Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
Bruce Willis protagoniza o remake de "Desejo de matar" (2018) com direção de Eli Roth, roteirista e produtor conhecido por trabalhos de horror como "Cabana do inferno", "Albergue 1 e 2", entre outros trabalhos com larga experiência no gênero. Nesse filme, Roth tem vários elementos que favorecem a eficiência da obra: um ator virtuoso e nostálgico na ação que é icônico na franquia "Duro de matar", o seu background e paixão pela linguagem do horror e um argumento afetivo que pode provocar no espectador o não-julgamento moralizante pelos assassinatos cometidos pelo protagonista.
Desejo de matar é uma franquia que começou nos anos 70, estrelado o ator Charles Bronson como o arquiteto Paul Kersey. Naquela época, o filme , datado em 1974, trazia uma crítica mais social na qual o personagem tinha uma relação distante do mundo do crime e da violência em geral, vivendo seu mundo em uma redoma ao lado da filha e da esposa. Quando perde a esposa e sua filha é violentada, Kersey assume outro comportamento diante da morosidade e fracasso investigativo da polícia, além da revolta pessoal e do luto: fazer justiça com as próprias mãos.
Nesse argumento, o protagonista também mobiliza tempo e esforço para comprar e ter habilidades com armas, fato que faz alusão à indústria armamentista nos Estados Unidos. Todos esses elementos foram preservados no remake com Bruce Willis, exceto sua profissão, agora um médico de pronto socorro que, convivendo com a vida e a morte, vê em sua rotina pacientes vítimas da violência urbana de Chicago, assim como criminosos baleados que chegam ao seu plantão. Até então, sua relação com o crime é distanciada e racional, convive bem com a família, tem uma vida de classe média alta.
Essa questão do ofício, médico ou monstro, é interessante pois espera-se que um médico sempre opte pela vida; entretanto nesse longa, Bruce Willis é o homem comum cuja profissão não é mais forte do que seu desejo de matar os assassinos de sua esposa. De cidadão anônimo, ele se torna uma celebridade escondida em um capuz que toma gosto pelas armas e decide investigar quem invadiu o seu lar, matou sua mulher (Elisabeth Shue) e deixou sua filha em coma.
Após a tragédia, o médico muda "da água para o vinho" e encarna aquele desejo que muitos têm, a vingança a qualquer preço. Só que essa vingança acontece de forma bem facilitada, até um tanto non sense em algumas cenas, já que não há uma melhor investigação. Esse detalhe torna o filme mais ficcional e raso, e só vale pela diversão.
O diferencial no perfil do personagem é que Dr. Kersey tem uma humanidade em si. Ele carrega toda a revolta que muitas famílias que perderam seus entes queridos têm, então é um homem comum em ação quando a justiça é morosa demais. Por outro lado, por mais que ele comece a matar os bandidos, ele continua sendo uma vítima dessa violência pois carrega a perda, o inconformismo e a solidão. Torna-se o herói urbano a fazer justiça com as próprias mãos, contudo, a violência permanece como um problema social e coletivo. Ele suja as mãos de sangue mas o problema não se resolve pois o argumento é totalmente de cunho particular, afetivo.
Roth combina cenas com a dimensão pessoal, a do homem, pai de família e esposo, com outras cenas que utilizam ação criminal e horror cômico. O resultado é bem eficiente e garante um filme agradável de assistir. Willis persegue e mata os assassinos com um grau de facilidade que, apesar do estranhamento e exagero, tem uma tônica bastante bem humorada que relembra algumas cenas do terrir (terror + rir), o que mostra que Roth deixa um pouco do que gosta no próprio filme.
O chamariz é Bruce Willis, que não perde nem o charme e nem a competência para filmes de ação. Carisma é algo que lhe é natural, tanto que , em uma das cenas com uma terapeuta, ele faz a graça que apenas os coroas da ação nos fariam sorrir. Aliás, nos últimos anos, esses atores de personagens durões apareceram em filmes de menor orçamento e bem eficientes. Entre as boas diversões: "Herança de Sangue" com Mel Gibbson, "O passageiro" com Liam Neeson, "Três dias para matar" com Kevin Costner.
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