Stephen Frears é um ótimo cineasta britânico. Não tem como duvidar de sua virtuosa capacidade de ser prático e versátil ao filmar bons roteiros com excelentes atrizes, tanto no drama como na comédia. Em seu currículo, dirigiu Glenn Close e Michelle Pfeiffer em Ligações Perigosas, Audrey Tautou em Coisas belas e sujas, Helen Mirren em A Rainha, entre outras. No seu mais recente longa Philomena, ele nos entrega mais um exemplar de seu excelente trabalho ao dirigir uma das mulheres mais apaixonantes da Inglaterra: a magnífica Judi Dench, que interpreta Philomena, uma senhora que busca o filho perdido que lhe foi tirado há 50 anos. Para essa jornada, ela conhece o jornalista Martin Sixsmith (Steve Coogan). Considerada uma comédia dramática, o filme concorre a 4 categorias ao Oscar (melhor filme, atriz (Judi), roteiro adaptado e trilha sonora (Alexandre Desplat)) e venceu o BAFTA de melhor roteiro adaptado.
Baseado em uma história real, Philomena é um filme singelo e igualmente poderoso. Nisso está um dos seus charmes: a capacidade de falar de uma história triste sem perder o senso de humor tipicamente britânico e a oportunidade de mostrar o moralismo religioso e social. Stephen Frears o dirige com toda a sutilidade que lhe é própria, porém não deixa de escancarar o quanto a sociedade é cruel nos interesses de algumas instituições como a igreja e a mídia. Embora não é o objetivo do roteiro e da direção pegar tão pesado ao falar das instituições, principalmente da igreja católica, é possível perceber como os costumes e formas de pensar rígidas influenciaram diretamente a forma como Philomena perde o filho, a carga de pecado que ela carrega e que a silenciou por 50 anos e como ela foi punida pela rigidez de uma instituição. Sobre a mídia e a política, as menções são realizadas brevemente como, por exemplo, o interesse mais 'comercial' de uma editora na publicação da história de Philomena e o fato de um homossexual que trabalha para o partido republicano não poder divulgar abertamente sua orientação sexual. Essa forma de abordar a história com humor e drama e com um tipo de denúncia social é muito bem realizada por Stephen Frears. Ele usa seu dom de contar histórias com requinte e humanidade. Mais ao final do filme, é possível ver que tal escolha é tão elegante e permeia a história através da conduta da personagem. Philomena daria uma lição de vida até a um Santo.
Steve Coogan é um bom ator. Seu personagem, um jornalista com experiência em jornalismo político e com o desejo de escrever um livro sobre a História da Rússia, tem um perfil interessante para o contexto da história porque ele interpreta um homem mais racional e ferido em seu orgulho e autoestima após ser despedido da BBC . À primeira vista, ele não deseja fazer nenhuma história de "interesse humano", chegando a ser grosseiro. Como boa parte dos jornalistas, ele é mais objetivo, focado em fazer perguntas e obter a matéria, porém com o tempo, é daqueles que ligeiramente se transformam em uma pessoa mais humanizada. Com Judi Dench, ele faz uma excelente dupla porque cada um tem o seu brilho próprio. Ele não se intimida mediante o grandioso talento da atriz e faz a sua parte e, o melhor, Judi é uma dama tão refinada e solidária que não ofusca Steve, que é também o produtor e o roteirista do filme.
O que torna o longa imperdível é a atuação de Judi Dench e como ela representa a Philomena, revelando a esperança, a dor, a culpa e as dúvidas que uma mãe teria nessa situação. Uma história, aparentemente dramática para uma mãe castigada pela ausência do filho , é muito bem humorada porque ela dá esse tom e suaviza as cenas com uma sublime simpatia. O humor de Judi é refinado e com um carisma incrível, abrindo caminho para que haja uma empatia com sua personagem e dor materna. Ela faz rir e faz chorar e nada disso se torna um dramalhão pesado. O domínio próprio dela para equilibrar tais emoções é uma habilidade somente das grandes estrelas do Cinema. O humor britânico é mais sarcástico, porém em Philomena, ele é muito bem dosado. Ele é leve e agradável porque Judi tem muita maturidade como atriz, mantém a elegância e a simplicidade, o que só ressalta como ela é uma legítima dama, dentro e fora do set. Não há como não adorá-la e, portanto, a conexão com a história de Philomena é imediata e emocionante.
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