Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
O eterno gladiador Russell Crowe retorna à telinha de forma assustadora e perigosa como um homem comum, insano e furioso que, após uma discussão de trânsito, decide perseguir e aterrorizar Rachel Hunter (Caren Pistorius) e seu filho Kyle (Gabriel Bateman). Os créditos iniciais já entregam um bom argumento e cenas documentais e antecipam o caos presente no cotidiano, no qual as pessoas externalizam suas intolerâncias e violências de toda natureza de forma gratuita, letal e sem sentido.
O personagem de Russell Crowe é como um estranho em um dia de fúria. O público não sabe seu passado, sua história, suas relações. Ele surge como uma pessoa qualquer no trânsito e uma buzinada é suficiente para revelar seu temperamento obsessivo e homicida. Atrasada para o trabalho, Rachel enfrenta o trânsito insuportável como qualquer cidadão. O que ela não esperava é que uma discussão mudaria o seu dia com a presença de um real psicopata na traseira do seu carro em diferentes momentos. Muito mais do que um insuportável stalker, esse homem está disposto a matá-la.
É um filme interessantíssimo partindo desta analogia de como o trânsito desperta o pior das pessoas. Na verdade, o ritmo acelerado e caótico da vida contemporânea é apenas o estopim para revelar a verdadeira e maléfica essência do ser humano, deste modo, a situação retratada pelo diretor Derrick Borte é o meio para tornar visível que uma discussão aparentemente banal pode trazer desdobramentos aterrorizantes e danosas para os envolvidos. Situações como esta não ocorrem apenas no trânsito, mas estão em vários espaços e estampam os programas sensacionalistas. São discussões em bares, restaurantes, mercados, ruas, festas, vizinhanças em geral. É como um vírus da intolerância que impacta vidas, colocando muitos em risco e como vítimas da violência.
Após a experiência com todo o horror deste filme, alguns podem vir a dizer: "Rachel só teve o azar de cruzar com um psicopata. Isso é somente um filme, não a realidade". Mero engano! O diferencial da narrativa é exatamente o exagero do roteiro e diretor. Algumas cenas são realmente dignas de exploitation, com situações bizarras e absurdamente imediatistas e violentas, como se o ser humano não fosse absolutamente nada. Porém, se analisarmos que é o que vem acontecendo no cotidiano, em maior ou menor grau, o filme utiliza recursos de forte exagero para reforçar que , infelizmente, a intolerância da sociedade e a banalização da vida estão atingindo níveis severos de uma psicopatia social.
As cenas de perseguição em carros pelas ruas, a utilização do celular e as tomadas do psicopata com os amigos e/ou familiares de Rachel são recursos clássicos e garantem uma tensão constante, levando em conta que colocam forte pressão e culpa sob Rachel, continuamente alvo das chantagens e vinganças deste louco. Apesar do desfecho ter sido muito rápido, podendo ter sido trabalhado de forma mais cuidadosa, o longa apresenta boas atuações, fotografia e ritmo e é bem sustentado pela competência de Russell Crowe e Caren Pistorius.
Disponível na Amazon Prime, Fúria Incontrolável possibilita uma reflexão necessária partindo da ideia de que a maioria da violência atual continua deixando mais pontos de interrogação do que de exclamação. O que leva as pessoas a serem tão abusivas, violentas e vingativas? Seguramente, a intolerância por motivos torpes em situações banais nas quais poderia haver mais diálogo e entendimento é uma delas.





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