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Vencedor Oscar 2020: melhor documentário em curta - metragem Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e spe...

Vencedor Oscar 2020: Learning to Skateboard in a war zone (if you're a girl)






Vencedor Oscar 2020: melhor documentário em curta - metragem


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



Conhecer o comovente documentário em curta, Learning to Skateboard in a war zone (if you're a girl) é muito mais do que reconhecer a coragem da diretora Carol Dysinger e equipe, das crianças e professoras Afegãs de uma escola de Cabul ao mostrar ao mundo, através do Cinema, meninas no Afeganistão que aprendem a andar de Skate e a ler e escrever. É reconhecer que todos temos direito à Educação e ao respeito às nossas individualidades, vontades e potencialidades. Em um país tradicional com traumáticas marcas da ação extremista do Talibã,  no qual a mulher não tem voz e é constantemente silenciada por uma cultura de opressão e selvageria, esse curta chega como um sopro jovem, esperançoso e vigoroso para defender o direito à Educação e todos os demais direitos às mulheres.






Carol Dysinger tem uma história de aproximação com a cultura Afegã considerando que ela já realizou trabalhos de comunicação no país, ministrando oficinas de Cinema a jovens cineastas Afegãos, além de conteúdos sobre Jornalismo. Sem esse relacionamento com uma rede de apoio, ela não conseguiria espaço e aprovação para filmar esse curta e muitos menos uma equipe local, considerando a forte opressão nesse país, alimentada pelo medo que as pessoas sentem de ser violentadas e mortas por lutarem por seus direitos.






O documentário mostra meninas de até 12 anos, faixa etária que define o conceito de criança (a infância se estende até essa idade, cobrindo o ensino Fundamental). Com o engajamento e participação das professoras da escola e a parceria de algumas famílias, elas são alfabetizadas e aprendem a andar de skate, desenvolvendo habilidades e competências para a vida como autonomia, iniciativa, coragem, comunicação, colaboração, entre outras. Para essas crianças, essa é uma oportunidade de autoconhecimento, afirmação do eu e desenvolvimento dessa alteridade, com valorização da autoestima, do saber saber e saber fazer e do empoderamento feminino, já que a cultura afegã machista anula a participação das mulheres na própria escola.






Esse trabalho de aprendizagem de Skate começou pela ONG Skateistan, fundada por iniciativa Australiana que, ao longo de 13 anos, passou a atuar globalmente realizando trabalhos também no Cambodia e Sul Africano. A organização realiza o recrutamento de meninas advindas de famílias pobres e em situação de vulnerabilidade social para aprenderem a andar de skate e serem inseridas no sistema público de Educação. 



Carol Dysinger foca o trabalho do Skateistan através das meninas e professoras em ação na escola e em entrevistas, alternando com imagens documentais de conflitos de guerra, da cidade de Cabul e de alguns familiares . Tal decisão mantém uma qualidade considerável no roteiro e edição, evitando que o curta tivesse um apelo  institucional marcante. Acima de tudo, as protagonistas são as mulheres afegãs e sua luta por um espaço de identidade, aprendizagem e liberdade






As tomadas com as meninas aprendendo o skate, com um crescente processo de desafio pessoal, são fundamentais na escolha da diretora e agregam muito na composição narrativa do documentário. Além das cenas em sala de aula na alfabetização, Carol Dysinger se ocupa a mostrar um pouco de como o Skate funciona: as meninas mostram as regras básicas para subir nele, depois o momento do Tic-Tac (quando elas se equilibram no equipamento e começam a movê-lo com pequenos "trancos"), depois elas têm o desafio de passar pelos obstáculos posicionados como cones e, finalmente, as rampas. Toda essa orquestração é fantástica como um baile esportivo, além da comoção em dar voz e imagem à autodescoberta e superação das meninas.







Com todas as honras, o filme mereceu todos os prêmios  como  curta em documentário no BAFTA e no Festival de Tribeca . Deve ser exibido no máximo possível em escolas e outras instituições educacionais e de luta pelos direitos humanos e cidadania. É sobre o direito de ser e aprender, e isso já é essencial para mobilizar as mudanças e a coragem que todos precisamos diariamente para ter acesso e permanência na escola e o direito à Educação. Sabemos que  o Afeganistão não será um país com liberdade integral às mulheres, entretanto, os movimentos de transformação e conquistas de gênero devem acontecer independente das circunstâncias adversas. Elas inspiram a derrubar e superar a opressão do cotidiano.








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