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A Natureza do Amor (Simple comme Sylvain / The Nature of Love, 2023)

 




#Drama #ComédiaDramática #SátiraSocial #CríticaSocial #CinemaCanadense  #Relacionamentos #MulheresNaDireção #DiferençasdeClasse #Amor #Desejo #Streaming #Imovision



Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



A Natureza do Amor: A Tirania do Intelecto e a Paixão como Troféu Social

 



Sophia (Magalie Lépine-Blondeau), professora da elite intelectual de Quebec, vive um relacionamento marcado pelo tédio até que um encontro inesperado desperta nela uma paixão autêntica. Premiado com o César de Melhor Filme Internacional em 2024, A Natureza do Amor confirma a força de Monia Chokri ao expor que mesmo a elite com seu intelecto, cujas conversas em mesas com amigos são recheadas de uma intelectualidade vazia, não é feliz e nem sequer sente prazer. A diretora utiliza closes e uma mise-en-scène perspicaz para expor as neuroses desse círculo social.  




Ao expor o conflito de classes atravessado pelo desejo, o filme satiriza a elite intelectual que detém muito conhecimento e arrogância, mas demonstra pouco afeto ou prazer, vivendo engessada por costumes socialmente aceitos. Nesse contexto, a intelectualidade de Sophia serve como uma armadura frágil que a protege da própria infelicidade e da hipocrisia de seu círculo, facilmente rachada pela paixão autêntica de Sylvain. A professora experiencia um prazer que a confronta, ao se aproximar de um homem trabalhador e sem o mesmo repertório intelectual. Os dilemas povoam a mente de Sophia, dividida entre a intensidade do desejo e a dureza da realidade. A sátira é funcional justamente por sua ironia: como inserir um homem humilde em uma elite que, mesmo com seus discursos pseudo-sociais, não convive com a classe trabalhadora na intimidade? Sophia se diverte e dá vazão a um desejo considerado intenso e “sujo”, mas a grande questão é se estará preparada para exibi-lo em seus círculos sociais como um relacionamento sério.








Essa ruptura estética se traduz também nos espaços narrativos, que afastam Sophia da elite e a aproximam da natureza. Uma ida ao bar, ao bosque ou uma conversa despretensiosa no carro: esses momentos cotidianos quebram o formalismo que a aprisionava. Sylvain é, ao mesmo tempo, romântico e desbocado, e sua autenticidade rude estabelece uma química imediata com Sophia. Essa autenticidade a liberta. O filme despersonaliza o desejo de qualquer romantismo fácil ao ancorá-lo na simplicidade e na espontaneidade da natureza de Quebec, expondo a culpa e o prazer de Sophia por se render a algo que não pode ser intelectualizado. 








Mas essa liberdade inicial logo se confronta com a barreira das classes sociais. A atuação de Pierre-Yves Cardinal (Sylvain) é excepcional na forma como traduz essa tensão: seu personagem demonstra uma paixão avassaladora, carnal e intensamente dominado pelo desejo por Sophia, mas tem dificuldades em expressar emoções mais complexas. Esse contraste dramático é a chave para o dilema: ao tentar intelectualizar o amor, muito se perde. O filme expõe que a dificuldade na comunicação não é apenas da elite, que não sabe como dialogar com o amante bruto; ele também terá dificuldades de se estabelecer naquele universo intelectual e raso que o cerca, e as situações sociais desconfortáveis reforçam a percepção limitante de que ele só é bom de cama e trabalhador. A linguagem, que deveria ser a ferramenta de Sophia, torna-se a trincheira final onde a paixão do corpo não consegue sobreviver à rigidez da mente.  




A Natureza do Amor é um filme incrivelmente ácido e realista, cuja força reside em sua franqueza implacável. A obra nos força a perguntar: namoraríamos uma pessoa verdadeiramente diferente de nós? O desejo, afinal, não sustenta uma relação; é preciso cumplicidade, reciprocidade e companheirismo, algo raro nos dias atuais. A grande revelação do filme é que, para a elite, ter um parceiro intelectual ou de maior prestígio é frequentemente um troféu social. O amor deveria ser simples, autêntico e feliz, mas aqui ele se torna um filme sobre a falência dos relacionamentos intelectuais e sobre a hipocrisia da elite diante de quem é diferente. O legado de Monia Chokri é expor que o intelecto, por si só, jamais garantirá a felicidade amorosa.  




(3,5)




Imagens. Divulgação Imovision.

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Saudações cinéfilas

Cristiane Costa, MaDame Lumière

  #Drama #Família #Envelhecimento #Juventude #Amadurecimento #ComingofAge #CinemaEuropeu #CinemaItaliano #Identidade #Pertencimento#Relacion...

