
O expectador é conduzido a acompanhar as andanças de Yoo e, de forma bem circular, voltar às cenas semelhantes com o bate papo regado à bebida, as paqueras com as bonitas garotas, a sensação de que ele não tem nada para contar sobre sua carreira cinematográfica na provinciana Daegu. Definitivamente, parece ter parado no tempo! E a pergunta que fica é: Quem era o diretor Yoo Seong-yun? Não se sabe, as conversas tem pessoas do meio cinematográfico: um crítico, uma professora, um ator, porém se fala de qualquer coisa que não seja profundamente falar sobre cinema. Esta escolha do diretor roteirista também demonstra que esta é a vida de Yoo, de total inércia perante sua carreira. O Cinema, a grande Arte de contar histórias, já não faz parte do dia a dia dele, ele já não sabe mais contar nada sobre ele e nem sobre os outros, o que pode ser potencialmente comum quando um diretor pendura a câmera. No geral, o recurso narrativo da repetição é uma das melhores virtudes da fita, pois estiliza e formaliza em cena o quanto emocionalmente este diretor tem um bloqueio existencial e é patetico até mesmo para lidar com as mulheres, levando-as para a cama, fazendo com que se apaixonem e verbalizem declarações de um amor que não é vivenciado, que mais parece uma promessa surreal, romântica ou de pós-coito. Yoo é incapaz de dar um rumo diferenciado à sua vida. Suas andanças materializam o completo ócio, em dias presentes que se repetem como reminiscências dos dias anteriores.

O belo tom imagético invernal, com a queda da neve, o beijo roubado no entardecer, o dia que logo se fará noite, ou se restringirá a uma mesa de bar em um ambiente fechado, sempre em preto em branco, contribui bastante para a sensível atmosfera do filme e, conjuntamente com a repetição, causam a impressão de um longa sem um tempo cronológico, que poderia ser inserido em qualquer momento, e se perpetuar como se não houvesse nem dia e nem noite, como se a relação tempo-espaço fosse ilimitada mesmo com a limitação narrativa em cenários tão recorrentes. No mais, fotografia e elenco mantêm o interesse do espectador pela fita: a incrível fotografia P&B de Kim Hyung-koo, elaborada com a beleza singular de uma nitidez capaz de extrair cores em branco e preto agrega um diferencial à sua qualidade e é inicialmente bem perceptível e impactante. Os atores representam bem, são agradáveis e estranhamente engraçados, como o crítico de Cinema Young-ho (Kim Sang-joong) e a professora de Cinema Boram (Song Sun-mi), charmosos e atrativos o suficiente para serem bons companheiros de alcool e de bate papo. Em cada novo gole e prosa, o expectador é impelido a gostar deles, concordar com frases cheias de verdade que falam de solidão, amor, sonho e qualquer coisa que combine com um pouco de embriaguez.
Avaliação MaDame na Mostra
4 estrelas
Parece ser um filme interessante mesmo. Acho que o bom dessas mostras é a possibilidade que ela nos dá de entrar em contato com o cinema de vários países aos quais temos difícil acesso...
ResponderExcluirPrezada Madame, saudações.
ResponderExcluirNão conhecia o seu espaço e sinto que estou em um local de puro entretenimento elevado e cultural. Breve participarei de outros comentários.
Saudações cinéfilas e tenha um bom dia
Paulo Néry- Blog Filmes Antigos Club Artigos
http://www.articlesfilmesantigosclub.blogspot.com/
Kamila,
ResponderExcluirÉ sempre bom universalizar o nosso olhar cinematográfico.
abraços,
MaDame
Olá Paulo,
ResponderExcluirObrigada pelo comentário e visita. Seja sempre bem vindo!
Saudações cinéfilas,
MaDame