O lado inusitado já começa com a premissa narrativa de reunir um charmoso casal de Parisienses Marion (Camille Chamoux) e Ben (Jonathan Cohen) para passar férias juntos após se conhecerem no Tinder. No mínimo, isso é curioso e engraçado considerando que, atualmente nesse aplicativo no Brasil, as pessoas mal conseguem se comunicar positivamente no básico para iniciar uma relação, imagine conseguir um bom encontro e umas férias como se fosse um casal de namorados? Para a sorte de Marion e Ben, eles conseguem se encontrar e ter uma noite agradável, e depois surge a ideia de realizarem uma viagem para outro lugar inusitado: Bulgária. Quem levaria um date do Tinder para a Bulgária? Talvez algum Francês em filme Francês para a diversão da plateia.
Em favor do humor e da paixão que pode iniciar em encontros inesperados, Patrick Cassir realiza uma divertida comédia romântica que vale a sessão. O roteiro começa de uma forma mais livre e autêntica, expondo nitidamente as diferenças entre Marion e Ben, e a força da relação se desenvolve com essa oposição de estilos e preferências, decisão sedutora dos roteiristas. Realmente faz o público torcer pela felicidade deles.
Em entrevista oficial (nota abaixo), o diretor afirma algo que faz toda a diferença para o tom hilário de seu primeiro longa: contemplar o nascimento da intimidade do casal. Em histórias de amor, observar o quanto as pessoas se permitem se apaixonarem é um bel prazer pois tem a ver com o desenvolvimento da confiança no casal, com o sentir-se bem na presença do outro. Nesse percurso, nem tudo sai como esperado pois não existem relações perfeitas. Em outras vezes, é preciso agir com certa "loucura saudável" para conhecer e se apaixonar por alguém nos tempos líquidos contemporâneos.
Cabe mais ao casal protagonista manter esse tom de intimidade, mas também deixam evidente que têm estilos bem diferentes de ser e viver. Ainda que os dois primeiros atos do longa sejam mais dinâmicos e hilários e o terceiro e último um pouco mais dramático e melancólico, os atores conseguem esse equilíbrio com muito carisma, charme e diversão. Assim, muito do êxito da história se dá pela ótima química e bom humor de Camille Chamoux e Jonathan Cohen. Por mais doidas que sejam algumas situações constrangedoras na Bulgária (a ponto de poder incomodar alguns Búlgaros mais sérios), dá para perceber que os atores se divertem juntos e transmitem uma agradável vibe.
Um ponto alto e absurdamente honesto nessa comédia é construir um roteiro que adiciona uma viagem de casal, por mais rápida e surpreendente que ela tenha sido iniciada. É uma escolha que se transforma em uma provação para qualquer relacionamento, tanto que a personagem de Camille Cotin, amiga de Marion, diz: "As férias são a pior provação do casal". Ela tem toda razão!
Na maioria das vezes já é difícil viajar com família e amigos, imagine viajar com alguém que você acabou de conhecer no Tinder ? Nesse aspecto, a questão da intimidade se abre para contextos nos quais valores, rotina, comportamentos e humores são testados, principalmente considerando que Marion é uma mulher mais livre e descolada, e Ben é um homem metódico e hipocondríaco que busca mais conforto, bem estar e previsibilidades. Como toda provação que exige interagir e compartilhar intimidades, viajar sempre será uma delas, não importa com quem seja.
Por fim, essa é uma comédia positiva e transformadora quando tentamos extrair o melhor dela para nossas relações afetivas. Ela fala sobre conexão, intimidade, tolerância às diferenças, aceitação, amor. Com a presença de tecnologia constante nesse mundo cada vez mais cibernético de Tinder, AirBnB e Trip Advisor, amar parece algo mais fácil (e facilitado), mas está cada dia mais difícil encontrar real intimidade em meio virtual no qual as pessoas mentem, se sabotam e ocultam quem verdadeiramente são. Ao final da sessão, o público vai torcer por mais Marions e Bens fazendo viagens loucas e engraçadas e dando chance ao amor.
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