Verão na Sicília (Gioia Mia, 2025)

 



#Drama #Família #Envelhecimento #Juventude #Amadurecimento #ComingofAge #CinemaEuropeu #CinemaItaliano #Identidade #Pertencimento#Relacionamentos #MulheresnaDireção #FestivaldeCinemaItaliano 



Festival de Cinema Italiano no Brasil disponível no digital e nas salas de cinema selecionadas, até 29 de Novembro de 2025. Imperdível!


Acompanhe MaDame para novas críticas de filmes do Festival




Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



Verão na Sicília: O Verão Siciliano, a Raiz e o Afeto como Antídoto à Hiperconexão

 



A estreia de Margherita Spampinato na direção de longas-metragens é uma joia encontrada na programação do Festival de Cinema Italiano no Brasil. Gioia Mia é um filme, ao mesmo tempo, melancólico e solar, com a atmosfera tranquila de um verão na Sicília. A diretora estabelece uma conexão singular ao unir duas gerações: o garoto Nico (Marco Fiore), hiperconectado, e sua Tia Gela (Aurora Quattrocchi), profundamente religiosa e tradicional. O embate de opostos rapidamente cede lugar a um vínculo baseado na autenticidade e na aceitação. O filme utiliza esse contraste para despertar afetos que nascem a partir das diferenças e das raízes sicilianas, cercadas por tradições, fé e espiritualidade, aproximando as novas gerações de um mundo mais discreto, afetivo e ancestral.





É uma escolha feliz da diretora a escalação de Marco Fiore e Aurora Quattrocchi, pois suas personalidades fortes, somadas à diferença de gerações, garantem um humor autêntico e diálogos afiados, mas sinceros. A mise-en-scène é construída pelo contraste: as casas antigas da vila funcionam como museus religiosos, cercados de superstição e silêncio. A ausência de tecnologia inicialmente gera tédio em Nico, mas esse vazio acaba despertando seu amadurecimento e desejo de conexão. Por sua vez, a Tia Gela guarda segredos como em uma caixa ancestral. Essa conexão entre os dois é descontraída e genuína, tecida na rotina sensível de uma Sicília que divide seu tempo entre a lentidão dos idosos e a solaridade das brincadeiras infantis.










Esse contraste entre tradição e modernidade se aprofunda na relação entre Tia Gela e Nico, que emerge da solidão compartilhada. Ela vive na discrição de sua solitude, apenas com a companhia do cachorro, enquanto ele, apesar da pouca idade, está apegado ao celular e demonstra dificuldades de conexão pessoal. A beleza do filme está nas sutilezas que a diretora constrói em cena, aos poucos quebrando a teimosia mútua e abrindo espaço para a busca por vínculos. Sendo Nico o protagonista do coming of age, ele tem a chance de amadurecer ao deixar o celular de lado. Essa vida fora da hiperconexão virtual e próxima ao calor siciliano possibilita que Nico faça o que faz sentido: ter experiências reais e simples como brincar, fazer amigos e se apaixonar. No fundo, essa desintoxicação digital sinaliza a mensagem filosófica da cineasta: a vida cibernética não oferece os afetos reais que nascem da presença e da ancestralidade.




A relação com a família e a mística da ilha também se entrelaçam nesse processo de amadurecimento. A ausência de figuras parentais diretas é preenchida por uma rede de afetos silenciosos, onde a tradição e a fé funcionam como guias invisíveis. A ilha, com sua paisagem solar e seus rituais cotidianos, torna-se personagem viva, moldando os sentimentos e os silêncios. A espiritualidade não é imposta, mas paira como uma brisa constante, sugerindo que o sagrado pode estar na escuta, no cuidado e na permanência.




Ao final, Gioia Mia transforma esse verão siciliano em uma ponte de afetos possíveis e necessários entre as gerações, ao conectar um núcleo de mulheres fortes e idosas e crianças, priorizando a coexistência do amor, da presença e da raiz. A escolha da praia siciliana em uma das cenas centrais, um espaço de conversa, perdão, amor e companhia, consolida o diálogo intergeracional. Spampinato afirma com sutileza que precisamos mais de presença afetuosa e leve do que das conexões virtuais ilusórias. A contribuição duradoura do filme reside justamente em resgatar a identidade italiana através desses laços viscerais, provando que a lentidão da tradição, quando temperada pelo afeto, é o antídoto mais eficaz contra a velocidade vazia da modernidade.








Imagens: Divulgação, Festival de Cinema Italiano no Brasil

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  #Drama #DramaSocial #CinemaEuropeu #CinemaItaliano #Imigração #Identidade #Pertencimento #FestivaldeCinemaItaliano  Festival de Cinema Ita...

