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Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira de Cinema, e specialista em Comunicação Com sessões abertas esse mês no Cinesesc e ...

Heartstone




Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira de Cinema, especialista em Comunicação



Com sessões abertas esse mês no Cinesesc e em exibição nas próximas semanas em todos os países nórdicos, Heartstone desnuda o coming of age de dois amigos que começam a sentir desejo um pelo outro e são desafiados a lidar com esses conflitos internos. Thor (Baldur Einarsson) e Christian (Blaer Hinriksson) vivem na Islândia em uma região arraigada na tradição dos pescadores, dos homens que ainda carregam o estigma medieval de homem rústico, viril e ligado às raízes. O companheirismo bem visível no cotidiano dos garotos e a afetuosa amizade transbordam no naturalismo em cena, e os jovens experienciam um processo de angústia que essa sociedade não está preparada para lidar.




Com excelente aceitação e premiações em festivais nos USA e Europa, o filme foi destaque na 40ª Mostra internacional de cinema de São Paulo na categoria de novos diretores, ganhou o prêmio Queer Lion no Festival de Veneza de 2016 e em Novembro participa do Nordic Council Film Prize, dessa maneira, faz parte de um conjunto essencial de filmes independentes modernos que abordam questões LGBT na juventude como "Hoje eu quero voltar sozinho", "Moonlight", "Girlhood", "Tangerine". Assim como a maioria de seus contemporâneos Queer, Heartstone é dirigido de uma forma sensível e realista, com um frescor cinematográfico que não oculta a densidade dos conflitos internos, a turbulência das emoções e a hostilidade social.







De maneira certeira, o filme captura as incertezas da sexualidade com sutilezas, levando em conta que Thor é o garoto de comportamento heterossexual que quer ganhar o coração da garota. Seu personagem é desenvolvido como o garoto destemido, de masculinidade notória. Por outro lado, Christian é mais tímido e de feições delicadas. É ele o primeiro a ter outros sentimentos pelo amigo e quebra os rótulos heteronormativos mesmo com os riscos de um ambiente inseguro e intolerante. Com isso, na construção da narrativa, uma das grandes belezas da dramaturgia em cena é que o afeto entre ambos passam por provações, porém, não é quebrado. Há o forte vínculo da amizade, evidência que intensifica o sofrimento, pois adolescentes precisam ter o chão que os amigos proporcionam e não querem perdê-los. A inquietude cresce ao passo que o primeiro  desafio é aceitar o desejo por um amigo ( e o de ser desejado por um do mesmo sexo) para, depois, também enfrentar a família, os vizinhos e demais conhecidos. 







Nessa perspectiva intimista sobre a juventude, amadurecer dói. Ela dói muito mais quando a experimentação  da sexualidade traz os pesos da dúvida, do (auto)preconceito, da angústia, do medo , da rejeição. Não é apenas a sociedade que pode rejeitar a homoafetividade, mas a própria pessoa que está descobrindo sua sexualidade também tem hesitações e intolerâncias como qualquer ser humano. O filme joga com esses dois aspectos:  o de quem tem os primeiros desejos pelo mesmo sexo e o de quem não sente a mesma coisa, o que ajuda a considerá-lo como uma produção cinematográfica acima da média e que abre espaço para  a aceitação e a reflexão sobre o tema. Com destaque, a madura performance de Baldur Einarsson representa um ponto de relevante tensão dramática já que é o personagem que dá o benefício da maior dúvida: ele sente algo a mais por Christian ou não?




Com maestria, Guðmundsson emula bem a sua experiência pessoal e a intenção como diretor. Primeiramente, realiza uma escolha crível pelos ótimos atores Baldur Einarsson e Blaer Hinriksson que mostram madurez em cenas comuns que poderiam ter o risco de não expressar o seu potencial dramático. Teve sensibilidade de realizar uma excelente direção de atores pois, parte considerável do êxito do roteiro e da direção, é a clara diferença entre Thor e Christian que  corrobora as diferentes aflições que se exteriorizam em enternecedoras cenas e pontos de vista. Thor, como a representação do garoto que gosta de meninas, reage mal, mas existe uma  belíssima lealdade a Christian que está acima de seus conflitos. Por outro lado, Christian, o garoto mais sofrido e humilhado pela família, toma a ação mais impulsiva e trágica da narrativa. Como um grito de desespero, Christian não aguenta o próprio âmago desesperado assim como tantos jovens  em fase de descoberta da sexualidade.


A naturalidade da câmera de Guðmundsson em um verão inquieto cria um contraste impressionante e basilar para a qualidade do longa. Ao mesmo tempo que os garotos estão vivenciando a intensidade do coming of age com todas as descobertas, dúvidas e angústias, a paisagem bucólica de uma longíqua vila de pescadores se opõe à natureza hostil das relações humanas. Por fim, Heartstone é um dos mais belos filmes da Escandinávia, profundamente angustiante, mas igualmente afetivo.




Ficha técnica do filme Imdb Heartstone

Fotos, uma cortesia por Pro Cultura

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