O filme Camile Claudel 1915 com a mais que excelente Juliette Binoche no papel de Camile Claudel, escultora Francesa, irmã do escritor Paul Claudel e ex-amante de Rodin, é uma demonstração da reclusa decadência de uma mulher apaixonada, que foi abandonada pelo grande amor e foi internada em um longíquo hospício para ser enterrada por uma sofrida vida. O longa dirigido por Bruno Dumont é um dos destaques da programação do Festival Varilux de Cinema Francês, que estreou em 01 de Maio e percorre 40 cidades em todo o país.
A história gira em torno de Camile confinada em um hospício no Sul da França, aguardando a visita de seu irmão Paul. Preservando sua beleza frágil com um olhar distante e, em alguns momentos dócil, ela convive com mulheres tão destruídas quanto ela. O filme não se detêm a contar a história de amor que ela viveu há mais de 20 anos com Rodin. Após uma introdução de que ela foi amante do escultor e internada pela família, o filme a retrata já no hospício, muito abatida, suja. Este início convida o público a acompanhá-la em uma prisão na qual não existe vida, ainda que ela seja respeitada pelas irmãs e outras internas e pelo diretor do local. Ali o mundo parou e só ficou na mente dela a mania de perseguição e seu ódio por Rodin. Camile expressa a dor de uma mulher que efetivamente se sente perseguida, traída e abandonada, mas também demonstra que sua loucura é visualmente muito mais lírica e psicológica que física na forma como o longa foi dirigido. O diretor consegue criar uma atmosfera bem bucólica, de um confinamento que a separa completamente do mundo externo, que tem certa poesia à medida que a coloca tão próximo ao espectador mas também muito distante da França glamourosa de grandes artistas. Ela é um ser isolado, do choro ao silêncio, passando por surtos de ameaçadora agressão e momentos de oração, ela tem uma vida a qual nenhuma mulher genial e talentosa deseja chegar.
Além da atmosfera de reclusão e muita solidão, o que torna Camile Claudel 1915 um filme melancólico, ele é claramente difícil de assistir por ter um roteiro muito mais contemplativo que falado. Há muito pouco diálogo e o que sustenta o interesse é obviamente a concentrada atuação de Juliette Binoche, ora deprimida e extremamente chorosa como um grito de clamor desesperado, ora sorrindo levemente com a esperança de que a tirem daquela prisão. Juliette é o filme! Sem ela, não seria possível assistí-lo e suportá-lo em 1 hora e meia de projeção, ainda que o diretor seja bom, tenha um senso de direção realista muito Europeu que se alterna com a sublime atuação da atriz. Ele parte de planos visuais de extrema beleza como os paisagísticos e vai ao detalhe de um copo, uma comida em preparação e os pés que descem uma escada. No geral, não necessariamente é somente a contemplação que o torna um desafio para as plateias, afinal observar com admiração o talento dramático de Juliette Binoche é para muitos.
Na verdade, é o abandono, a paranóia e a solidão de uma artista Francesa como Camile que faz com que o filme seja um exercício de coragem para o público, principalmente para as mulheres que tem mais tendência a se sensibilizar com a escultora em função de que ela foi abandonada por um homem. Dá muita compaixão perceber que Camile foi engolida pelo seu amor por Rodin. Ela simplesmente endoideceu e ficou muito mais louca convivendo com aquelas outras mulheres que já haviam perdido a sanidade mais que ela. Embora o filme expresse essa loucura dela uma forma muito elegante e serena, reflexões sobre um aspecto afetivo da cinebiografia de Camile são necessárias: "O quanto ela sofreu? O quanto ela realmente enlouqueceu devido ao amor e ao abandono? O quanto Rodin e Paul Claudel foram carrascos? O quanto a mulher artista foi silenciada na França?" O espectador tem que ter vontade de assistir a um filme como Camile pois, até mesmo suas palavras que pedem ajuda podem ser suaves delírios de uma mente doentia; por outro lado, há momentos que chamam a atenção para o mistério de sua personalidade, muito citado pela História, pois dão a impressão de que ela foi uma mulher muito inteligente e acima de sua época e, portanto, foi silenciada pelos homens com os quais conviveu, incluindo o irmão Paul. Muito bem dirigido no aspecto de enquadrar planos que evocam a solidão, o silêncio e a loucura, Camile Claudel retrata uma vida que ninguém deseja ter, principalmente após ter amado perdidamente.
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