente o interesse e o valor da obra como clássico cinematográfico do gênero.
Pode-se dizer que "Cemitério Maldito" tem vários elementos interessantes da obra de Stephen King, partindo da negação da própria morte (luto), dos fenômenos sobrenaturais que levam um ser humano ao limite e a ocorrência de ações insanas e perturbadoras. Além disso, esta contínua atmosfera de que há um mal iminente a qualquer instante domina o ambiente e os personagens.
Todas estas questões funcionam bem no filme quando analisadas as reações estranhas de Louis Creed, que é o protagonista. Por mais inseguro e fraco que seja em algumas situações, Louis é um personagem bastante vulnerável na forma de ser e esta característica é necessária para as tragédias que ocorrem no roteiro. Ele é incapaz de dizer não e aceitar a morte, talvez por culpa, talvez por fracasso de uma paternidade protetora que falhou em um dado momento, logo todos os desdobramentos levam a outros sofrimentos. O plano final, por mais repugnante que seja, dá uma dimensão exata da representação de luto da obra através do protagonista.
É um filme que mostra que invadir a terra dos mortos não é uma boa ideia. Eles surgem de uma forma ou de outra e são atuantes em cena. Além dos conselhos e histórias contadas por Jud, há o jovem Pascow (Brad Greenquist), um personagem específico que tenta alertar Louis e Rachel. Trata-se de um espírito, como um fantasma, que aparece em várias cenas e também nos sonhos de Ellie. Outro aspecto importante é a figura da falecida irmã de Rachel, que apresentava deformações na coluna e tinha uma face aterrorizante. Ela surge nas memórias e paranoia de Rachel como um elemento de culpa, um gatilho para o luto, o medo e a dor. Sendo assim, a culpa se faz presente e é significativa na narrativa, sempre acompanhada do luto.
Com a direção de uma mulher, algo ainda raro no Cinema de horror, esse clássico se mantém como um bom entretenimento e merece crédito exatamente por ter sido realizado por uma mulher em uma época que isso não era tão comum para o gênero. É um filme médio, não a ponto de assustar tanto já que traz elementos que envelheceram muito mal e chegam a ser engraçados, como o gato cujos olhos parecem dois buracos brancos e brilhantes e a criança Gage, no início muito fofa, depois se transforma em um tipo de Boneco Assassino, filme lançado no ano anterior (1988). A direção de arte segue uma lógica dos anos 80 e filmes de terror B, lembrando uma fluidez narrativa mais artificial na movimentação dos objetos e personagens, principalmente quando o menino Cage entra em ação. O que realmente faz a diferença é a atmosfera de um mal presente e crescente.
Diferente do seu remake realizado por Kevin Kölsch e Dennis Widmyer em uma coprodução Americana e Canadense (2019), o primeiro "Cemitério Maldito" é superior na direção, mantendo mais tensão no ambiente nos movimentos de aproximação e distanciamento de câmera, os cuidados com a decupagem do gênero, os exageros repulsivos da maquiagem gore e os close-ups nos personagens e planos detalhe. O remake protagonizado por Jason Clarke não fez tanto jus à obra e alterou totalmente a dinâmica do que acontece com cada filho do casal. Logo, ainda que o primeiro filme não tenha envelhecido tão bem como outros cult movies como " A noite dos mortos vivos" (1968), a obra continua sendo um bom clássico.
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