Por Cristiane Costa, Editora e crítica de Cinema, especialista em Comunicação
Quando as férias chegam ao fim, a bagagem de experiências e aprendizado são uma das mais essenciais memórias para enfrentar os dias que virão. Momentos de paixão, de amor, de amizade, de alegria, de liberdade, de decepção e tantos outros se acumulam nas histórias e trazem esse amadurecimento vital. E quando se é jovem, esse repertório de experiências, com seus dilemas, frustrações e conquistas, é o que fará a diferença no enfrentamento cotidiano. É o acontece no novo filme de Diastème, músico e escritor francês, que apresenta a jornada e dilemas de duas irmãs adolescentes durante as férias.
Laura (Luna Lou) e Joséphine (Alma Jodorowksy), respectivamente, 14 e 18 anos, são filhas de pais divorciados e vivenciam diferentes momentos de sua juventude. Laura é a de forte personalidade. Entre a puberdade e a adolescência, ela está desabrochando sua beleza e desejo e lidando com acessos de raiva e rebeldia. Também luta pela apropriação de suas próprias ideias, desenvolvendo sua identidade como mulher, ainda que tenha atitudes muito pueris. Joséphine é a delicada, que guarda uma certa ingenuidade misturada com curiosidade e sensualidade. Naturalmente bela e misteriosa como as musas francesas, ela está no auge do termo "menina-mulher", o que a leva a ceder ao desejo, à paixão de verão e a aventuras arriscadas. Na casa de cada pai, lidam com situações comuns como as dificuldades financeiras da família, gravidez da mãe, más companhias, infrações, ciumes etc.
Na intencionalidade do diretor, "Julho Agosto" entrega o que promete: "Eu queria evocar a adolescência, desde o momento em que a criança vira um adolescente até quando o adolescente vira um adulto. Eu também queria falar sobre família, concentrar em relacionamentos românticos, capturar ternura entre personagens, trabalhar em algo doce e gentil, cercar-me de personagens que realmente amo."
De fato, ele entrega sua promessa, mesmo quando os roteiristas Diastème e Camille Pouzol se arriscam a incluir um evento criminal, que desanda a harmonia e fluidez da narrativa. Esse conflito derivado de um crime não chega a alterar a delicadeza da história porque é uma infração tratada com certo humor e non sense, com um toque de humor francês que naturaliza coisas que são sérias. Ele gera estranhamento, mas o foco continua sendo a adolescência e o desabrochar entre a fase criança/ adolescente e entre a fase adolescente/adulta. O evento também é aceitável sob o ponto de vista de trazer respaldo ao conflito enfrentado por Josephine.
Concebido como uma comédia dramática com uma perspectiva feminina, o diretor realiza um filme despretensioso e delicado que seguramente ajuda a compreender o universo destas irmãs. Com a direção de fotografia de Pierrre Milon (de "Entre os muros da escola" e "As neves de Kilimanjaro"), o naturalismo em cena torna o drama mais cotidiano, vívido. Aproxima o público no seio familiar destas jovens, inserindo-no até mesmo nos conflitos emocionais dos pais como uma gravidez surpresa e um homem maduro que tem medo de uma segunda chance no amor. Com a competência de Milon, esse naturalismo em cena deixa o filme leve, mas também dramaticamente compreensível, capaz de criar empatia e aproximação.
Apesar de terem diferença de 4 anos de idade e distintos florescimentos de suas feminilidades, Laura e Joséphine se apoiam mutuamente e têm uma boa confiança que coopera para alicerçar essa família dividida e cheia de problemas. Quando o roteiro se volta a retratar esses ritos de amadurecimento, ele ganha em dramaturgia pois expressa a dor e a delícia de amar, dar e receber afeto, desfrutar a vida, mas também chorar, se decepcionar e dizer adeus a pessoas que amamos e aos ciclos da vida. Nesse aspecto, vivenciar as férias com os pais torna-se o microcosmo de algo muito maior, que é propriamente a vida, o valor da família e do afeto. Por isso, os últimos planos do filme são tão bonitos e virtuosos para reverberar o significado desta história.
Ficha técnica do filme IMDB Julho -Agosto
Fotos e citação do diretor, uma cortesia CineArt filmes




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Cristiane Costa, MaDame Lumière