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Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e specialista em Comunicação Destaque no Festival Varilux de Cinema F...

Meu Bebê (Mon Bébé, 2019)



Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação


Destaque no Festival Varilux de Cinema Francês deste ano, Meu Bebê (Mon Bébé, 2019), novo filme da atriz e diretora Francesa Lisa Azuelos (de "O reencontro") é uma declaração de amor à maternidade. É uma bela comédia dramática sobre quando os filhos deixam a casa dos pais para se tornar independentes. Este ciclo na vida de uma mulher é um híbrido rito de passagem entre a necessidade de apoiar o amadurecimento deles, mas também de ressignificar a vida como uma nova etapa do ser mulher.




Com lançamento oficial no Brasil em 01 de Agosto e em cartaz nos cinemas, Meu Bebê é estrelado pela excelente Sandrine Kiberlain no papel da mãe Héloïse. A atriz está em estado de graça e leveza, além de uma excepcional competência para realizar uma atuação com espontâneos momentos de improvisação. Esta interpretação lhe concedeu o prêmio de melhor atriz no Festival Internacional de Filme de Comédia de L'Alpe d'Huez (2019). O longa-metragem venceu como melhor Grand Prix de Direção para Lisa Azuelos e foi assistido por aproximadamente 600 mil espectadores na França.

Inspirado pela própria biografia da cineasta quando sua filha caçula, a atriz Thaïs Alessandrin, decide ir ao Canadá para realizar os estudos, a diretora escreveu a história baseada nesta experiência desafiadora para muitas mães. Mãe de 3 jovens, a protagonista Héloïse apoia incondicionalmente os filhos, entretanto  tem aquele sentimento forte de proteção e dedicação à cria. Em vários momentos engraçados e autênticos deste bem escrito roteiro, Sandrine Kiberlain interpreta a mãe, nesta condição, com muito respeito, empatia, afeto. Sua cômica atuação, consideravelmente afetiva, é responsável por grande parte da beleza, sucesso e humanidade dessa comédia.

A cena em que Patricia Arquette (no filme Boyhood) está de frente para seu filho, que pega suas coisas e sai, sem se virar, me fascinou. Eu pensei: Então é isso? Um dia eles saem, acabou, é isso o que vai acontecer comigo? Minha última filha estava falando sobre estudar no Canadá e assim entendi que era urgente me preparar para essa eventualidade (risos). Comecei a filmar com meu celular. Depois vi que faltava uma mãe na história e escrevi a história” (Lisa Azuelos).



Jade (Thaïs Alessandrin) vivencia a jovem descolada, de espírito livre e pé no chão. Prestes a alçar o voo para uma vivência independente em outro país, Jade é filmada pelos olhos da própria mãe, tanto no filme, em que Sandrine Kiberlain utiliza um celular para registrar os momentos com a filha e deixá-los como lembranças, como também pela própria Lisa Azuelos, sua mãe na vida real. Essa tênue conexão entre a direção e a protagonista mãe apresenta uma delicada sinergia, uma verossimilhança biográfica que torna o filme bem original, com um voz bem especial da experiência materna, uma singular declaração de amor à maternidade.

“Sugeri algumas cenas, que mamãe reescreveu mais tarde, e intervi nos diálogos jovens para torná-los mais "reais". Minha mãe sempre viu muitas ideias e entusiasmo na minha geração, é um material que a inspira! Eu até me pergunto o quanto ela não se sente mais em casa com os jovens do que com pessoas da sua idade... ” (Thaïs Alessandrin)



A direção tem o mérito da consistência, graça e afeto na tratativa da temática. Trata-se de um avanço na cinematografia de Lisa Azuelos, tanto na escrita do roteiro como na direção de atores e montagem. A história funciona como um rito de passagem tanto da mãe como da filha; especificamente, Héloïse se separou quando os filhos ainda eram crianças e teve que criá-los boa parte sozinha. Essa relação os aproximou mais, assim, a edição apresenta planos nos quais Héloïse relembra momentos da infância dos filhos, na interação, descobertas e educação com as crianças, assim como planos que narram o presente, entre o papel de mãe e o de uma mulher divorciada que está sozinha e não tem um relacionamento amoroso sólido.


Lisa Azuelos e sua filha Thaïs Alessandrin na coletiva de imprensa do Varilux 2019, Teatro Aliança Françesa. Foto: Arquivo MaDame Lumiére

Tendo em vista esta alternância de planos de flashback e presente, a diretora transmite autenticidade nos diálogos e cenas em geral com os quais muitas mães, seguramente, irão se identificar. Esta espontaneidade de fazer um filme sobre a própria vida materna com sinceridade em cada cena torna o trabalho de Lisa Azuelos e equipe uma experiência capaz de se conectar com as audiências. O ótimo trabalho de edição, cuja transição temporal ocorre com sutilezas como memórias que tocam delicadamente os pensamentos dessa mãe, impacta positivamente na qualidade do longa. 

"O filme foi muito bem escrito, mas Lisa me disse: "Vá em frente, faça o que sente, eu deixo a câmera ligada"... Tive a impressão de ouvir Lisa rindo atrás de mim. Às vezes into que há um fio invisível entre o ator e seu diretor, que estamos conectados à mesma frequência." (Sandrine Kiberlain)


Deve ser notada a sensível trilha sonora original composta por Yael Naim,  uma cantora Francesa de ascendência Tunisiana. O álbum é bem harmônico com todo o longa, com destaque para canções como "Tell her", "Water", "Moment - the song", "Don't be afraid" e "The End". Este é um típico caso de soundtrack francesa que traz muita identidade ao filme, ambos conectados com delicadeza e naturalidade, além de expressar os variados momentos vivenciados por mãe e filha como rupturas necessárias. Yael Naim foi uma excelente escolha para a trilha porque sua musicalidade tem uma faceta francesa, mas também traz um ritmo folk, mais intimista, gracioso.



Coletiva de imprensa, Festival Varilux 2019. Foto: Arquivo MaDame Lumiére



Meu Bebê é um lindo filme de mãe para mães, de mães para filhos, de mães para futuras mães, de mães para pessoas em geral. Sua voz trata com leveza um momento que também traz dor para muitas mamães. Mas, verdadeiramente, ele dá esperança a estas mães que agora se vêem sozinhas em casa pois todos os filhos já estão morando fora. Ele mostra que é possível continuar vivendo, se autodescobrir, ser feliz e mais leve.



Os filhos querem amadurecer. As mães querem vê-los crescendo e sendo felizes. Entretanto, esse dizer "até logo" nem sempre é fácil. Na verdade, filhos querem a mãe por perto. Mães querem os filhos por perto. Mesmo distantes, as memórias, o respeito e o amor devem permanecer. Os filhos sempre serão os bebês, mas devem amadurecer, voar, trilhar novos caminhos. O ninho com amor sempre estará à espera deles (as) por uma visita.


(3,5)




Fotos e falas da diretora e atrizes: Uma cortesia Bonfilm distribuidora do filme, via assessoria Agencia Febre . Fotos Coletiva: arquivo pessoal MaDame Lumiére.

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