Napoli - New York (2024)

 



#Drama #DramaSocial #CinemaEuropeu #CinemaItaliano #Imigração #Identidade #Pertencimento #FestivaldeCinemaItaliano 



Festival de Cinema Italiano no Brasil disponível no digital e nas salas de cinema selecionadas, até 29 de Novembro de 2025. Imperdível!


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Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



De Nápoles a Nova York: O Trauma Pós-Guerra e a Dignidade da Travessia 

 




Gabriele Salvatores entrega um filme sensível sobre o trauma pós-guerra sob uma perspectiva infantil tocante. Após vivenciarem o luto pela perda de um familiar e do próprio lar em ruínas, a América surge como o antídoto à desilusão. O navio para Nova York impõe-se como o veículo de mudança, esperança e coragem. No início do longa, Nápoles é apresentada como uma cidade que já não acolhe mais essas crianças de rua, um cenário de desmoronamento do lar. Diante da extrema privação, o sonho americano não é apenas uma aventura, mas a única possibilidade de dignidade e recomeço. Essa busca desesperada e resiliente coincide com o drama vivido por milhares de imigrantes do pós-guerra.




A solidez da obra reside na força inquebrável da amizade entre os protagonistas. O filme é ambientado em 1949 e baseia-se num argumento não filmado de Federico Fellini e Tullio Pinelli, o que confere a Salvatores o mérito de manter um caráter metalinguístico com o cinema neorrealista italiano. Ele utiliza essa base clássica, que lembra filmes como Ladrões de Bicicleta (presente na curadoria do Festival), mas com uma estética contemporânea na fotografia, traduzindo a história em uma jornada mítica de amadurecimento. Os jovens atores Antonio Guerra (Carmine) e Anna Lucia Pierro (Agnese) entregam performances excelentes e carismáticas, personificando crianças órfãs, clandestinas e à margem da sociedade. Entre o realismo da miséria pós-guerra e o mítico da travessia, é a cumplicidade e o amor puro entre os dois que sustenta a narrativa, servindo como antídoto à extrema privação e evitando que o drama caia no melodrama.










Tendo em vista que a história em si não se apoia em subtramas complexas, o diretor mantém a autenticidade e a leveza do elenco infantil, explorando a harmonia entre as atuações e os elementos técnicos. No início, os escombros de Nápoles e a pobreza criam uma atmosfera de privação e miséria. A virada se dá na travessia. Diante da estética do sonho americano, com seus cartazes propagandistas, figurinos e o otimismo latente da cidade cosmopolita, instala-se um choque visual. A trilha sonora acompanha a transição, tornando-se mais positiva e moderna, contrastando com a solidão das crianças. Essa é uma estética engenhosa, pois passa a impressão de um sonho ou uma artificialidade, como pintar um quadro que contrasta ruínas e desenvolvimento. No entanto, isso faz parte da aura mítica do filme, um tom melancólico e irreal, já que as crianças não são efetivamente ameaçadas por grandes perigos. Salvatores faz uma escolha consciente e ética, mantendo uma estética de resiliência e esperança.




A fratura da inocência é clara na construção dos personagens, que são apresentados como crianças perspicazes e extremamente inteligentes. Carmine é o mais ousado e direto, por vezes até grosseiro, enquanto Agnese é mais reservada, mas temperada por impulsos de lições morais. O amadurecimento precoce é contornado por detalhes em cena que deixam em evidência a necessidade de crescimento acelerado. Essa parece ter sido a dura realidade de imigrantes do pós-guerra que, ao perderem o lar, precisaram reconstruir suas vidas sem perder a identidade italiana. O filme sugere que é necessário manter um certo cinismo na América. Nesse contexto, Carmine se destaca como o personagem mais maduro. Ele é o garoto esperto, com opinião formada, que saberá trilhar o caminho, mimetizando a expansividade italiana que, na essência, é do cuidar e amar os seus, mesmo em um mundo hostil.




De Nápoles a Nova York é, fundamentalmente, um filme sobre esperança e possibilidades. Ele nos lembra que, na travessia mais desafiadora da vida, só estamos verdadeiramente acompanhados por aqueles que nos apoiam e nos amam. O laço da vivência mútua entre Carmine e Agnese, somado ao apoio recebido por personagens determinados, acrescenta uma camada de empatia, coragem e revolução silenciosa. Essa é a contribuição duradoura de Salvatores. Um filme histórico e saudosista que nos faz pensar que o verdadeiro valor da jornada não reside na utopia da chegada, mas sim na identidade e no pertencimento que construímos. Mesmo em uma nova configuração social, esses são os alicerces das nossas escolhas e de nosso futuro.











Imagens: Festival de Cinema Italiano do Brasil. Divulgação, via assessoria Sinny

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