Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
Adaptação do livro do autor Gilles Paris, "Minha Vida de Abobrinha" (Ma Vie de Cougette) é uma animação produzida em técnica stop motion que se destaca pelo seu resumido e eficiente conto sobre afeto e segunda chance após tragédias familiares. O personagem principal chama-se Icare, mas prefere ser chamado de Abobrinha. Após a morte da mãe, ele é levado a um orfanato onde estão outros órfãos com diferentes e trágicas histórias de vidas. Solitário e rejeitado pela mãe, Abobrinha é um dócil garoto cuja única lembrança do pai está estampada em sua pipa.
A partir do início da animação, o espectador está diante de uma animação que começa com um tom bastante triste para depois resplandecer em esperança e amor. Além do impecável trabalho em stop motion, uma técnica que segue sobrevivente porém cada vez mais rara em um universo cinematográfico povoado por produções em 3 D, "Minha vida de Abobrinha" tem uma forte identidade temática e visual como animação que aborda questões sérias e maduras.
Abobrinha vem de uma família disfuncional. Sua mãe morre de uma forma trágica e acidental e já expressava abandono e rejeição pelo filho. A ausência do pai, fato comum em várias famílias, também é brevemente evidenciada no roteiro. Assim como o protagonista, todas as crianças do orfanato têm uma função simbólica para retratar distintas disfuncionalidades das famílias afetadas pela pobreza e violência, além das ausências, desafetos e rejeições que as levaram àquele lugar.
A forma como o filme intercala o equilíbrio, a leveza e a esperança com o drama trágico e deprimente é bem interessante. O jogo da vida e seus dissabores é aberto nos diálogos ligeiros e sutis que abordam temas fortes como violência e sexo. De uma maneira peculiar, a história dá a entender que Abobrinha matou a mãe, o que gera um incômodo inevitável; assim, de forma muito pertinente, a classificação indicativa do filme no Brasil é a partir dos 10 anos.
"Minha vida de abobrinha" tem um importante potencial educativo e humanista pois tem um material autêntico, tanto artístico como temático. Apesar dos finais felizes comuns nas animações, nem sempre elas conseguem capturar uma atmosfera depressiva com tanta originalidade e honestidade. Aqui é possível ver isso e notar como a vida é capaz de transformar traumas em recomeços.
É uma bonita animação que tem o diferencial de mostrar a realidade de crianças que vem de lares desfeitos e que encontram um novo lar nesse orfanato através da aceitação, da amizade e do afeto. A partir de um ambiente conhecido como de "rejeitados", a confiança e o amor renascem nesses coraçãozinhos.
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