O diretor japonês Takeshi Kitano está de volta com Outrage, filme sobre o crime organizado japonês, as rixas entre grupos Sanno e Hanabishi e a corrupção da polícia. Dessa vez, o diretor também assina o roteiro e mantém o mesmo estilo de violência e humor negro do filme anterior, com a diferença de que a máfia japonesa ganha aspectos mais políticos e egóicos, inclusive no que se refere à disputa pelo poder, o corporativismo do crime, a traição e a violência gratuita. O filme, que concorreu ao Leão do Festival de Veneza, não é uma tentativa consciente de Kitano de criar uma sequência à altura do primeiro filme. Sua ideia foi tornar o segundo longa mais acessível às massas. Como consequência, a sequência não é tão cult e muito menos tem o mesmo vigor artístico com elementos como roteiro, direção e edição, mas ainda tem a marca qualitativa do trabalho de Kitano.
O longa continua atraente. Quando se trata de Outrage, ele tem estilo. O entretenimento já começa no elenco harmônico com tipos sérios que dão vontade de rir. Como uma grande instituição de gângsters orientais, os clãs evocam da lealdade à traição e são homens que não podem demonstrar fraquezas, mas que acabam cedendo em situações à beira da morte. Dessa forma, temos um filme movido à testosterona em situações na qual a crueldade tem um certo humor, e o humor não deixa de ser um ótimo elemento de crítica para demonstrar a banalização da sociedade, ávida pelo poder à qualquer custo. Esses irritadiços homens mafiosos tem vulnerabilidades, bastando que outro o coloque em perigo. Isso torna o filme muito divertido, pois os elementos gore violentos e gangsterianos estão lá: poderosos japoneses mafiosos que falam e ficam nervosos uns com os outros acabam provocando o riso da plateia, a violência em situações repentinas como mutilar a mão, estourar o rosto de um homem com bolas de baseball e preparar uma furadeira para perfurar o inimigo tem um misto de horror e humor, extermínios coletivos e jogos de intrigas, traições e interesses demonstram os egos do crime organizado.
Para dar um peso qualitativo à fita, há uma atração fundamental para a mais recente franquia: A presença do diretor como protagonista, que faz muito a diferença. Beyond é marcado pela saída da prisão do poderoso líder Otomo (Takeshi Kitano), que mesmo em vias de se aposentar do crime organizado, é uma peça importante para a ambição do corrupto policial Kataoka (Fumiyo Kohinata). Otomo entra em ação com uma vingança contra o Ishihara (Ryo Kase), seu ex-funcionário traidor e o líder do Sanno, Kato (Tomokazu Miura) que tem ambições corporativistas para a Yazuka. A entrada do diretor como protagonista agrega muito mais valor à película porque a presença de Kitano em cena é hipnótica, como se ele fosse um criminoso herói e, de fato, ele é. Além do mais, o ator Fumiyo é ótimo. Seu personagem, de cara engraçada e sacana, tem uma necessidade de sempre verbalizar o quão bom policial é, o que acaba por ridicularizá-lo, e ele tem a vontade inescrupulosa de mover as peças para prejudicar os clãs e obter vantagens, o que o resume como a corja das autoridades públicas.
O roteiro demora a inserir a violência característica de Kitano, a qual deveria ser mais bem distribuída ao longo do filme . Somente após 1 hora de projeção, é possível ver os clãs em ação em uma violencia física mais intensa. Na primeira parte do filme, os clãs ficam mais na esfera das brigas de egos e situações mal resolvidas. Nesse ponto, o que interessa é o humor negro de ver mafiosos gritando uns com os outros sem ter um assunto tão crítico para discussão. Nisso reside muito do entretenimento de Outrage, ele não deixa de ser uma piada para o crime organizado desprovido de valor na sociedade contemporânea.
Ficha técnica no ImDB
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