Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
O ator Chris Pratt tem três qualidades imbatíveis quando se trata de colocá-lo em filmes de ficção científica: confiável, bem humorado e humano. Na seara de produções que abordam ação apocalíptica e catástrofes de impacto global, inserir um personagem que transmite valores nobres como bondade, heroísmo e confiança cria um elo de conexão com o público, principalmente quando se trata de blockbusters que oferecem uma mistura de dinâmico entretenimento com o necessário escapismo.
Em A Guerra do Amanhã (Tomorrow War, 2021), grande produção disponível em streaming pela Amazon Prime, o ator desempenha o papel de Dan, pai, ex-militar e professor de Ciências que viaja no tempo para salvar a humanidade da extinção. Com a contínua ameaça dos alienígenas Os Garras-Brancas que estão dizimando a Terra, Dan recebe a missão de viajar para o futuro com uma equipe e acaba por liderar o combate.
O roteiro utiliza ideias comuns em filmes apocalípticos como Independence Day (1996) e Guerra dos Mundos (2005) e de batalhas contra alienígenas como No Limite do Amanhã (2014) e realiza uma explosiva mistura de elementos audiovisuais para criar um ambiente desolador e destrutivo, logo, o que o espectador vê não é nada diferenciado, com exceção dos esforços de Chris Pratt e Yvonne Strahovski para carregar o filme nas costas.
Ao viajar para 2051, Dan tem a chance de mudar o curso da história. Muitas perguntas contundentes surgem em meio ao caos: como lidar com os encontros e desencontros da missão? Como ser o pai que ele prometeu ser para a filha Muri? Como tomar decisões que impactam em sua família? Assim, o longa também busca combinar guerra alienígena com planos que situam os dilemas familiares de Dan, como sua relação com o pai (J. K. Simmons) e o retorno à esposa (Betty Gilpin) e filha. A ideia central é estabelecer sintonia com este pai heróico, algo similar ao que Tom Cruise fez em Guerra dos Mundos.
Quando não há no filme uma inovação ou DNA em roteiro e direção, resta ao público divertir-se como se não houvesse amanhã. Ao invés de entrar em crise com o filme, é melhor entrar na aventura. Esse blockbuster é exatamente isso! Ele transmite uma diversão no meio à sua irregularidade narrativa. Chris Pratt é o pai legal que não está satisfeito com os rumos de seu cotidiano profissional, assim, há uma ligeira frustração no seu dia a dia como dar aulas para alunos desinteressados ou não ter aquela oportunidade de projeto que tanto desejava. Entrar em uma missão repentina é dar um senso de propósito a este pai.
Dan como pai e combatente não se sai mal porque, desde Guerra das Galáxias (2014) e Jurassic World (2015), o espírito aventureiro de Chris Pratt e seu carisma como herói descolado funciona como um ótimo background e matéria de trabalho para Hollywood. O diretor Chris McKay dá bastante autonomia para o ator em cena, mas infelizmente Chris Pratt poderia ter tido um roteiro melhor a seu serviço porque funcionou mais como militar do que como pai e filho. O mesmo acontece com o excelente J. K. Simmons que tem uma participação coadjuvante que poderia ter sido melhor explorada, em especial, nos conflitos com o filho.
Até mesmo Yvonne Strahovski como a filha adulta de Dan precisou se esforçar muito mais para dar coerência e seriedade a cientista e militar, esforço que racionalizou demais sua personagem que teve pouco tempo para desenvolver seu arco dramático. É estranho perceber que, mesmo nas cenas emotivas entre ela e Chris Pratt, ainda há dureza em cena. De qualquer maneira, foi bom vê-la sair do corpo de Serena Joy (da série The Handmaid's Tale) e encarnar uma guerreira em ação que acrescenta inteligência, obstinação e sacrifício à narrativa, tudo em prol de salvar a humanidade.
Tudo que é muito exagerado no Cinema, tende a levar ao riso ou ridículo. Por trás da seriedade do caos, há muitos momentos hilários, por isso o melhor é curtir o escapismo. Por exemplo, os Garras-Brancas são antagonistas visualmente mal construídos e insuportáveis que só não se tornam mais desinteressantes porque há a matriarca deles. A geniosa fêmea acrescenta mais perigo às cenas de ação e recebe um tratamento melhor do roteiro. Outro exemplo engraçado: A equipe de Dan é composta por pessoas improváveis para tamanha responsabilidade, com exceção de um ou dois personagens que têm mais ação, todas as outras não tiverem nem o direito a ter um desenvolvimento dramático. Pelo menos, é impagável ver a atriz comediante Mary Lynn Rajskub no campo de batalha.
Combinar viagens do tempo, com ciências naturais e biológicas, batalhas alienígenas, catástrofes globais e família é uma mistura bombástica que tem seus riscos e aqui não seria diferente. Sem dúvidas, o filme será pura diversão se o espectador entrar na onda do "Assista o filme sem levar a experiência tão a sério". Se colocar A Guerra do Amanhã em uma régua comparativa com outros sci-fis com dinâmica narrativa similar, com certeza, ele vai perder e o espectador vai se frustrar. Então, simplesmente curta a ação!
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