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  #Drama #Família #Paternidade   Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e specialista em Comunicação Empatia é uma ...

Algum lugar especial (Nowhere Special, 2020)

 






#Drama #Família #Paternidade 


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



Empatia é uma palavra preciosa que guarda em si muitos significados. O mais primário deles está relacionado a se colocar no lugar do outro e reconhecer que cada um tem uma história de vida diferente, principalmente convicções, preconceitos, dores e desafios a enfrentar.  A partir do instante que a empatia é cultivada, a vida fica mais leve e as conexões são fortalecidas, mesmo naqueles dramas que não podem ser arrancados do peito.










Algum lugar especial (Nowhere Special, 2020) é um daqueles filmes delicados que tem uma expressividade fora do comum exatamente por despertar a empatia por uma história que não há muito o que fazer sobre o destino dos personagens; ainda assim, é preciso enxergar esperança ali mesmo em meio à doença e morte. É uma combinação de singeleza e força que ajuda a compreender a realidade de variadas famílias e suas diferentes configurações.




Baseado em fatos, o diretor e roteirista Italiano Uberto Pasolini conta a história de John (James Norton), um pai jovem e solteiro que, entre exercer o ofício de limpador de vidros e lutar pela sobrevivência de sua família, tem que procurar um novo lar para Michael, seu filho de 3 anos. A razão não poderia ser mais devastadora: John tem uma doença terminal e tem pouco tempo de vida. Certamente o mais dilacerante é perceber que tanto John como seu Michael percorrem caminhos impostos pela vida que não são os trajetos naturais que esperamos para pais e filhos.









A narrativa é construída sutilmente com fragmentos do cotidiano e da busca por uma família, sem transformar o filme em um sentimentalismo apelativo. Pelo contrário, sua força narrativa está em mostrar um pai que vive um dia por vez embora sinta as incertezas do tempo, a pressão da situação e o peso da doença. Aos poucos, John amadurece este doloroso processo, passando a incluir uma assistente social e o próprio filho na decisão. Uma das inspirações do diretor foi a obra de Yasujiro Ozu e de Jean-Pierre e Luc Dardenne.




As atuações de James Norton e de Daniel Lamont são críveis e afetuosas, muito bem costuradas com a abordagem do roteiro e olhar da direção. É comovente notar que a paternidade se constrói de maneira universal no próprio filme. A conexão entre eles é tão profunda que os olhares e silêncios são capazes de dizer muito mais do que palavras verbalizadas. 





Para a sorte do Cinema, brilha uma estrela mirim: Daniel Lamont. Com apenas 4 anos, ele apresenta uma naturalidade impressionante com as cenas, demonstrando o realismo de uma criança linda e encantadora mas que também tem uma melancólica sensibilidade de quem percebe o que está acontecendo ao redor. De fato, as crianças são sábias e observadoras!






"Felizmente, no jovem Daniel Lamont, então com quatro anos, temos um ator natural extraordinariamente consciente e sensível, e, em James Norton, um ator muito generoso, que ficou feliz em dedicar longos dias para criar uma conexão com o menino bem antes das filmagens, e apoiar e guiar Daniel durante o que para qualquer criança teria sido uma experiência intensa e, às vezes,desconcertante."

(Palavra do diretor)




Sobre o passado, o filme o utiliza como contextualização e acerta em não culpabilizar a mãe. Menciona que houve uma situação de abandono da criança no pós parto,assim importa muito mais o futuro da criança do que remoer mágoas que não contribuem para resolver o bem estar de Michael. O pai assume um papel que é dele como progenitor, mas que não é tão comum no dia a dia. Normalmente são as mães solteiras que levam a família adiante. Posto isso, o longa traz a perspectiva dos filmes sobre pais solteiros.



Assim, muito mais do que mostrar uma das configurações de família existentes e que, pela força do afeto, sobrevive em uma situação de vulnerabilidade, o belo do filme é construir uma narrativa de que a vida deve continuar para uma criança, independente da doença e da morte dos pais. A busca de John por uma família para seu filho é a continuidade de uma vida com segurança, bem-estar, saúde e amor. 








Nessa busca, John encontra algumas famílias de possíveis adotantes e o roteiro garante uma boa miscelânea de configurações familiares de uma maneira leve e realista. Esses eventos reais propiciam uma visão de que não há famílias perfeitas, o que há são possibilidades de ser feliz em alguma delas. A certeza é algo que John nunca terá sobre o futuro do seu filho, porém é o aqui e o agora que realmente importam. 



Comovente e delicado, o desfecho do longa faz todo o sentido e é especial. Talvez aquelas configurações familiares nada tradicionais podem ter mais amor e respeito do que esperamos. Talvez sejam elas as que buscam preencher o afeto que lhes faltou em suas trajetórias. Com isso, a empatia não é apenas pela história de John. A empatia também está em John.




(3,5)




Fotos e citação do diretor: uma cortesia A2filmes

2 comentários:

  1. Cara MaDame Lumière, busquei na internet algum texto que pudesse expressar a força, impacto e delicadeza deste filme. A sua resenha descreve muito bem a maneira como o diretor resolveu contar essa história, e também transmite a mensagem principal que ele buscou transmitir. Me emocionei vendo o filme e lendo o seu texto. Ao que parece, a sua resenha é a única disponível em português sobre esse belíssimo filme. Obrigado por publicá-la.

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  2. Olá, Vicente

    Tudo bem? Fiquei feliz com seu comentário. É muito bom alcançar seu coração e emoções, com sua experiência com o filme. De fato, é uma história tocante e verdadeira. Senti cada momento dessa relação entre pai e filho. Espero que possa cada vez mais conhecer novos filmes que nos conectem, como amantes do cinema.
    Um abraço e gratidão demais!
    MaDame

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