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Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
Se há uma atriz formidavelmente única e versátil entre os atores e atrizes negros da indústria de Cinema e TV, esta é Octavia Spencer. Recentemente ela estrelou como protagonista da série Netflix sobre icônica empreendedora MaDam C.J. Walker e conquistou o público em longas inesquecíveis como "Histórias Cruzadas" e "Estrelas além do tempo". É uma profissional bastante competente e aberta a vários tipos de produções como "A Cabana", "Expresso do Amanhã" e a série "Divergente". Certamente, não apenas pela sua luta diante das dificuldades e desafios de espaço de trabalho para os artistas negros, mas também porque seu talento e atuações se inserem bem em muitos tipos de personagens, como veremos no mais recente "Ma" (2019), dirigido por Tate Taylor, um dos produtores e diretor de "Histórias Cruzadas" e "Get on up: A história de James Brown".
Produzido pela Blumhouse, Ma faz parte de uma tendência de filmes de horror com elenco negro como "Corra!" e "Nós" de Jordan Peele. É um movimento necessário e incrível que tem muito a dizer sobre o racismo estrutural presente na sociedade, representado nos longas através de muito humor negro, metáforas e analogias de como a História Americana também foi construída com muita exclusão racial e social. Nessa história Sue Ann (Octavia Spencer) é uma senhora que vive com a filha e trabalha em um pet shop. Ela conhece um grupo de jovens que desejam consumir bebidas alcóolicas e oferece o porão de sua casa para que eles se divirtam. A partir daí, se dá a continuidade de um plano de vingança de Sue, chamada pelos jovens por "Ma".
Para um roteiro de horror, podemos dizer que o longa resgata algumas referências clássicas do gênero como um grupo de jovens, uma vilã estranha e vingativa, uma cidadezinha que todo mundo se conhece desde algum ponto do passado, uma casa no meio do nada que tem um porão como espaço mortal. Tudo isso demonstra que Tate Taylor, ainda que não tenha sólida experiência como diretor de horror, é muito mais um entusiasta do gênero do que propriamente um bom diretor para essa narrativa. Embora ele tenha feito o excelente "Histórias Cruzadas", horror não é sua especialidade, o que leva Octavia Spencer a carregar o filme nas costas.
A atriz consegue apropriar-se de algo que a torna muito interessante nesse papel: o estranhamento e o deslocamento da personagem. Ela é uma mulher deslocada e obsessiva, com um passado triste, que quer agradar aos jovens e fazer amigos. Ao mesmo tempo, ela desperta pena e desconfiança e mantem a filha reclusa para que ela não sofra dos mesmos males que ela sofreu na adolescência. Nas ações insanas da personagem, tudo será compreendido se analisado sob a perspectiva do trauma de natureza racial - social com um registro de horror.
Neste sentido, os traumas de Bullying e exclusão social que ela teve na adolescência se convertem em uma dolorosa aflição pois, por mais que ela seja a vilã, ela tem uma fragilidade notória que está além da solidão. Ela foi enganada, humilhada e não conseguiu superar a rejeição ocorrida na escola, logo, ela ingressa em um percurso de violência e vingança. Apesar das lacunas do filme e de uma direção bem abaixo da média, contemplar Octavia Spencer neste papel é um prazer, indicando que ela pode investir mais neste gênero. Suas caras são realmente esquisitas, levando a alguns momentos terrir.
Outro ponto de destaque é o elenco jovem, com destaque para Diana Silver, que atuou em "Fora de Série". Os demais não são tão experientes, mantendo um certo amadorismo que acontece em muitos filmes B, porém são bem engajados nas cenas, indicando que eles podem trabalhar em outras produções do tipo.
Considerando a leva de filmes de horror que abordam o racismo, vale lembrar que a ideia presente em "Ma" é realista, embora a ficção não tenha sido bem desenvolvida nos conflitos. Muitas crianças e adolescentes negras sofrem Bullying na escola, mulheres negras são usadas e humilhadas por causa da cor de sua pele e tipo de cabelo . Por mais que o filme leve as consequências a uma representação de horror e de vingança da vítima, a questão aqui presente é como o horror é utilizado para criticar o comportamento da sociedade e as marcas de uma história de preconceitos raciais e sociais. A mais monstruosa face não é a de Sue Ann, mas daqueles que agiram perversamente para ela se tornar quem é.
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