A narrativa é muito bem construída em um contexto metalinguístico, tanto sob a perspectiva da história e construção dos planos como do desenvolvimento do personagem e da transformação do protagonista: Téllez (Rafael Spregelburd) é um renomado crítico de Cinema, que odeia as comédias românticas. O bem humorado roteiro enfatiza em variadas cenas que, além de Téllez ter aversão à esse gênero, ele é um homem de personalidade austera, um racional crítico da vida que opina negativamente além do Cinema, ou seja, faz o papel natural de "dono da verdade", com uma leve e natural arrogância na argumentação que, infelizmente, é um comportamento de muitos críticos. Com esse jeito de ser, ele não se abre o suficiente para as relações afetivas e para a sensibilidade. Ao ter problemas financeiros, é obrigada a fazer coisas que não gosta como se arriscar a escrever um roteiro comercial, depender de familiares e da espera pelo aluguel de um apartamento. O interesse por um novo imóvel será o ponto de convergência entre ele e um romance, de acaso romântico que mudará sua forma de ver o amor, assim como ocorre nas comédias românticas.
Mesmo com esses atributos, Téllez é um sujeito divertido e muito bem interpretado pelo ótimo Rafael, que consegue dar verossimilhança aos clichês de um crítico, inclusive ao carregar a clássica mochila nas costas, ter uma aparência nada vaidosa, ser desajeitado com as mulheres e dar cotação mínima a filmes que não lhe agradam. Tudo isso contribui para as risadas, mas a grande sacada do roteiro é que o crítico se apaixona pela bela Sofia (Dolores Fonzi), uma cleptomaníaca , o oposto dele. Ao se apaixonar, ele vive uma comédia romântica na pele e, como um gênero em busca de vingança, ele provará de emoções e dilemas que criticava antes. Essa ideia é muito original para uma ficção e, na cinematografia Argentina, ficou com um saboroso gosto de bom Cinema que é capaz de se comunicar com o público. Traz à memória da plateia cenas nostálgicas de filmes românticos e cria uma história de paixão entre duas pessoas bem diferentes, mas também quebra a austeridade de uma crítica que precisa ser sensível até aos gêneros considerados menores por boa parte deles. É um filme imperdível na forma como Hernán conseguiu usar os padrões da comédia romântica e brincar com eles de uma forma leve e que leva à reflexão de que, não importa ter o conhecimento de n teorias de Cinema e cinematografias, no final das contas, Cinema é apaixonar-se por Cinema.
Concordo inteiramente com o comentário sobre o cinema argentino, sem dúvida é um dos mais interessantes atualmente. E este O Crítico parece ser mais um exemplo disso. Espero poder assisti-lo em breve.
ResponderExcluirAbraços!