Por Cristiane Costa, Editora e crítica de Cinema, especialista em Comunicação
Há quem diga que um casamento não sobrevive à falta de dinheiro. Faz sentido. Independente do idealismo romântico, do amor e da confiança, problemas financeiros costumam desgastar a vida de um casal e exigir um alto nível de cumplicidade, paciência e jogo de cintura. Por outro lado, essa mesma falta de dinheiro pode surpreender os amantes, amadurecendo a relação com o fortalecimento conjugal em tempos sombrios. Em "A economia do amor", o realizador belga Joachim Lafosse mostra um outro lado do problema financeiro em um casamento destruído: o conflito pós divórcio na hora de compartilhar os bens.
Protagonizado por Bérénice Bejo e Cédrik Kahn, o longa conta a história de Marie e Boris, pais de gêmeas, recém separados e vivem sob o mesmo teto. Ela comprou a casa, porém ele pagou pela reforma e valorizou o imóvel. Não concordam com a partilha da casa por divergências financeiras. Vivenciam um cotidiano caótico em uma opressora batalha no lar. Desavenças, magoas e diferenças são colocadas como uma arma afiada constantemente pronta para ferir, humilhar. Não abrem mão do orgulho, não dão espaço ao diálogo. Neste núcleo familiar claustrofóbico e em ruínas, o conflito é angustiante para eles e para a plateia.
Lafosse opta por levar ao máximo o conflito do ex-casal a ponto de oprimir a quem assiste ao filme e mostrar o quão desgastante e doloroso é estar em uma relação que já é insuportável, porém, ele não entrega uma dramaturgia complexa e sofisticada em diálogos e situações em geral como conflitos entre casal em longas como "Meu Rei" (de Maïwenn). Lafosse dirige as cenas com mais embate verbal, imediatismo e explosão das emoções, desta forma, o espectador vê um casal barulhento que, em muitas situações, age de forma mimada e pouco adulta.
Essa mise en scène sufocante se complementa com a caracterização dura, inflexível dos personagens, principalmente de Bérénice Bejo, que incorporou a mulher que não ama mais o marido. Sua postura rígida e tensa se torna uma faca de dois gumes na sua performance. Por Marie ser uma personagem tão reativa, profundamente incomodada, sua atuação é endurecida. Esta rigidez não a deixa natural, não a relaxa. Por outro lado, Cédric Kahn é menos rígido na atuação. Consegue demonstrar mais suas dificuldades de estabelecer diálogos e rapport, a posição do homem que se sente humilhado (inclusive, financeiramente) e as falhas como pai e marido.
"A economia do amor" é um recorte muito específico do diretor para estressar o pouco que sobrou desse amor, então vale a pena ser visto mesmo sendo angustiante e ruidoso de várias formas. Como Cinema, sua melhor virtude está em mostrar a incomunicabilidade de muitos separados e divorciados e como é desafiador por um fim na relação e preservar algum respeito, afeto. Mesmo em meio a tantas brigas e verborragia entre Marie e Boris, eles não se comunicam. As palavras machucam e pouco acrescentam e ajudam na convivência. É este o aprendizado maior : A economia não é sobre dinheiro, o valor da casa e dos demais bens, estamos diante de um filme que fala muito mais sobre a economia do amor após 15 anos de casados.
E o que resta após uma separação? Mais débitos ou créditos?
Ficha técnica do filme Imdb A economia do amor
Fotos: uma cortesia Imovision



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