Quando a perda faz encontrar a si mesma
Se há um gênero que funciona muito bem com o Cinema Independente Americano, este é o drama. É uma boa oportunidade para que o expectador mergulhe em uma atmosfera fílmica de um cotidiano mais real, verossímil, catártico, desta forma, voltando o seu olhar para a contramão dos grandes blockbusters da fábrica de ilusões Hollywoodianas, e se conectando com os desafios emocionais tão inerentes ao ser humano. Maria my love é um destes filmes independentes que, na simplicidade de evocar um drama pessoal e familiar, aproxima-se do público através da história de Ana (Judy Marte), uma jovem garota que vive na Califórnia e tenta refazer sua vida após a morte da mãe. Tendo uma relação distante, mal-resolvida e de profunda mágoa com o pai, a princípio, resta-lhe somente a convivência com o novo namorado Ben (Brian Reiger) e com sua meia-irmã Grace (Lauren Fales), no entanto, mais tarde, ela decide embarcar em uma missão de ajudar à alguém, e conhece Maria (Karen Black), uma solitária senhora com problemas psicológicos que acaba por desafiar emocionalmente Ana.
Selecionado para o Tribeca Film Festival e vencedor do HBO's New York International Latino Film Festival, ambos de 2011, o longa dirigido por Jasmine McGlade Chazelle tem características de um independente com influências cenográficas e narrativas latinas em um cenário Americano: a atriz Judy Marte tem origem Dominicana e, portanto, cria esta relação da personagem com o meio em questão; o enredo se desenvolve em um bairro da periferia da Califórnia; alguns enquadramentos fotográficos são realizados com imagens revigorantes e coloridas, de efeito solar natural e com closes em flores da região que remetem à publicidade do cartaz; alguns detalhes que compõem o roteiro incluem música hip hop e referências à street dance, comuns nos subúrbios da comunidade Latina, e coexistem no drama importantes questões familiares como os conflitos e perdas que acometem os jovens. Maria my love é um filme mais intimista e pode ser a história de qualquer pessoa comum, logo, imageticamente, o filme reflete o cotidiano dramático de uma garota latina e uma maneira mais caseira e independente de fazer Cinema nos USA, tendo como um dos pontos desfavoráveis a qualidade da fotografia, cuja textura deixa um pouco a desejar.
O ponto mais favorável é a atuação conjunta de Judy Marte, mais centrada no drama da sua personagem com a ótima participação coadjuvante de Karen Black, que vem a agregar à narrativa o início da catarse necessária à Ana. O filme se apóia mais na atuação de Judy, filmada em diferentes closes e em pequenas situações de confronto, seja consigo mesma, seja com o namorado, a meia-irmã e Maria. Claramente, a responsabilidade maior é de Judy pela atuação de protagonista, que a realiza bem e sem muitos sentimentalismos, o que é positivo e coerente, considerando que o longa tem um estilo mais Indie, e Ana está em uma fase emotiva, porém tem uma personalidade racionalmente mais orgulhosa. Por outro lado, pela maior maturidade e experiência interpretativas e in(sano) papel, Karen Black dá ao longa o sabor dramático e cômico e, em menos tempo de fita, é a melhor atuação. Seu papel é interessante pois, por trás de sua intempestuosa loucura, é a pessoa que desafia e ajuda Ana a olhar para dentro de si e buscar um recomeço.
O longa somente se torna interessante, em termos mais reflexivos para a experiência cinematográfica, quando se compreende que uma complementa a outra em determinado avance da película. Ambas são solitárias mulheres que, de diferentes maneiras e com idades distintas, não se enquadram ao mundo. Ana está passando por uma fase de introspecção, de perda familiar e de si mesma, de tentativas de entender seus sentimentos, colocar os pés no chão e conviver melhor com as pessoas à sua volta. Maria é uma mulher de personalidade e convívio mais difíceis por conta do alterado psíquico que exige compreensão, tolerância e cuidados alheios. Nesta ensolarada Primavera que contrasta com as cinzentas emoções de Ana, sua jornada pode terminar em um florescer para a vida, assim como a flor símbolo do filme, porém para que isso ocorra, há um caminho de autoconhecimento para compreender suas limitações e a dos demais, ser tolerante com os erros e saber recomeçar mesmo com as ausências afetivas.
Avaliação MaDame na Mostra
3 estrelas
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